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ECONOMIA

Insatisfação gera rotatividade em empresas de 'call center' na Paraíba

De baixo salário pago ao ambiente estressante de trabalho, ampla oferta de vagas das empresas no Sine é cada vez mais constante.

Publicado em 12/01/2015 às 10:00 | Atualizado em 29/02/2024 às 10:35

A chegada de empresas de call center em João Pessoa e Campina Grande tem sido para muitos jovens a concretização do sonho do primeiro emprego. Mas ao desempenhar as funções e metas exigidas pelos gestores das empresas, não demora muito para o jovem empregado perceber que a atividade pode se tornar um pesadelo que reúne um misto de estresse excessivo, ambiente de trabalho inadequado e descumprimento da legislação trabalhista.

Quem passou pela experiência garante que não quer voltar.

A má qualidade de trabalho é citada por quem já atuou neste segmento e pela classe sindical. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações da Paraíba (Sinttel-PB), Wallace de Oliveira, revela que as empresas desta área apresentam basicamente problemas comuns. O resultado da insatisfação dos empregados provoca a forte rotatividade de vagas, já que a maior parte das pessoas não consegue se firmar por um longo tempo na função.

É comum observar a fartura na disponibilidade de vagas de trabalho nas duas principais empresas de call center que atuam neste segmento na Paraíba: AeC e a Contax. Somente na primeira semana de janeiro, o Sine Paraíba ofereceu um total de 1.700 vagas, sendo 1.000 somente para call center. “E estas vagas não vão acabar, porque a todo momento tem gente entrando e saindo destas empresas. Há funcionário que não se adapta ao ritmo do trabalho e sai, assim como existem outros que permanecem na empresa desde o início. Mas sempre estamos divulgando postos de trabalho para call center”, afirmou Rita Rocha, articuladora empresarial do Sine-PB.

Segundo o coordenador geral do Sinttel-PB, Wallace de Oliveira, o grande contingente de funcionários das unidades de call center são jovens, com idade entre 18 anos e 30 anos.

“Porque os jovens são mais seduzidos pela promessa de um emprego que tem uma carga horária de 6 horas e 20 minutos diárias, que não exige experiência anterior e tem salário mínimo garantido. Mas muita gente só consegue ficar na função apenas 90 dias por causa dos problemas existentes. Por isso é comum a cada três meses o mercado abrir 1.000 vagas para call center e depois demitir mais 1.000”, assegura Wallace de Oliveira.

Para Darly Poliana Belarmino de Moura, 20 anos, o contrato do seu primeiro emprego, na AeC de João Pessoa no ano de 2012 permaneceu por apenas um mês. “Na época tinha 18 anos.

Quando fui selecionada comemorei, liguei para meus amigos contando a novidade. Trabalhava cerca de seis horas por dia, com um total de pausas de 40 minutos para lanche e descanso. Mas quando comecei a trabalhar não foi o que eu esperava”.

Darly Poliana revela que ficou duas semanas sem receber o dinheiro do transporte prometido pela empresa, então teve que pagar a ida ao trabalho do próprio bolso. Ela exercia a função de atendente (telemarketing) e ressalta que sofria fortes cobranças.

“A pressão foi grande, tanto dos clientes que atendemos quanto dos gestores. Fiquei muito tensa e pedi demissão”.

Com o salário mínimo que recebia, Darly planejava concluir o Ensino Médio e depois pagar a faculdade. No entanto, a experiência na área de telemarketing ficou marcada como um ponto negativo na vida da jovem, que atualmente está passando por novas entrevistas de emprego. “Não quero voltar para call center”.

A história da estudante de Administração Emmily Ferreira de França, 20 anos, também não foi muito diferente. Ela foi admitida em um call center em João Pessoa em 2013 desempenhando a função de atendente, mas só permaneceu na atividade durante seis meses. Neste período ela teve um agravamento de um problema de visão porque ficava muito tempo no computador.

“Fiquei pouco tempo lá porque é muito estresse diariamente. Depois de 3 meses fui promovida a monitora de qualidade e só ganhava R$ 20,00 a mais. Nessa função a gente tem que acompanhar o trabalho de 80 pessoas por dia, para saber se elas estão atendendo bem os clientes, conforme as regras da empresa. Mas nem eu como muitos colegas conseguiam atingir as metas, pois eram muito altas”, revela.

Sindicato lista problemas

Doenças do trabalho, baixa remuneração, metas inalcançáveis, alimentação de má qualidade e descumprimento da legislação trabalhista. Esses são alguns problemas existentes nas empresas de call center da Paraíba listados pelo coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações da Paraíba (Sinttel-PB), Wallace de Oliveira.

Segundo ele, nas fiscalizações realizadas nas empresas foram vistas falhas que vão desde a falta de higienização dos headsets (fones de ouvidos presos à cabeça para atendimentos de clientes via telefônica) até alimentação de má qualidade recolhida pela Vigilância Sanitária de João Pessoa. Os produtos seriam distribuídos como lanches aos empregados.

“No ano passado, 30 quilos de alimentos foram recolhidos de um call center por estarem fora das normas sanitárias. O lanche dos empregados é de péssima qualidade, são biscoitos e até amendoim. A falta de higienização correta dos readsets causavam infecção de ouvido nos empregados”, destacou Wallace de Oliveira, acrescentando que as vistorias nestes locais já resultaram em ações ajuizadas no Ministério Público do Trabalho.

Para Wallace de Oliveira, esses grandes grupos de empresários que vêm do Centro Sul do país e se instalam no Nordeste só visam o lucro e mão de obra barata, já que pagam o salário mínimo. Para ele, uma das lutas da categoria é fixar um salário base de R$ 2.850,00. “Eles vêm para cá tirar bom proveito no Nordeste”, alerta.

Emprego já é rejeitado em Cammpina Grande

A procura por trabalho no mercado de call center em Campina Grande, primeira cidade do Estado a receber o segmento, segue na contramão da oferta de vagas. Segundo o Sine Municipal, em 2014, foram oferecidas mais de 2.500 vagas para atuação na área, chegando a cerca de 100 por dia, mas apenas 84% dos postos foram preenchidos no período, uma tendência que permanece nesses primeiros dias de 2015. Os critérios para empregabilidade na área são baixos, mas as vantagens parecem não atrair muitos trabalhadores.
Campina Grande conta com duas empresas de call center instaladas na cidade. Elas empregam, juntas, cerca de 8.500 trabalhadores. Também acumulam não só vagas disponíveis, mas críticas de ex-funcionários e colaboradores ainda ativos, acerca dos baixos salários, do alto nível de exigência e da pressão por produtividade.

No caso da secretária Jéssica Lira (fictício), a experiência em uma empresa de call center da cidade lhe rendeu, além de danos morais, um problema psicológico. Jéssica foi diagnosticada com Síndrome do Pânico, um ano depois de começar a trabalhar na área. Ela afirma que o estresse extremo foi o que motivou o aparecimento da doença.

“Eu trabalhava com uma pressão muito grande para cumprir metas. Como tempo médio de atendimento, horário de ir ao banheiro, tudo muito controlado, isso sem falar na pressão dos clientes, que muitas vezes exigiam a resolução de problemas que não dependiam de nós. Tudo isso foi se acumulando, até que não aguentei mais”, desabafa.
Já a estudante Juliana Sousa, de 25 anos, que está desempregada há mais de 1 ano, afirma que não se interessa pelas vagas ofertadas na área porque ouve muitos relatos negativos de quem trabalha ou já trabalhou no segmento. “De forma alguma eu quero trabalhar com isso. É um lugar que você não tem paz, que seu trabalho não é reconhecido. Uma escravidão camuflada. Tenho amigas que trabalham em call center somente porque não têm outra opção. Eu ainda prefiro procurar outro tipo de trabalho a perder minha paz". (Andrea Xavier)

Ministério Público do Trabalho investiga denúncias de call center
O procurador do Ministério Público do Trabalho na Paraíba, Eduardo Varandas, afirmou que já existem várias denúncias de práticas abusivas nos call centers da Paraíba e todas estão sendo apuradas pelo órgão. Para se ter ideia, algumas delas tratam da não aceitação do atestado médico em caso de falta do trabalhador. Na lista das falhas legais ainda estão o não cumprimento das cotas para portadores de necessidades especiais e assédio moral. “Os funcionários que se sentirem lesados podem, inclusive de forma anônima, fazer a denúncia ao Ministério Público do Trabalho.

Dependendo da conclusão das investigações, as empresas podem sofrer multa administrativa e condenação na Justiça do Trabalho. Se houver crime contra a organização do trabalho, elas podem sofrer sanções penais”, enfoca Varandas.

O procurador do Trabalho revelou ainda que entre as acusações às empresas está o fato do empregado ter que seguir horários para ir ao banheiro. “Acho que o mais grave nestas empresas é o assédio moral e a situação de hostilidade dentro do ambiente de trabalho. Porque o empregador não pode determinar, por exemplo, a hora em que o empregado deve ir ao toalete”.


Empresas dizem que cumprem leis
As empresas de call center não quiseram conceder entrevistas com diretores, mas enviar notas via assessoria de imprensa e tratar dos problemas de forma genérica. A empresa AeC informa em nota que "tem plena consciência do papel social que desempenha nas cidades onde está instalada, contribuindo para a formação de mão de obra, bem como pelo desenvolvimento regional".

Em nota ainda, a empresa reafirma que segue "uma política de RH transparente e avançada, que valoriza atributos essenciais para o dia a dia das operações, como postura e desempenho". A AeC diz que segue "as determinações do acordo coletivo firmado com o sindicato dos empregados do setor. Com relação aos lanches e espaços para alimentação, a empresa diz que cumpre com todas as normas definidas pela Vigilância Sanitária. Todos os funcionários da AeC fazem os exames médicos admissionais e demissionais, de acordo com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), sendo que os equipamentos de uso dos atendentes são individuais".

Conforme a nota, a AeC aponta que tem como preceito "o respeito aos 30 mil funcionários que trabalham em várias partes do país e respeita todas as regulamentações aplicáveis à sua atividade, sem desrespeitar os direitos do trabalhador". A empresa reitera ainda o comprometimento com as leis trabalhistas vigentes no país e com as melhores condições de trabalho de suas unidades.

Já o grupo Contax informa, também, por meio de nota, ser líder em gestão de relacionamento com o consumidor na América Latina. O grupo comunica que a unidade João Pessoa está em fase final de obras e já iniciou a contratação de pessoal, visando o treinamento dos profissionais. A inauguração está prevista para o primeiro trimestre deste ano e irá gerar três mil empregos formais no município até o final deste ano. O Grupo Contax reforça o compromisso rigoroso de cumprir as orientações do Código de Ética e Autorregulação.

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Jornal da Paraíba

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