Contos Olímpicos #2: Formiga

Há exatos 25 anos, a jogadora brasileira entrava em campo para disputar sua primeira Olimpíada.

Por Phelipe Caldas

Eu quero fazer um convite para você.

Volte comigo no tempo. E tente se lembrar exatamente o que você estava fazendo 25 anos atrás.

Estamos num 21 de julho como hoje, mas em 1996. E, também como hoje, era dia de futebol nos Jogos Olímpicos, com o time feminino do Brasil estreando na competição fora da cidade-sede e antes mesmo da abertura oficial da Olimpíada.

As coincidências não param por aí.

Formiga estava em campo um quarto de século atrás, contra a Noruega, em seu primeiro jogo numa Olimpíada. A mesma Formiga estava em campo hoje, contra a China, mas agora em sua sétima Olimpíada e com duas medalhas de prata no currículo.

Você consegue se lembrar o que de relevante fazia 25 anos atrás?

Pois a baiana Miraildes Maciel Mota, então com 18 anos, mulher negra e de origem muito pobre, ajudava a desbravar um esporte machista, com poucos investimentos para as mulheres, que no Brasil era pensado exclusivamente para ser jogado por homens.

Formiga foi uma pioneira, uma batalhadora da bola, uma vencedora. Que enfrentou preconceitos para se tornar uma das grandes jogadoras de seu tempo. E que, com seu talento e seus gols, ajudou a firmar os pilares que tornaram possível as gerações vindouras do futebol feminino do Brasil.

Dá para entender o que significa tudo isso, não dá? O futebol feminino começou a ser disputado em olimpíadas justamente em 1996. E em todas as setes edições da história o único fator em comum foi o fato de que Formiga estava lá.

É por isso que eu vou perguntar uma vez mais. O que você estava fazendo de relevante 25 anos atrás?

Bem, ao menos você que já tinha nascido, claro, que já tinha consciência de seus atos e suas ações.

Por que esse adendo? Porque, para se ter uma ideia, 94 dos atletas brasileiros que estarão competindo em Tóquio, incluindo aí três companheiras de time, não tinham nem mesmo nascido ainda quando Formiga entrou em campo naquele longínquo 21 de julho de 1996 para iniciar uma das mais fantásticas trajetórias do esporte olímpico brasileiro.

Eu sei. Eu sei.

Formiga não é a atleta mais velha da delegação brasileira em Tóquio. E a ciclista Jaqueline Mourão, o velejador Robert Scheidt e o cavaleiro Rodrigo Pessoa também vão para as suas sétimas olimpíadas.

Mas de todos esses, Formiga foi a única que dependeu de seu esporte, de seu talento, de sua determinação pessoal e intransferível, para sobreviver e para dar dignidade a quem estava em seu entorno.

O percurso dela foi mais árduo. A vitória dela muito mais impactante e decisiva.