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ESPORTES

Fininho nas ondas da vida

A história de um ex-menino de rua de Intermares que chega à Seleção brasileira de surfe para repetir o sucesso de Fábio Gouveia.

Publicado em 31/03/2013 às 12:25


Em 1988 um paraibano surpreendeu o mundo e colocou o Brasil na rota do surfe mundial. Desacreditado até mesmo em seu país, que depositava todas as fichas no catarinense Teco Padaratz, o então desconhecido Fábio Gouveia deixou a pequena Bananeiras para se tornar o primeiro brasileiro campeão mundial de surfe, em Porto Rico.

Agora, 25 anos depois, um outro surfista da Paraíba pode fazer o mesmo caminho. Confirmado no time brasileiro para o Mundial do Panamá, o pessoense José Francisco dribla a falta de patrocínio para seguir a trilha de Fabinho.

"O cara é um ídolo, né? Aprendi a surfar ouvindo as histórias do Fabinho. Ele tem um estilo diferente. Procuro sempre seguir essa linha", admite José Francisco.

Fininho, como é mais conhecido, quer fazer do Mundial um divisor de águas na carreira. Sem patrocínio, o surfista ainda não sabe como vai fazer para viajar. Até porque a Confederação Brasileira de Surf (CBS) decidiu não bancar os custos da seleção para a viagem em maio.

"Vai ser complicado. Vou atrás de patrocínio. Já deixei meu currículo em várias empresas. Quem sabe agora, disputando um Mundial, vai aparecer alguma coisa. Quero ser um campeão mundial um dia... Quem sabe não é agora?"
A história de Fininho já é uma vitória pessoal. Antes mesmo de entrar para a seleção brasileira de surfe, o paraibano pode se considerar um campeão da vida. Ex-menino de rua, passava horas no Bar do Surfista pedindo ajuda a um e a outro. Ali, descobriu o surfe, ao lado de outros garotos que apareciam pedindo uma prancha para Valdir Silva, o dono do bar.

"No começo eu deixava que ficassem por aqui surfando com pranchas que eu emprestava. Mas depois eu condicionei essas pranchas a que eles estudassem", disse Valdir, que em 2005 deu uma bicicleta a Fininho, presente pelo garoto ter aprendido a ler e escrever na escola.

"Se eles souberem ler e escrever, pelo menos serão alguém", completou o empresário, primeiro incentivador de Fininho, e que não consegue esconder a voz embargada e as lágrimas ao reconhecer o pupilo nas manchetes de jornais do Brasil inteiro.

Do Bar do Surfista ao Mundial da ISA

Disputar o Mundial da ISA, a mesma competição que consagrou Fábio Gouveia, parece ser o ápice de uma trajetória que ainda não tem final programado. Algo que o pequeno José Francisco da Silva Neto jamais poderia sonhar ao sair da comunidade do Jacaré, em Cabedelo, para mudar o seu destino.

Os pais, dependentes de álcool, haviam perdido tudo - inclusive a casa onde moravam. Nada poderia ser pior. Foi então que Fininho decidiu deixar de lado os seis irmãos e vagar pelas ruas de Intermares. Lá, conheceu o Bar do Surfista.

"Nunca imaginei nada disso. Não sabia o que era surfe. Vi e gostei. Depois disso, minha vida mudou completamente", avalia o paraibano, hoje com 18 anos, e segundo melhor em sua categoria no ranking da Confederação Brasileira de Surfe.

Da promessa feita a Valdir Silva e a Rita Mascarenhas, Fininho não esquece. O sucesso com o surfe já é uma realidade, mas nem assim o garoto desistiu de estudar. Cursando o nono ano do ensino fundamental, ele faz planos para morar no Rio de Janeiro assim que concluir o ano.

"Lá terei mais oportunidade de mostrar o meu surfe", acredita o garoto, juntando as poucas economias que conseguiu com as premiações do surfe para realizar o sonho de se mudar para a Cidade Maravilhosa.

CASA NO BAR
Mas um pedaço da vida de Fininho será literalmente demolido nos próximos dias. O Bar do Surfista, local onde o garoto morou por muito tempo, deixará de existir devido a um projeto de reurbanização da orla de Intermares. Até lá, Valdir Silva vai manter com carinho uma espécie de museu particular do garoto que viu crescer. São reportagens de jornais e fotos da carreira do surfista colados nas paredes do estabelecimento. É como se o passado estivesse ali para lembrar o quão difícil foi para que ele chegasse até aqui.

"Só em ver essas histórias, já começo a chorar. Às vezes eu me pergunto: se não fosse o Bar do Surfista, o que seria do Fininho? Todas as vezes que ele conta a história da vida dele, começo a chorar", admite o veterano surfista, com a gíria característica.

Com um orgulho de pai, de quem sabe que fez a diferença na vida de um garoto sem perspectivas, o dono do Bar do Surfista comemora a convocação para a seleção brasileira de surfe. E vê a retribuição a cada abraço de Fininho.

"Esse cara aí mudou a minha vida, foi quem me possibilitou tudo. A primeira prancha, a primeira competição... Esse Mundial é um pouquinho dele também", reconhece Fininho, conclusão óbvia que certamente provocará mais lágrimas no dono do bar que um dia foi a sua casa.

'Mãe adotiva' entre as tartarugas e o surfe

A vontade de Fininho praticar o surfe sensibilizou a bióloga Rita Mascarenhas, da ONG Guajiru - que cuida da preservação de tartarugas marinhas na orla de João Pessoa.

O carinho virou amor e logo a bióloga convidava o surfista a morar com ela. Hoje, a relação é de mãe e filho. Tanto que Rita (na foto acima, ao lado de Fininho e de Alexandre Palitot, presidente da PBSurf), não conseguiu segurar a emoção quando soube da convocação de Fininho para o Mundial do Panamá.

"Jura? Ele vai para a seleção? Nossa, estou muito feliz. Sabia que ele estava cotado, mas... É muita emoção", disse Rita, ao receber a notícia da reportagem, por telefone.

Fininho também não conseguiu esconder essa emoção. O Mundial é a realização de mais uma etapa na vida: conhecer o exterior. Mais do que isso, é o primeiro passo para se tornar um novo Fábio Gouveia.

Para isso, no entanto, terá que conseguir dinheiro para passagens e hospedagem, já que a CBS não arca com nenhuma despesa da equipe no Mundial. O que não parece ser problema. "Vou atrás, tenho que conseguir isso", diz Fininho, com a determinação de que esse é só mais um obstáculo a ser vencido.

Imagem

Jornal da Paraíba

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