QUAL A BOA?
Fãs da Marvel fazem comentários hilários sobre Martin Scorsese
Publicado em 09/10/2019 às 7:59 | Atualizado em 22/06/2023 às 12:57
Martin Scorsese disse que os filmes da Marvel não são cinema.
Postei a opinião dele aqui na coluna no sábado passado.
Li muitos comentários nas redes sociais. Recebi outros no privado.
Scorsese está equivocado?
Falou bobagem?
Sinceramente, não sei.
Esse universo da Marvel - defeito meu - não me interessa.
Mas Scorsese me interessa. E muito. Desde que vi Caminhos Perigosos, lá no começo dos anos 1970.
A crítica dele é legítima. E necessária por vir dele. Scorsese merece respeito. Muito respeito.
Sobre os comentários que li nas redes sociais, alguns eram hilários.
Um deles era mais ou menos assim: um americano, branco, rico e conservador querendo dizer pra gente o que é cinema.
A um amigo, que gosta de Scorsese e dos filmes da Marvel, perguntei: e aí?
E ele respondeu: "Juntos, todos os filmes da Marvel não valem um Taxi Driver!".
Sigo, então, com algo que escrevi sobre Marty, esse gigante do cinema contemporâneo:
Martin Scorsese não é somente um diretor de filmes. É um homem que pensa o cinema. Também não está circunscrito à produção dos Estados Unidos, o país onde nasceu. A sua origem italiana o levou logo cedo a ver e amar a cinematografia de outros povos.
Além de realizador, é um cinéfilo dividido entre os grandes filmes americanos e os não americanos. Uma paixão não exclui a outra. Seu coração e sua mente têm lugar para os dois amores. Eles enriquecem o seu trabalho, o influenciam, fornecem elementos que vamos identificar nos filmes que realizou. Características que fazem de Scorsese um diretor de cinema diferente dos outros. Talvez o único assim entre todos os seus contemporâneos.
Um pé na América, outro fora dela. Duas viagens transformadas em documentários traduzem o que estou dizendo. Um, sobre o cinema americano. O outro, sobre o italiano. O mesmo artista a contemplar dois países e dois modos distintos de realizar filmes. As diferenças o interessam, vão acabar direcionadas ao que ele faz.
Na prática, aliás, Scorsese é um diretor dividido entre duas linguagens: a da ficção e a do documentário – mais uma das suas marcas de originalidade. O melhor é que domina muito bem as duas formas de expressão cinematográfica. Embora famoso pelos filmes de ficção, nos documentários está livre da pressão dos estúdios. E esta liberdade o conduz a resultados de fato excepcionais.
O amor de Scorsese pela música está presente em seu cinema. Não apenas em documentários como O Último Concerto de Rock ou Shine a Light, No Direction Home ou Living in the Material World. Seus filmes de ficção têm sequências concebidas a partir da música. O compasso define o ritmo da montagem.
As cenas de luta de Touro Indomável tomam como parâmetro os critérios de edição que adotou em O Último Concerto de Rock. O uso de trilhas preexistentes serve como comentários sobre uma determinada cena ou complementa a fala de um personagem. Martin Scorsese cresceu entre o cinema e a música. Aprendeu a amar os dois. E escolheu um para que fosse seu ofício.
Tudo isto está em Conversas com Scorsese, de Richard Schickel. Schickel e Scorsese conversam sobre a infância pobre em Nova York e a formação do cineasta, cada um dos seus filmes e temas ligados à sua produção. Falam da família, das obsessões, da fé, da passagem do tempo, da morte. Vida e arte se confundem, se misturam numa leitura para cinéfilos.
O livro confirmou muito do que eu já sabia de Marty. Robusteceu as razões da minha admiração por ele. E me surpreendeu: o tornou mais homem, menos mito. Como se ele não fosse Martin Scorsese, mas um cara com quem a gente senta para conversar sobre cinema. E acompanha sua luta para fazer o próximo filme.
Fecho com seis sugestões. Para ver o cinema de Martin Scorsese.
CAMINHOS PERIGOSOS
TAXI DRIVER
TOURO INDOMÁVEL
OS BONS COMPANHEIROS
A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
O ÚLTIMO CONCERTO DE ROCK
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