‘Nas guerras morrem crianças e nada acontece’, disse Patrick Gouveia a psiquiatra

Defesa afirma que Patrick sofre de um dano cerebral que afeta a tomada de decisões.

Patrick Gouveia
Patrick Gouveia está sendo julgado por ter assassinado quatro familiares na Espanha, no caso conhecido como Chacina de Pioz.

“Nas guerras morrem muitas crianças e muitas pessoas e nada acontece”. Foi esta a declaração de François Patrick Nogueira ao psiquiatra José Miguel Gaona, durante a composição do laudo utilizado pela defesa do assassino confesso no caso conhecido como Chacina de Pioz. Segundo o médico, que prestou depoimento nesta terça-feira (30) no júri popular que ocorre em Guadalajara, a frase de Patrick seria sintoma de um dano cerebral que ele supostamente teria.

A defesa de Patrick defende a tese – com base em laudos médicos e técnicos feitos por José Miguel Gaona e outros profissionais – de que o assassino dos quatro familiares sofre de um dano cerebral no lóbulo frontal direito que afeta a tomada de decisões e, portanto, deveria ter a pena atenuada.

O julgamento de François Patrick Nogueira Gouveia, assassino confesso dos tios e primos na cidade de Pioz na Espanha, chega ao seu quinto dia nesta terça-feira (30). Após cerca de 13 horas de júri popular, o penúltimo dia de audiência ficou reservado para psiquiatras e psicólogos reservados pela defesa, segundo informações veiculadas pelo jornal espanhol El Mundo.

Para José Miguel Gaona, a declaração sobre as mortes nas guerras alertou para a possibilidade de dano cerebral. “’Aqui algo está errado’, eu pensei. Ele não só não tem empatia, mas também não sabe como imitá-la, um psicopata pode imitar empatia”, comentou.

O problema no lóbulo frontal direito “aumenta a irritabilidade, a agressividade, a desinibição, a impulsividade, o reconhecimento dos rostos, o que tem muito a ver com empatia. Sem inibição, nos esquecemos de que nascemos selvagens”, completou José Miguel Gaona. Os peritos contratados pela defesa também negaram que haja indícios de psicopatia em Patrick Nogueira, justamente por essa deformação no cérebro.

“A parte direita do lóbulo temporal é claramente afetada, funciona menos e também teve repercussão em outras áreas do cérebro porque demorou muito tempo”, afirmou Antonio Maldonado, chefe do serviço de medicina nuclear da clínica Quirón, onde o assassino confesso foi examinado.

Ainda de acordo com os peritos contratados pela defesa, as declarações de Patrick Nogueira apontam um funcionamento anormal do cérebro. Os psicólogos e os psiquiatras convocados pelo Ministério Público espanhol durante o inquérito refutaram as teorias defendidas pela defesa.

O júri popular segue para seus momentos finais, tendo iniciado na quarta-feira (24). A acusação particular pede prisão permanente revisável, que na prática funciona como prisão perpétua. O ministério público, por sua vez, espera prisão permanente revisável pela morte dos tios e 20 anos para cada um dos primos crianças assassinados. A defesa, por fim, pede uma atenuação e quer a condenação a 25 anos de prisão.

O crime

De acordo com a denúncia da promotoria, o acusado foi até a casa onde a família vivia na cidade de Pioz no dia 17 de agosto de 2016 “com o propósito de acabar com a vida” de seus tios e primos, utilizando uma faca de grandes dimensões.

Conforme o processo, a tia do acusado abriu a porta da casa na presença de seus filhos e permitiu a entrada de Patrick. Em um dado momento, no qual ambos estavam na cozinha, ele a atacou de forma surpreendente e fez um corte em seu pescoço, que veio a causar sua morte.

Em seguida, o acusado foi ao encontro de seus primos, um de quatro e outro de um ano de idade, e também os degolou. Depois, com a intenção de ocultar o crime, o jovem esquartejou o corpo da sua tia e colocou as partes em sacolas plásticas, fazendo o mesmo com os corpos de seus primos, mas sem desmembrá-los, e começou a limpar o local, aguardando a chegada de seu tio.

Quando o tio entrou na residência, foi recebido pelo assassino, que esperou que ele virasse as costas para atacá-lo, desferindo várias facadas. Depois, esquartejou o corpo como fez com sua tia, com a intenção de ocultá-lo.