Roberto e Erasmo entram bem no mapa da nossa canção

Os dois volumes de A Canção no Tempo oferecem precioso mapeamento da música popular que os brasileiros produziram entre 1901 e 1985. Os pesquisadores Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello comentam as canções que marcaram cada ano. De Parei na Contramão a Caminhoneiro, Roberto Carlos aparece várias vezes.

Roberto e Erasmo entram bem no mapa da nossa canção

REBELDIA

O registro inicial que o livro faz de Roberto Carlos é de 1963: Parei na Contramão, citado como um dos primeiros grandes sucessos de autoria brasileira na área do rock. “O espírito de rebeldia e o impulso dançante do jovem estão presentes nesta gravação, marcada pela guitarra, contrabaixo e a voz anasalada do maior ídolo da mocidade brasileira nos anos seguintes”, comentam os autores. No texto sobre Quero que Vá Tudo pro Inferno (1965), Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello chamam atenção para o fato de que “tal como Orlando Silva, que foi o primeiro ídolo de massa criado pelo rádio no Brasil, Roberto Carlos seria o primeiro criado pela televisão”. Quero que Vá Tudo pro Inferno, dizem eles, “é a canção que marca o início desse reinado”.

BOATO

Namoradinha de um Amigo Meu (1966), por ser assinada só por Roberto, favoreceu “um boato, negado pelo cantor, de que a composição referia-se a um caso realmente vivido por ele e que envolvia um casal em evidência na época”. Já Negro Gato, também de 1966, é de Getúlio Cortes, “um dos raros artistas negros ligados à Jovem Guarda”. O autor nega que a música tenha uma conotação de protesto identificada com os conflitos raciais tão em evidência àquela época.

METÁFORA

Para Severiano e Zuza, As Curvas da Estrada de Santos, de 1969, “é mais ou menos uma reedição do rebelde de Quero que Vá Tudo pro Inferno com um carro mais veloz”. Sentado à Beira do Caminho (1969), sucesso na voz de Erasmo, “é uma metáfora que expõe o desengano dele ante o fim da Jovem Guarda e o que isso representa para a sua carreira”. Do disco que Roberto Carlos lançou em 1970, A Canção no Tempo destaca Jesus Cristo, de certa forma inspirada no sucesso de Jesus Christ Superstar. O livro a classifica como “um rock-hino cantado com respeitoso entusiasmo por Roberto”.

PROTESTO

Três músicas do disco de 1971 são comentadas em A Canção no Tempo. Composta por Caetano Veloso, Como Dois e Dois “é uma canção de protesto, deixando transparecer em seus versos ambíguos referências à ditadura e ao drama do exílio”. Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos é uma homenagem de Roberto a Caetano, depois que o visitou no exílio londrino. E Detalhes atesta “o alto nível de interpretação alcançado por RC, um dos maiores cantores românticos de nossa música popular”. Severiano e Zuza consideram Detalhes uma das melhores canções da parceria Roberto & Erasmo.

AMIZADE

Os pesquisadores seguem comentando as músicas da dupla com Amigo, de 1977, classificada como “um verdadeiro hino à amizade”, que ultrapassou a homenagem a Erasmo Carlos, “aplicando-se a amigos do mundo inteiro”. Falam também de Café da Manhã (1978), “balada romântica temperada por boa porção de sensualidade”, Força Estranha (1978), que Caetano Veloso escreveu como “uma homenagem à figura do cantor” e Outra vez (ainda 1978), de Isolda, “uma das raras músicas não compostas por Roberto e Erasmo que podem ser consideradas clássicos de seu repertório”.

NOSTALGIA

Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello enquadram Amante à Moda Antiga (1980) na categoria das canções nostálgicas e confessionais, destacando a elegância de sua melodia. Quando comentam Emoções (1981), fazem menção à sua bela melodia e ao competente arranjo de big-band e lembram que a música reproduz o clima romântico e nostálgico de outros foxes de Roberto & Erasmo. De Fera Ferida (1982), dizem que é uma das melhores canções da obra de Roberto e Erasmo Carlos. “Composta à época em que se desfazia o casamento de Roberto e Nice, a canção parece refletir o fato nas entrelinhas”.

PARCERIA

No texto sobre Caminhoneiro (1984), Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello aproveitam para falar um pouco da dupla Roberto & Erasmo: “Em atividade desde o início dos anos sessenta, Roberto Carlos e Erasmo Carlos são recordistas de sucessos no período 1963/1985, tendo Roberto setenta e cinco composições relacionadas neste livro (setenta em parceria com Erasmo), das quais, treze são comentadas como destaques. Uma particularidade no trabalho da dupla: há uma participação maior de Roberto na criação das canções mais românticas e de Erasmo nas mais roqueiras”.