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QUAL A BOA?

O que Quentin Tarantino faz são grandes filmes sobre cinema

Publicado em 14/08/2017 às 6:43 | Atualizado em 22/06/2023 às 13:55

De Cães de Aluguel a Os Oito Odiados, Quentin Tarantino dirigiu oito filmes.


				
					O que Quentin Tarantino faz são grandes filmes sobre cinema

O Dicionário de Cinema/Os Diretores, na edição que tenho, é da época em que ele havia realizado apenas os dois primeiros, mas já o apresenta como um dos grandes. Tanto que compara a sua estreia, pelo impacto que provocou, à consagração inicial de Stanley Kubrick e Steven Spielberg. O autor, Jean Tulard, diz que o seu estilo de filmar alterna cenas de violência com longos diálogos e que estes são tão bons que, se durassem uma hora, poucos reclamariam.

Como Kubrick, Tarantino filma pouco. A qualidade sobrepondo-se à quantidade. E, já que Tulard menciona Spielberg, lembro que este, há muitos anos, numa cerimônia do Oscar, defendeu o uso da boa palavra no cinema, como se ela estivesse escassa. Algo que chama atenção em Quentin Tarantino. O crítico Roger Ebert também se impressiona com os diálogos escritos pelo cineasta: “diálogo de tão alta qualidade que é digno de ser comparado com outros mestres da prosa enxuta e rude”, diz Ebert, referindo-se a Pulp Fiction.

Cães de Aluguel, o primeiro filme de Tarantino, começa com uma longa conversa numa mesa. Os homens, que depois veremos envolvidos num assalto frustrado, falam de Madonna, comentam a canção Like a Virgin. A câmera gira enquanto eles conversam.

Semelhante a uma conversa das quatro protagonistas de À Prova de Morte, que falam do carro utilizado em Corrida Contra o Destino, filme do início da década de 1970 que, a despeito de ser cult, nem todos os cinéfilos de hoje conhecem. Das quatro mulheres, somente duas viram e reverenciam Corrida Contra o Destino. Como Tarantino, que vai buscar nos filmes que viu a matéria-prima do seu cinema.

Os filmes de Tarantino recuperam o melhor diálogo do cinema. A prosa enxuta e rude que Ebert enxerga em Pulp Fiction é a mesma que temos nas intermináveis conversas sobre sexo e cinema de À Prova de Morte. Ou no jantar de Django Livre. Elas se alternam com grandes sequências. Ou nos conduzem a elas. E aí surge outro elemento imprescindível ao cinema de Tarantino: a música que ele retira de uma discoteca afetiva, que não precisa existir fisicamente, apenas nas suas lembranças.

No início, poucos bancariam um filme como Cães de Aluguel. Hoje, Tarantino enche as salas do mundo inteiro e, curiosamente, consegue agradar aos que não compreendem o seu complexo jogo de intertextualidade. Mas a percepção mais prazerosa fica para os cinéfilos. Aqueles que se deliciarão com cada cena recriada, com cada referência, com o lixo reciclado, com o que é dignificado por sua maestria e pelo absoluto domínio que tem da arte de fazer cinema.

Tarantino dá o status que um velho filme de kung fu não possui. Ou nos faz ouvir uma música que não ouviríamos em outra circunstância. No final, a forma se sobrepõe ao fundo.

O que Quentin Tarantino faz são filmes sobre cinema.

Imagem

Silvio Osias

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