ECONOMIA
Taxa Selic: veja os impactos em financiamentos imobiliários e poupanças
Taxa sofreu novo aumento e voltou aos dois dígitos. Reajuste tem influência sob todas as taxas do país e está envolvida em todos os investimentos.
Publicado em 04/02/2022 às 11:09 | Atualizado em 04/02/2022 às 14:06
A taxa Selic sofreu alta nesta quarta-feira (2), saindo do marco de 9,25% ao ano para 10,75% ao ano. Apesar de estar dentro do esperado pelo mercado, é a primeira vez, em quatro anos e meio, que a taxa básica de juros chega ao patamar de dois dígitos. A decisão foi divulgada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
A taxa Selic tem influência sob todas as taxas do país e está envolvida em todos os investimentos, até mesmo em cobranças de empréstimos e financiamentos.
Com a nova alta, o Brasil passa a ter a maior taxa mundial de juros reais, quando se desconta a perda pela inflação, conforme o ranking da Infinity Asset Management.
De acordo com o economista Nelson Rosas, a nova alta da Selic provocará alterações em todos os títulos relacionados a ela, como o caso do tesouro direto do Governo Federal, que são indexados diretamente a taxa que aumentou esta semana. Além disso, o Certificado de Depósito Bancário (CDB) e as letras de câmbio da indústria e da agricultura também sofrem impactos, com rendimentos sendo elevados.
O especialista explicou que, para saber se as aplicações serão alteradas diante da alta da Selic é importante consultar se tal aplicação está indexada a taxa, que são os títulos chamados de renda fixa.
Como a Selic influencia na compra de imóveis?
O economista Cássio de Nóbrega explica que a taxa Selic tem uma relação direta com as demais taxas, como o financiamento imobiliário. Portanto, quando a taxa aumenta, outras taxas de juros também sofrem alteração. No caso do financiamento de imóveis, aumenta não apenas o valor da entrada, mas também o valor da parcela a ser paga.
Diferente do rotativo do cartão de crédito, a taxa Selic é colada nas taxas de crédito imobiliário, causando um déficit de contratação por parte das famílias com renda baixa.
Além disso, um outro aumento recente é o do Índice Nacional de Custo de Construção (INCC), que sofreu acréscimo de 0,64% em janeiro deste ano. Essa alta também elevou o preço dos imóveis e afastou a população economicamente desfavorecida da compra.
Influência no rendimento da poupança
Sobre a poupança, desde o final do ano passado, quando a Selic ultrapassou o percentual de 8,50% ao ano, a rentabilidade voltou à regra antiga, deixando de pagar 70% da taxa básica de juros e passando a ter rendimento fixo de 0,5% ao mês + taxa referencial (TR), ou 6,17% ao ano + TR, o mesmo valor que já era pago para a chamada "poupança velha" (depósitos feitos até abril de 2012). Desde modo, os investimentos na poupança não sofreram alterações diante deste aumento atual da Selic.
"Todos nós conhecemos alguém que tem dinheiro na poupança, mas deixar dinheiro na poupança hoje significa perder dinheiro, porque quando retira o efeito da inflação, acaba perdendo dinheiro", explica o economista.
A regra vigente está deste modo:
- Selic de até 8,5%: rendimento limitado a 70% da Selic + TR para novos depósitos e rendimento de 0,5% ao mês + TR (6,17% ao ano + TR) para depósitos feitos até 2012
- Selic maior que 8,5%: rendimento fixo de 0,5% ao mês + TR, ou 6,17% ao ano + TR, para depósitos novos e antigos - independente da taxa de juros que estiver em vigor
A taxa referencial estava zerada desde 2017. Agora, no início de 2022, ela voltou a subir e passou a ser atualizada diariamente pelo Banco Central.
Confira algumas simulações para depósitos na poupança num prazo de 12 meses, desde que haja a manutenção da Selic no patamar de 10,75% ao ano.
- Aplicação de R$ 1.000: rendimento de R$ 66,80 em 12 meses, totalizando R$ 1.066,80;
- Aplicação de R$ 2.000: rendimento de R$ 133,60 em 12 meses, totalizando R$ 2.133,60;
- Aplicação de R$ 10.000: rendimento de R$ 668,00 em 12 meses, totalizando R$ 10.668,00.
Uma outra consequência, essa bastante imediata, do aumento da Selic é alta do dólar. Nesta quinta (3), às 14h54, a moeda norte-americana subiu 0,43%, cotada a R$ 5,2983. Nelson Rosas explica que o aumento desta moeda afeta toda sociedade.
"Há uma série de produtos que tem preços dolarizados, todos os itens classificados como commodities, com ampla exportação, serão impactados pela alta do dólar", atesta o economista. Entre as commodities estão café, soja, milho, trigo, cana-de-açúcar, entre outros. Além disso, as importações também são pagas com dólar. Desse modo, todo produto importado pode sofrer elevação. Entre os principais estão os derivados do petróleo, devido a negociação do combustível fóssei ser feita a partir do mercado internacional. Alta do dólar é sinônimo de desvalorização do real, isso implica em aumento generalizado.
Sobre a taxa Selic
Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia, um programa virtual em que os títulos do Tesouro Nacional são comprados e vendidos diariamente por instituições financeiras.
A projeção do mercado para a inflação de 2022 está atualmente em 5,38%, a perspectiva aumenta a atratividade do Brasil para o investidor estrangeiro. No entanto, para o cidadão braileiro, o sintoma é um encarecimento do crédito, afetando o consumo da população e os investimentos produtivos. Isso impacta negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda.
A reunião do Copom para definição da taxa Selic acontece a cada 45 dias. No comunicado desta semana, o órgão divulgou que, após a decisão atual, a intenção é reduzir o ritmo de aperto na reunião seguinte.
A projeção do ABC Brasil, por exemplo, é de que a Selic encerrará o ciclo a 12,25% em maio.
Comentários