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ECONOMIA

Investimento em educação tem relação direta com sucesso profissional

Há pouco ou nenhum estudo no Brasil sobre a relação entre estudar e ter sucesso profissional, mas os especialistas em RH são unânimes em referendar que formação é tudo na carreira.

Publicado em 05/11/2014 às 10:12


Começo de 1999. Marcílio Carlos era só mais um menino pobre, morador da periferia e cheio de vontade de mudar o mundo, começando por ajudar os pais nas despesas da casa. Na frente da sua casa, no Valentina Figueiredo, bairro da periferia de João Pessoa, morava Carlos José de Oliveira, instrutor do Senai. Todos os dias, Marcílio, que era aluno da 8ª série da Fundação Bradesco, via Carlos sair para o trabalho. Um dia, por curiosidade, quis saber sobre o trabalho do vizinho e bateu na porta dele. Carlos abriu não só a porta de casa, mas um mundo de possibilidades. A chave? Estudar para aprender uma profissão. "Depois disso, nunca mais fiquei desempregado", destaca o hoje proprietário da Chronus Automação e Controle Industrial, empresa referência no ramo em que atua e que tem clientes em todos os estados do Brasil.

Do Valentina até o apartamento na praia de Cabo Branco, onde mora hoje, foram quatro cursos profissionalizantes; uma participação na Olimpiadas do Conhecimento que lhe renderam o primeiro lugar na etapa estadual e o quarto lugar em âmbito nacional; um estágio em uma grande empresa de cerveja onde foi menor aprendiz e empregado com carteira assinada; um período como instrutor do Senai; um curso superior em automação industrial no Instituto Federal de Educação da Paraíba (IFPB); um outro emprego; muitos circuitos, fios e dijuntores e, finalmente, a grande ideia de montar seu próprio negócio. E não parou por aqui, hoje, o empresário Marcílio com sua sede sem fim de conhecimento e aprimoramento voltou para a sala de aula onde é aluno do curso de engenharia elétrica do IFPB.

Marcílio é um exemplo claro de que iMarcílio Carlos é hoje dono do próprio negócionvestimento educacional direcionado é uma porta larga para um futuro profissional promissor. Há pouco ou nenhum estudo no Brasil sobre a relação entre estudar e ter sucesso profissional, mas os especialistas em recursos humanos são unânimes em referendar o que gente como Marcílio já vive na prática. "Formação é tudo na carreira de alguém", afirma o diretor de educação da Associação Brasileira de Recursos Humanos, Luiz Edmundo Rosa.

"Saimos do ciclo industrial, a primeira geração, e estamos vivendo uma época em que o capital chama-se conhecimento, inteligência. Hoje as pessoas menos qualificadas têm menos 'valor' do que as que estudam e investem na carreira. Se você não se qualifica, não consegue emprego, isso é fato", resume Rosa.

Essa mudança nos padrões de seleção a que se refere Rosa, está diretamente ligada à chegada da tecnologia no mundo do trabalho e inversamente proporcional ao nível de formação dos brasileiros. De acordo com o Ministério de Educação e Cultura (MEC), em 2013 o país formou menos de um milhão de pessoas no ensino superior. Isso significa algo em torno de 0,5% da população brasileira. "Isso é muito pouco", avalia Rosa. Há ainda um outro agravante. De acordo com o Instituto Paulo Montenegro, organização sem fins lucrativos, vinculada ao IBOPE, 38% dos formados no ensino superior são analfabetos funcionais.

"Diante dessa realidade,sobe a exigência sobre a qualificação e aumenta também a remuneração, porque o Brasil não tem tanta gente qualificada para responder ao desafio da tecnologia", sentencia Rosa. Isso, segundo a ABRH exige que as empresas vão ter que criar estratégias de formação de gente e profissionais para responder às exigências do mercado de trabalho.

Não há estudos no Brasil sobre a relação investimento em carreira e sucesso profissional. Estudos da Universidade de Georgetown (EUA), realizada em 2011, confirmam que quem tem um curso superior nos Estados Unidos ganha 20% a mais no salário do que os que têm somente ensino médio. Na Nova Zelândia, o aporte é de 100%. Na avaliação da ABRH, a realidade do Brasil está mais próxima da Nova Zelândia do que dos EUA.

"O mercado global apresenta uma necessidade de melhores profissionais e melhores formações, e para potencializar o jovem talento é necessário que a empresa obtenha vantagem competitiva a partir da maneira como ela administra seus recursos humanos, no sentido de provê-los de instrumentos favoráveis ao desenvolvimento profissional", diz a presidente da ABRH PB, Maria da Penha Silva dos Santos.

Saída é investir em formação técnica profissionalizante

Outra alternativa de saída para esse vácuo educacional/profissional é a formação técnica profissionalizante. Segundo a ABRH, investir em um bom curso técnico rende em torno de 20% a 30% de acréscimo no salário. No Brasil, uma referência são os cursos do Sistema S, onde muitos estudantes já saem direto para o mercado de trabalho.

Na Paraíba, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai PB) atende as demandas da indústria através dos mais de 100 cursos em 26 áreas tecnológicas nas diversas modalidades de formação profissional, através do EAD (ensino de educação à distância) e presencial dentre aperfeiçoamento, qualificação, habilitação, treinamento de curta duração (entre 40 e 160h), aprendizagem e técnico de nível médio e tecnólogos de nível superior (entre 400 e 1.200h) média de 03 semestres, disponibilizados nos três turnos nas unidades fixas.

Em 2013, o número de matrículas na Paraíba alcançou mais de 80 mil e a meta para 2014 é de 107 mil. Até junho deste ano mais de 60 municípios foram atendidos em cursos de nível médio e técnico para jovens, principalmente, na área de alimentos, artes gráficas calçados, construção civil, eletroeletrônica, metalmecânica, panificação, têxtil, vestuário, dentre outras.

Atualmente o SENAI PB está em processo de credenciamento, avaliações in loco e autorização do MEC para a Faculdade SENAI em João Pessoa do curso superior de tecnologia em automação industrial e na implantação do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção para atender as demandas de qualificação profissional e soluções tecnológicas e inovadoras do setor.

Números preocupantes

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), quase 58 milhões de brasileiros não concluíram o ensino fundamental. O dado é ratificado pelos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): o ensino fundamental teve uma queda de 15% no número de matriculados entre 2002 (35.150 matriculados) e 2012 (29.702 matriculados). O curioso disso é que nesse meio tempo a população cresceu em 25 milhões de habitantes.

Os dados são preocupantes em uma perspectiva de futuro. Onde buscar profissionais qualificados diante desses números? "Estive participando de um Congresso Mundial de Recursos Humanos nesses dias e o que mais me chamou atenção foi a empregabilidade dos jovens nos diferentes Países. O desemprego dos jovens se deve ao fato dos mesmos terminarem os estudos despreparados para o mercado de trabalho", destaca a presidente da ABRH-PB, Maria da Penha Silva dos Santos .

Cai o número de matriculados no ensino fundamental e consequentemente decresce a quantidade dos que ingressam no ensino médio. De acordo com o IBGE, em 2002 eram 8.719 matriculados, enquanto em 2012 foram contabilizados 8.376 em sala de aula."A população cresce e cai o número de matriculados no Ensino Fundamental, significa que quem termina o ensino médio é valorizado", destaca Rosa. Enquanto cai o nível de escolaridade, no mundo das empresas, a competitividade avança de forma exponencial.

Baixa escolaridade significa queda na produtividade

Dados divulgados este ano pelo Conference Board, principal instituto de pesquisas sobre produtividade do mundo, afirmam que o indicador de produtividade do Brasil recuou 0,9% em 2013 e está bem abaixo da média dos países emergentes, que tiveram média de 4,1% no ano passado.

A causa, segundo a ABRH, tem relação direta com o nível de escolaridade dos trabalhadores. Escolaridade baixa perde o trabalhador, perde a empresa e perde o país.

Levantamento do IMD business school, a escola de negócios da Suíça que atua em parceria com a Fundação Dom Cabral aqui no Brasil, lista que entre as 60 maiores economias do mundo, o Brasil ocupou em 2014, a 54ª posição. Nos últimos cinco anos, foram perdidas 16 posições no quesito competitividade. Um dos fatores desta queda é a produtividade e produtividade está diretamente ligada a investimento em educação.

De acordo com o Fórum Econômico Mundial, que desenvolve estudos em 148 países, a competitividade depende fortemente de dois fatores: educação básica e educação superior e técnica. De acordo com esse estudo, em se tratando de qualidade do sistema educacional, o Brasil ocupa a posição 121°. Quando se trata de ensino de matemática e ciências, tão importantes para as profissões modernas e tecnológicas, a posição é 136°. Esses dados puxam o índice de competitividade para baixo. Hoje o Brasil está na posição 36°.

A solução? "Tá fácil, o dever de casa é investir em educação, investir em profissionalização, fazer coisas que façam a diferença na vida das pessoas. O mais importante é melhorar a educação básica do Brasil, esse é o nosso caminho", finaliza Rosa.

fotos: Rizemberg Felipe e Kleide Teixeira, nessa ordem.

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Jornal da Paraíba

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