Entenda o que é o El Niño, como ele afeta a Paraíba e qual a diferença para o La Niña

Fenômeno meteorológico acontece entre os meses de junho e abril, atingindo seu pico entre outubro e fevereiro, durando entre nove a 12 meses, mas podem persistir por até dois anos.

Outono deve ser chuvoso em 2023 na Paraíba, segundo Aesa. (Foto: Emanuel Tadeu.)

O El Niño, fenômeno meteorológico que afeta toda a zona equatorial do planeta e atinge o Brasil de formas diferentes, no Norte e Nordeste o El Niño causa secas, enquanto chuvas fortes atingem o Sudeste e o Sul. O Jornal da Paraíba explica quais os efeitos dele na Paraíba e quais são suas diferenças para o La Niña, fenômeno que causa queda de temperaturas.

No Brasil, com a influência do El Niño, o inverno em 2023 será atípico. Assim como o La Niña, outro fenômeno meteorológico que explicaremos abaixo, os padrões de transporte de umidade e as variações na distribuição das chuvas no país são alteradas.

Nas regiões mais equatoriais como no Norte e Nordeste do Brasil, o El Niño causa secas – que são chuvas abaixo da média. No Centro-Oeste, o inverno fica bem seco, com temperaturas altas, aumentando a probabilidade de queimadas na região.

No Sudeste, o inverno será menos rigoroso com temperaturas acima do normal. Mas no Sul, a frequência de passagens de frentes frias aumenta e as chuvas ocorrem acima da normalidade.

Como o El Niño afeta a Paraíba

O Jornal da Paraíba conversou com Marle Bandeira, meteorologista da Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA). Ela alertou que as pessoas confundem o inverno, que traz temperaturas mais baixas, com o período chuvoso.

No Alto Sertão, Sertão, Cariri e Curimataú o período chuvoso é de fevereiro a maio (do verão até o outono) e que no Brejo, Agreste e Litoral, o período chuvoso é de abril a julho, que coincidem no outono e inverno.

O que pode ocorrer é que o inverno coincida com esse o período chuvoso e criem eventos isolados como os que estão ocorrendo nos últimos dias. Marle relatou que o El Niño não vai influenciar tanto porque o período chuvoso no Alto Sertão, Sertão, Cariri e Curimataú já acabou.

O que ele pode fazer é afetar o inverno da Paraíba de maneira sutil, aumentando a temperatura mínima nas regiões do Alto Sertão e Sertão da Paraíba que são registradas de madrugada, em torno de um grau.

O que é o El Niño

De acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA), o El Niño é um fenômeno natural marcado pelo aquecimento das temperaturas do oceano pacífico próximo ao Equador, que acontece a cada dois ou sete anos, mas seu impacto se estende além dessa área.

Seu nome signifiva “o menino”, em espanhol, e é uma homenagem dada por pescadores peruanos que perceberam que no período de dezembro, a época de pescado diminuia muito porque os cardumes de salmão migravam para o sul da América do Sul em busca de águas mais frias, explicou Marle Bandeira.

“Dependendo de sua força, o El Niño pode causar uma série de impactos, como aumentar o risco de chuvas fortes e secas em determinados locais do mundo”, explicou Michelle L’Heureux, cientista do clima do Centro de Previsão do Clima.

O que é o La Niña

Enquanto o El Niño aumenta as temperaturas, o La Niña as derruba, pois no período que está em atividade o fenômeno reforça a circulação do ar atmosférico, invertendo o processo.

No Brasil, os efeitos do La Ninã atingem especialmente o Centro-Sul, onde aumenta o período da chegada de massas de ar frio, que chegam na América do Sul mais cedo e se estendem por toda a primavera e verão.

As chuvas nessa região são reduzidas, o que pode ocasionar problemas no abastecimento de água. Especialistas alertam que mesmo que um fenômeno atinja a mesma área, eles não vão produzir o efeito contrário um do outro.

Quais são as características desses fenômenos

Conforme o International Research Institute for Climate and Society, tanto o El Niño como o La Niña tendem a se desenvolver entre os meses de junho e abril, atingindo seu pico entre outubro e fevereiro, durando entre nove a 12 meses, mas podem persistir por até dois anos.

Esses fenômenos ocorrem em intervalos de dois a sete anos de maneira alternada, com um período de neutralidade entre eles. Para saber quem está em curso, é necessário haver uma persistência na alteração de temperatura no Oceano Pacífico por cinco ou seis meses com registros de altas ou quedas para que um dos fenômenos se consolide de verdade.

Porque esses fenômenos acontecem

O El Niño e o La Niña ocorrem pelo ciclo de aquecimento e resfriamento das águas do Oceano Pacífico, o maior oceano do planeta, contendo 50% de toda a área oceânica da Terra.

Eles também são chamados de “fenômenos acoplados” porque começam no oceano, com o resfriamento ou aquecimento das águas e depois de um período de tempo impactam na atmosfera.

Esses fenômenos têm relação com o aquecimento global?

Em entrevista ao g1, o meteorologista Bruno Bainy explica que não. E que essa variabilidade climática é diferente de uma mudança climática – que é definitiva, quando o regime climático como um todo se altera e cria um novo padrão.

Contudo, as mudanças climáticas devem afetar como esses mecanismos de variabilidade, já que a própria circulação dos oceanos deve mudar e assim afetando como o clima vai repercutir ao redor do globo.

Ano de Super El Niño

Emily Becker, cientista do clima e comunicadora na NOAA, confirma que o El Niño já está na ativa. Ela fala que “as chances dele se tornar um evento forte em seu pico são de 56%, enquanto as chances de termos pelo menos um evento moderado são de aproximadamente 84%”.

Marle explica que há uma pespequitiva que esse pico aconteça em dezembro e que a AESA está monitorando o El Niño, elaborando boletins mensais sobre o desenvolvimento do fenômeno.