Denúncia contra José Dumont na PB diz que crimes de estupro de vulnerável aconteciam em apartamento do ator

Uma denúncia contra José Dumont, preso suspeito de estupro de vulnerável e armazenamento de pornografia infantil na quinta-feira (15), no Rio de Janeiro, foi feita na Paraíba, em 2009, por supostamente encontrar-se com crianças e adolescentes, em troca de doces e dinheiro. Os crimes de estupro de vulnerável aconteciam no apartamento que ele tinha em Cabedelo, na Grande João Pessoa. O ator é investigado em um inquérito policial sobre este caso desde 2013, e o Jornal da Paraíba teve acesso ao documento.

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José Dumont, que tem 72 anos, foi preso no Rio de Janeiro durante uma investigação por supostamente ter abusado de um fã de 12 anos. Ele teria trocado beijos e carícias íntimas com o menino e as ações teriam sido gravadas por câmeras de circuito de segurança. Na quinta-feira, ao cumprir um mandado de busca e apreensão na casa do ator, policiais encontraram vídeos e fotos contendo pornografia infantil no celular pessoal e no computador dele, e ele foi preso em flagrante.

Em depoimento, o ator disse que tinha uma relação de carinho com o adolescente e que se considera padrinho dele. Sobre as imagens encontradas, ele contou que fazia parte de um estudo de trabalho.

Denúncia contra José Dumont na Paraíba

Na Paraíba, José Dumont havia sido denunciado por uma moradora do condomínio onde ele possuía um apartamento, na Praia do Poço, em Cabedelo. A denúncia foi feita por meio do site do Ministério Público Federal (MPF) em 2 de outubro de 2009, e repassada para o Ministério Público da Paraíba (MPPB).

Segundo o texto da denúncia, que consta no inquérito contra o ator, a moradora diz que ele estaria abusando de crianças e adolescentes, entre 8 e 14 anos, dando dinheiro e presentes aos meninos, como chocolates e sorvetes, e que as vítimas não moravam no edifício. 

Uma audiência com o MPPB foi marcada para a moradora ser ouvida em 2010, mas ela não compareceu e não justificou a ausência. Uma nova audiência foi marcada, e aconteceu em março de 2013. A moradora confirmou o relato da denúncia e disse que cerca de 15 dias após o fato, ainda em 2009, José Dumont havia fechado o apartamento. 

Depois desta denúncia, outras duas pessoas foram apontadas para prestar depoimentos no inquérito: uma outra mulher, que morava no edifício à época dos fatos, e um funcionário do condomínio. Os dois foram ouvidos pelo MPPB em abril de 2013.

A moradora confirmou que o ator tinha um apartamento no edifício e que a residência “sempre estava cheia de crianças e adolescentes do sexo masculino, no período da tarde e da noite”. Ela disse ainda que presenciou pelo menos duas ocasiões em que houve os crimes, ambas em 2009. Em uma delas uma vítima chegou a abaixar a bermuda em troca de dinheiro e na outra o ator teria tocado as partes íntimas da vítima. 

A pessoa ouvida contou ainda que José Dumont também estaria sempre comprando caixas de sorvete e de chocolate para distribuir com os meninos, reforçando que eles não moravam no condomínio. Por fim, ela disse ainda que dois dos meninos chegaram a contar para ela que viram o ator cometendo o crime de estupro contra outro adolescente, e que ainda em 2009 ele foi embora do prédio. 

O inquérito traz ainda o depoimento do funcionário do condomínio. Ele contou que o ator era proprietário de um apartamento do edifício e que sempre estava de férias no local, recebendo visitas de familiares, incluindo adultos e crianças. Ainda conforme o funcionário, o ator tinha o costume de pagar guloseimas para qualquer pessoa que quisesse, e disse que nunca viu nada de anormal no apartamento dele. 

As três pessoas ouvidas pelo MPPB também foram ouvidas novamente, em junho de 2013, pela Polícia Civil. Segundo a delegada Juvanira Holanda Linhares, que está atualmente no comando das investigações, a polícia tentou várias vezes intimar José Dumont, mas nunca conseguiu encontrá-lo. 

Ator não foi intimado para ser ouvido

A primeira tentativa de intimar José Dumont foi feita em 2014. Segundo o inquérito, foi feito um pedido para que a Polícia Civil de São Paulo intimasse o ator em um endereço da Rede Record, onde ele estaria trabalhando à época. A investigadora da Polícia Civil de São Paulo foi até a emissora no dia 18 de agosto de 2014, mas a pessoa que respondeu por parte da Rede Record disse que o ator não constava no quadro de funcionários.

Em 2015, o MPPB apontou que, no período da tentativa de intimação em 2014 o ator não estava mais na Rede Record, e sim na Rede Globo de Televisão, como ator em uma novela. Com isso, um novo pedido de apoio policial para intimação foi feito, desta vez para a Polícia Civil do Rio de Janeiro. O endereço: a Central Globo de Produção. 

Apesar do pedido ter sido feito anos antes, o documento só chegou às mãos do investigador da Polícia Civil do Rio de Janeiro em abril de 2017. O inspetor informou no inquérito que tentou intimar o ator na Globo, mas que a funcionária da empresa, além de dizer que não receberia intimação de cunho pessoal em nome do ator, disse também que José Dumont não comparecia à emissora desde o final de 2016. 

Conforme o inquérito, um novo pedido de auxílio para a Polícia Civil do Rio de Janeiro intimar José Dumont neste processo da Paraíba foi feito em 2021, desta vez para um endereço do ator no Rio de Janeiro, registrado na Receita Federal. Ele foi procurado pela polícia, mas não foi encontrado.

Segundo a delegada Juvanira Holanda Linhares, todas as três pessoas envolvidas no inquérito foram ouvidas, exceto o ator. Nenhuma vítima foi identificada. Com a prisão dele, a delegada acredita que a intimação vai ser cumprida para que ele seja ouvido.

José Dumont estava escalado para a novela “Todas as Flores”, exclusiva da plataforma Globoplay. Em nota, a Rede Globo disse que diante dos fatos noticiados, tomou a decisão de retirá-lo da novela. “A suspeição de pedofilia é grave. Nenhum comportamento abusivo e criminoso é tolerado pela empresa, ainda que ocorra na vida pessoal dos contratados e de terceiros que com ela tenham qualquer relação”, disse a emissora.