Sistema prevê enchentes

Método foi criado por brasileiro, que integrou imagens topográficas, Google Earth e matemática, para calcular áreas de risco.

Um novo método criado por um cientista brasileiro torna mais rápido, simples e barato identificar áreas com risco de enchentes, deslizamentos e outros desastres naturais. O sistema pode ser usado para prevenir as tragédias que se acumulam no período de chuva no país.

Enquanto as metodologias consagradas hoje em dia precisam que os pesquisadores visitem os locais e tenham um mapeamento detalhado das topografias, o que em geral custa muito caro, o novo projeto pode ser feito à distância e com bem menos requisitos.

Batizado de Hand (sigla em inglês para altura acima da drenagem mais próxima), ele é um modelo digital de terreno que, para identificar as áreas de risco, precisa apenas de uma imagem da topografia da região -capturada por radar ou laser- e de informações sobre os rios do entorno.

É gerada então uma espécie de maquete virtual.

A partir daí, o computador, usando cálculos especialmente desenvolvidos para isso, encarrega-se de identificar as características do terreno, incluindo declividades e distâncias de encostas, entre outras informações.

O modelo parte do princípio de Arquimedes, de que a água escolhe a trajetória mais curta para os terrenos mais baixos. O sistema então traça a trajetória da água e identifica as áreas de risco.

O modelo foi integrado ao Google Earth, permitindo que a Defesa Civil de qualquer parte do país possa ter acesso rápido às informações e consiga planejar a retirada ou o resgate de moradores.

"É um arquivo pequeno, pode ser baixado facilmente. O objetivo é simplificar o uso", explica Antonio Donato Nobre, cientista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Ele liderou o trabalho, que levou dez anos para ser desenvolvido.

Apesar de inédito, o cientista diz que a ideia é simples. "A inspiração surgiu por acaso. Eu tive uma intuição, decidi aplicar e deu certo. Quando eu apresento nos congressos, alguns cientistas no início duvidam, acham que é fácil demais", diz ele.

A simplicidade, pelo visto, atraiu os pesquisadores. Publicado no "Journal of Hydrology", uma das publicações mais importantes da área, o artigo sobre o Hand ficou vários meses na lista dos mais acessados, à frente até de publicações de referência.

O modelo Hand foi aplicado com sucesso em áreas com históricos de inundação, inclusive na Grande São Paulo, e em outras onde houve grandes tragédias recentemente, como a região Serrana do Rio.

Adoção
Embora já tenha sido apresentado no Senado e na Câmara, não há previsão de quando (ou se) ele será adotado pelo poder público. "A recepção foi muito boa, os políticos elogiaram muito.

Mas não sei o que vai acontecer agora", diz Nobre. Ele já distribui informalmente o sistema para prefeituras e outros interessados. "Mas isso não é certo, tem de haver planejamento.

Sou pesquisador, é necessário uma estrutura operacional." "Ao mesmo tempo, eu não consigo ficar parado assistindo à tevê enquanto está acontecendo um temporal e eu tenho condições de ajudar."

Agricultura
Conhecer detalhes a respeito do fluxo da água e outras informações do terreno também pode ajudar a agricultura, indicando quais culturas melhor se adaptam à área e opções para otimizar o plantio e colheita.

Identificar áreas suscetíveis a alagamento ou aquelas em que o lençol freático poderia ser alcançado pelas raízes das plantas em tempo de seca poderia prevenir a perda de safras inteiras.

Esse problema que se repete todos os anos no Brasil devido, muitas vezes, à falta de planejamento.

"A ferramenta [criada para prevenção de desastres] permite tirar o máximo proveito das informações disponíveis. Ajudaria a usar o solo com mais responsabilidade", diz Antonio Donato Nobre, pesquisador do Inpe e criador do Hand. Para o cientista, a ferramenta também seria uma importante alidada da preservação ambiental. (Da Folhapress)