Promessa sendo cumprida: Bolsonaro disse que iria flexibilizar a compra de armas e não que acabaria com a fome e a miséria

Por LAERTE CERQUEIRA

Promessa sendo cumprida: Bolsonaro disse que iria flexibilizar a compra de armas e não que acabaria com a fome e a miséria
Foto: G1

Bolsonaro negociou com o Centrão e com réus de esquemas de corrupção para colocar o impeachment na geladeira. Para governar, segundo ele. Deu um empurrão para o fim da Lava Jato. Enfraquece o MPF. Basta acompanhar às ações protecionistas de Augusto Aras, o escolhido fora da lista, a favor do presidente. Com isso, irritou os eleitores menos apaixonados, que até ensaiam deixar o capitão nas urnas. Reavaliam o apoio.

Mas se tem uma promessa que ele vem cumprindo, mesmo, é a de armar quem quer estar armado. Na última sexta, foram editados quatro decretos flexibilizando a compra de armas. Diz que é pra fortalecer a liberdade individual e a autoproteção. Mas, no mínimo, ajuda a esconder a falta de capacidade de colocar um plano nacional de segurança. Ainda esperamos.

Arsenais caseiros 

O resultado destes decretos armamentistas, assinados na véspera de carnaval, sem conversa com o Congresso (deputados não gostaram), é que um cidadão comum pode adquirir mais armas – pula de quatro para seis para os que têm registro; ampliam o número de categorias profissionais que têm direito a comprar armas e munições controladas pelo Exército; flexibilizam a comprovação de aptidão psicológica para colecionadores, atiradores e caçadores (CACs); e mudam as regras de munição e armas para os CACs.

E antes de alguém dizer que sou comunista, socialista, lulopetista, gostaria de dizer que apenas sou contra a política de mais armas. Simples. Os argumentos contrários não me convenceram. E posso discordar de você. Lembra que ainda estamos numa democracia.

Não deixa de ser um mérito do governo: cumpriu a promessa. Afinal, o capitão não disse que iria acabar com a fome nem com a miséria.

Auxílio emergencial

Por isso, nem precisa ser rápido pra implantar a “segunda temporada” de auxílio emergencial, que pode começar em março e durar até o meio do ano. Cerca de R$ 250,00. São dois meses pensando, em uma realidade previsível desde dezembro.

Deputados e senadores já disseram que o benefício vai sair, tem que sair. Mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, não apresenta solução fiscal de um país “quebrado”. Ameaçou áreas da Saúde, da Educação, mas não teve coragem de dizer que bacalhau, uísque, chiclete e leite condensado são produtos supérfluos. Como aqueles que a gente tira do carrinho do supermercado, quando estamos endividados.

Aconteceu em outros governos? Sim. Também foi criticado. Mas a promessa de acabar com as regalias foi feita por esse. Milhões depositaram a confiança nisso.

Um parênteses: Guedes já demonstrou que não sabe elaborar projetos para pobres.

Enquanto o bate-cabeça público não vira ação prática, aumenta a quantidade pessoas pedindo comida na porta dos supermercados. Não é só impressão pontual. A miséria e pobreza extremas estão em todos os estudos recentes e chegou com mais força ao nosso dia a dia. O pedido é do básico pra sobreviver.

Promessa cumprida

Enfim, nesse ponto, o bolsonarismo-raiz pode se vangloriar. Mais armas podem ser compradas com mais facilidade. Arsenais domésticos estarão à disposição. Em breve, sentiremos os efeitos disso.

Alguém precisa avisar ao presidente que a prioridade, agora, é matar a fome de milhões de pessoas. É focar na vulnerabilidade social. Vacinar massivamente a população, para apressar o retorno pleno das atividades econômicas; e diminuir o preço do gás, só pra ficar nos debates mais recentes. Mas quem tem coragem de contrariar nosso presidente.