QUAL A BOA?
Filme de Clint Eastwood sobre atentado em Atlanta é magistral
Publicado em 08/01/2020 às 8:27 | Atualizado em 22/06/2023 às 12:56
Clint Eastwood já tinha 41 anos quando, com Perversa Paixão, fez sua estreia na direção.
Estreia tardia, mas promissora. O tempo confirmaria.
O ator dos filmes B de Don Siegel e dos westerns italianos de Sergio Leone logo se transformaria num dos maiores cineastas do mundo.
Aos 89 anos (90 em maio), continua trabalhando.
Há um ano, vimos Clint atuando e dirigindo o road movie A Mula.
Agora, nesses primeiros dias de 2020, está de volta dirigindo O Caso Richard Jewell.
Gosto de ver o cinema de Clint Eastwood como um grande painel da América.
A América e suas áreas profundas.
Cada filme é um pedaço significativo desse painel.
Primeiro, há os westerns.
A conquista dos territórios e o processo civilizatório em filmes que fundiam a influência de Leone com a tradição desse gênero extraordinário criado pelos americanos. A obra-prima é Os Imperdoáveis.
O jazz - outra incrível invenção dos americanos - está em Bird, cinebiografia do gênio atormentado Charlie Parker.
O blues, sem o qual o jazz não teria existido, aparece no documentário (sim! Clint dirigindo um documentário!) Piano Blues.
A guerra, os mitos do americanismo, sexo, poder & política - aí temos Sniper Americano, A Conquista da Honra, J. Edgar.
Numa filmografia extensa, há ainda vigorosos dramas contemporâneos (Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro, Gran Torino) e até uma incursão pelo mundo do cinema em Coração de Caçador.
E As Pontes de Madison?
E Um Mundo Perfeito?
A assinatura de Eastwood é inconfundível.
O rigor narrativo, uma certa contenção como antídoto a excessos, as marcas de um cinema clássico, mas também muito contemporâneo, os temas musicais mínimos a ilustrar as histórias sempre muitíssimo bem contadas.
O Caso Richard Jewell é um filme hitchcockiano.
Primeiro porque seu personagem principal é um homem acusado de um crime que não cometeu. Como em A Tortura do Silêncio, O Homem Errado e Intriga Internacional.
Depois porque o papel do espectador diante da trama é semelhante àquele estabelecido por Alfred Hitchcock em seu cânone.
O filme não tem heróis. Tem gente comum vivendo na América do final do século passado. O inverso dos heróis, os derrotados.
Tem a ameaça do terror e a cultura do medo, a força (para o bem e para o mal) da mídia, o poder discricionário do Estado e suas instituições.
É com esses elementos que Clint Eastwood conta a história de Richard Jewell, que foi do paraíso ao inferno, de herói a vilão no atentado das Olimpíadas de Atlanta, em 1996.
O drama de Jewell, se contado por outro diretor, talvez nem coubesse num grande painel da América. Cabe porque se transformou num filme de Clint Eastwood.
O Caso Richard Jewell é magistral!
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