Pretinha, Lú Meireles e Silvana Fernandes: mulheres que carregam a Paraíba no esporte

Pretinha, do atletismo, Lú Meireles, do futebol, e Silvana Fernandes, do parataekwondo: um trio de importantes mulheres que colecionam importantes feitos, conquistas e histórias.

Presente, passado e futuro: as mulheres que representam a Paraíba em diferentes esportes — Foto: Arte: Cisco Nobre/ge

O dia 8 de março é reconhecido como o Dia Internacional da Mulher após a ideia ter surgido em virtude de lutas feministas por melhores condições de vida, de trabalho, direito ao voto etc. É uma importante data para refletirmos um mundo onde ainda existe indiferença, violência e desigualdade. Durante séculos, embora ainda presente na atualidade, as mulheres brigaram e continuam lutando em diversos âmbitos sociais contra o preconceito, disputam um lugar no esporte — ainda que distante do protagonismo dado ao público masculino — e seguem em buscam de um maior reconhecimento por seus importantes feitos.

Mesmo que diante de diversas dificuldades, elas seguem crescendo e carregando a bandeira brasileira e também de seus respectivos estados por todo o mundo, como são os casos de três paraibanas emblemáticas: a ex-corredora Pretinha, a jogadora de futebol Lú Meireles e a lutadora de parataekwondo Silvana Fernandes. A partir de agora, o Jornal da Paraíba mostra para você, leitor e leitora, as incríveis histórias dessas três atletas que representam passado, presente e futuro do esporte, e que permanecem dando orgulho ao mundo.

Ednalva Laureano, a Pretinha, coloca a Paraíba no topo do atletismo e faz história Brasil afora

Ednalva Laureano, mais conhecida por Pretinha, é um dos maiores nomes da história do Brasil no atletismo e uma grande precursora da modalidade na Paraíba. Ela, que foi vítima de racismo em boa parte de sua carreira, acumula um currículo vitorioso e que conta com participações em importantes torneios na modalidade.

Sinto muito orgulho em ter representado o nosso estado e o Brasil. Tenho muito orgulho de ser paraibana: a Pretinha, da Paraíba. Infelizmente, o joelho não me deixa mais competir, mas ainda faço umas carreirinhas. Sou paraibana, uma mulher guerreira”, falou.
Pretinha, Lú Meireles e Silvana Fernandes: mulheres que carregam a Paraíba no esporte
Pretinha em uma Meia Maratona, em João Pessoa — Foto: Ascom / PMJP

O primeiro incentivador da paraibana no esporte foi o professor Josenildo Sousa, mais conhecido como Josa Moral, lá em 1998. A parceria rendeu diversos títulos a Pretinha, onde se destacam o bicampeonato da Corrida de Reis de Brasília, o bicampeonato do troféu Cidade de São Paulo, o tricampeonato da Corrida 10 km do Brasil, o tricampeonato da Corrida Tribuna de Santos, o 2º lugar na Volta da Pampulha e na São Silvestre, o 1º lugar na Corrida de São Fernando (no Uruguai) e o 2º lugar na Prova de Pista (em Portugal). Ao todo, foram 15 anos de vida dedicados ao atletismo.

Sinto saudades de competir e lamento não poder mais. Estudem e lutem para representar mais a Paraíba. Vamos unir forças e ocupar cada vez mais o nosso espaço. A gente precisa de respeito. Mulheres, não baixem as cabeças. Vocês são guerreiras. Parabéns para toda as mulheres paraibanas”, comentou.
Eu sofri muito com falta de patrocínio e nunca baixei a cabeça. A gente pede força e agradece, por tudo. O atletismo está precisando de apoio”, lembrou.
Ednalva Laureano se aposentou em 2013, em um evento que marcou o ponto final da carreira de uma das maiores atletas da história da Paraíba. Embora não tenha disputado nenhuma edição dos Jogos Olímpicos, Pretinha pôde competir no Panamericano do Rio de Janeiro, em 2007. Mesmo que não tenha colocado medalha no peito na competição em território carioca, ela foi a sétima melhor colocada nas provas dos 5.000m e também dos 10.000m.
Pretinha, Lú Meireles e Silvana Fernandes: mulheres que carregam a Paraíba no esporte
Pretinha carrega a tocha olímpica dos Jogos do Rio 2016 — Foto: Arquivo Pessoal

Lú Meireles: craque, goleadora e multicampeã

Lucilene Firmino Meireles, mais conhecida por Lú Meireles. Esse é o nome de uma das grandes jogadoras do futebol paraibano feminino há algumas temporadas e, sem sombra de dúvidas, uma das principais do estado na história da modalidade. Seis vezes campeã paraibana, a atacante construiu um vasto currículo no esporte, demonstrou o grande faro de artilheira, defendeu equipes de grande renome do futebol feminino no Brasil, como Ferroviária e Flamengo, e chegou até a seleção brasileira, em 2017, quando foi convocada pela então técnica Emily Lima.

Pretinha, Lú Meireles e Silvana Fernandes: mulheres que carregam a Paraíba no esporte
Lú Meireles é um dos maiores nomes do futebol paraibano feminino de todos os tempos — Foto: Lucas Barros / BM Press

Os primeiros contatos de Lú com bola aconteceram há pouco mais de 22 anos, quando iniciou no futsal e também em um programa social de voleibol em sua cidade natal, Cruz do Espírito Santo. Foram longos e prolíferos anos, até migrar para o futebol aos 19 anos de idade. E o que a fez tomar essa decisão? Mais oportunidades na carreira de atleta e uma melhor rentabilidade financeira. Mas uma coisa a artilheira afirma com veemência: mesmo depois de muitos anos, ainda falta apoio moral e financeiro.

A principal dificuldade nessa minha trajetória foi a falta de recurso. Para ir à cidade, muitas vezes eu ia a pé, de carona ou o mototáxi, mas quando tinha dinheiro. Comprar tênis sempre era dificultoso. Fora o apoio inexistente, já que era sempre visto como para homens”, afirmou.
Pretinha, Lú Meireles e Silvana Fernandes: mulheres que carregam a Paraíba no esporte
Lú Meireles em ação pelo VF4 — Foto: Lucas Barros / BM Press

Grande artilheira do futebol feminino, Lú Meireles defendeu as cores do Botafogo-PB por pouco mais de 11 anos. Após a convocação para a seleção brasileira, em 2017, a paraibana foi para a Ferroviária, que é uma das principais agremiações da categoria no Brasil; um ano depois, escolheu o Flamengo como novo clube, onde permaneceu por dois anos até retornar à Paraíba, para jogar novamente pelo Belo. Atualmente, a sua equipe é o VF4, por onde conquistou o Paraibano de 2022. E um fato Lú comemora bastante: a evolução do futebol feminino no Brasil.

O futebol feminino no Brasil está em construção. Quando comecei era mais difícil. Hoje vejo amigas minhas que ganham muito bem, e a tendência é só aumentar. Vejo que a realidade no Nordeste é um pouco diferente, mas isso é uma construção diária. A prova disso são os campeonatos sendo transmitidos. Tudo isso só nos faz criar mais esperança”, comentou.

Sinto que ainda falta mais investimento e as premiações serem maiores. Mas está em crescimento. Não tenho dúvidas que será melhor. Mas ainda falta apoio”, disse.

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Lú Meireles comemora gol marcado pelo Flamengo — Foto: Paula Reis / Flamengo

Aos 35 anos, Lú Meireles ainda tem muita gasolina no tanque. Prova disso é a determinação e a objetividade que ela ainda tem de alçar voos mais altos na carreira. De acordo com a atacante paraibana, a meta é balançar as redes diversas vezes, erguer novos títulos estaduais pelo VF4 e conquistar a Série A3 do Campeonato Brasileiro Feminino com a Pantera.

Meu sonho é continuar fazendo muitos gols, brigando por artilharia, e o meu maior sonho é continuar desempenhando um bom trabalho. Almejo títulos paraibanos e brasileiros. O objetivo é conquistar a A3, o Paraibano e, quem sabe, a artilharia”, finalizou. 

Jovem e com um futuro promissor: os próximos passos de Silvana Fernandes

Pretinha, Lú Meireles e Silvana Fernandes: mulheres que carregam a Paraíba no esporte
Silvana Fernandes é um dos maiores nomes do parataekwondo do mundo — Foto: Rogério Capela/CPB

Um presente dentro dos tatames extremamente vitorioso e uma perspectiva de futuro ainda melhor. Essa é Silvana Mayara Cardoso Fernandes. Com apenas 23 anos, a atleta carrega uma bagagem vitoriosa no parataekwondo, detém o título de ser a número 1 do ranking mundial na modalidade e segue almejando importantes conquistas na carreira, como o ouro nas Paralimpíadas.

O pontapé inicial de Silvana Fernandes na vida de atleta sequer foi na luta. Na verdade, o começo foi mesmo no lançamento de dardo. Na época, ela se preparava com uma arma de arremesso feita de bambu e mantinha a rotina de treinos físicos em um campo de futebol na cidade de São Bento. No entanto, depois de descobrir que não teria uma vaga aberta no lançamento de dardo para os Jogos Parapan-Americanos e, consequentemente, a classificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio, ela logo conheceu o parataekwondo, migrou para os tatames e, a partir daí, um mundo de oportunidades surgiu na vida dela.

Tive inúmeras dificuldades no início da minha vida esportiva. Começava pela estrutura. Eu não recebia bolsa no início, então tinha que buscar ajuda para poder viajar. E, mesmo diante dessas dificuldades, me consagrei bicampeã brasileira no lançamento de dardo, mostrando que, mesmo com adversidades, podemos vencer”, comentou.

E este é o lema que Silvana Fernandes carrega consigo: não há nada que não possa ser realizado. Silvana é uma legítima e verdadeira campeã. A transição da paraibana do atletismo para o paraekwondo aconteceu em 2018, quando um assessor do Comitê Paralímpico Brasileiro a chamou para conversar e lhe disse que ela tinha um porte físico para o esporte. A partir dali, a esperança tomou conta da atleta, que pouco tempo depois teve contato com o esporte em São Paulo, onde foi convidada pelo próprio assessor para realizar um teste com o técnico da seleção brasileira.

Eu ia todo sábado até Campina Grande para poder treinar. Acordava de 5h e só chegava em casa às 17h. Passava mais tempo viajando do que treinando. Tudo por um sonho”, lembrou.

Pretinha, Lú Meireles e Silvana Fernandes: mulheres que carregam a Paraíba no esporte
Silvana Fernandes é a número 1 do parataekwondo — Foto: Reprodução / TV Cabo Branco

Silvana não esconde o orgulho que tem de seus familiares. Segundo ela, foram eles quem mais a apoiaram durante toda essa saga de atleta. Hoje, a paraibana conta com uma equipe multidisciplinar recheada que a acompanha diariamente, composta por Adriano Lucena, Priscila Cartaxo, Thales SAles, Shimena Crisanto e Raysa Lacerda. A lutadora é atualmente a número 1 do ranking mundial, foi medalhista de bronze nas Paralimpíadas, campeã mundial, melhor atleta da modalidade esportiva em 2022, campeã panamericana e conquistou três ouros em grand-pix. Isso tudo com apenas 23 anos. A verdade é que o futuro é muito promissor para ela, que ainda projeta muitas conquistas na carreira de atleta.

Quero continuar fazendo história. Estou com minha vaga nas Paralimpíadas. Meu maior objetivo é o de ser campeã lá. Após isso, quero ter pelo menos mais dois ciclos pela frente”, finalizou.