POLÍTICA
Luiz Bronzeado (que era de direita) escondeu Paulo Freire (que era de esquerda) em casa
Publicado em 26/08/2020 às 6:14 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:55
Março de 1964.
O educador Paulo Freire estava em Brasília.
Hospedou-se com Elza, sua mulher, no apartamento funcional do deputado federal paraibano Luiz Bronzeado.
Eram amigos desde quando foram estudantes, no Recife.
Veio o golpe. Jango foi derrubado pelos militares.
De homem que a direita nunca viu com bons olhos, por causa do seu método de alfabetização de adultos, Paulo Freire passou a perseguido pela ditadura que estava começando.
Luiz Bronzeado, que apoiara a deposição do presidente, achou prudente manter o amigo em segurança. Literalmente, escondido em seu apartamento.
Uma noite, todos estavam reunidos diante da televisão. A campainha tocou. Não esperavam visita. Os hóspedes correram para o quarto. Eram apenas parentes que chegaram de surpresa.
A filha mais nova de Bronzeado - uma garota de seis anos - não resistiu e perguntou, com a natural curiosidade infantil:
"Por que Tio Paulo e Tia Elza não ficaram na sala?"
À pergunta inevitável - "Quem são Tio Paulo e Tia Elza?" - a mulher de Bronzeado respondeu rapidamente:
"É um casal amigo que está hospedado aqui".
*****
Luiz Bronzeado fez gestões junto ao novo governo para que Paulo Freire saísse do seu apartamento em segurança. Em Pernambuco, Ariano Suassuna também fez.
Freire voltou para o Recife e passou cerca de dois meses preso. Depois partiu para o exílio.
Anistiado, retornou ao Brasil em 1980.
Bronzeado e Freire se reencontraram e foram amigos até a morte do educador, em 1997.
Um, de direita.
O outro, de esquerda.
Num Brasil menos imbecilizado.
Menos emburrecido
*****
Antes de escrever esse texto, que julgo oportuno no atual momento brasileiro, conversei com a fotógrafa Germana Bronzeado.
Ela é a garota que perguntou porque Tio Paulo e Tia Elza não ficaram na sala.
Comentários