QUAL A BOA?
RETRO2016/O ano de "Aquarius"
Publicado em 04/12/2016 às 9:39 | Atualizado em 22/06/2023 às 13:55
No cinema brasileiro, 2016 foi o ano de Aquarius. Algumas impressões minhas sobre o filme e Kleber Mendonça Filho, seu realizador:
Acompanho Kleber Mendonça Filho desde quando ele atuava como crítico de cinema no Recife. Excelente crítico. Como os melhores.
Depois vieram os filmes. Surpreendente o curta Recife Frio.
Mais tarde, a estreia na ficção de longa metragem. O Som ao Redor confirmava que Kleber era da linhagem dos cineastas bem-sucedidos quando migram da crítica para a direção. Feito Truffaut ou Godard, os exemplos que logo me ocorrem.
Kleber Mendonça Filho não venceu somente o primeiro grande desafio (deixar de ser crítico para ser cineasta). Acaba de vencer outro: realizar um segundo filme tão bom quanto o primeiro. Ou talvez melhor.
Aquarius é um grande filme. No nível de qualquer grande filme realizado no mundo atualmente.
O tema da resistência, traduzido no comportamento da personagem de Sônia Braga, combina com os que aplaudem o filme com o mesmo sentimento que levou Kleber e equipe a um protesto legítimo contra o governo Temer no Festival de Cannes. Mas seria reducionista vê-lo apenas por esse prisma.
Um filme com os méritos que esse ostenta não pode estar circunscrito às paixões do Brasil de hoje.
Impressiona em Aquarius (como em O Som ao Redor) o fato de que estamos diante de um realizador excepcional. Como nenhum outro que vimos surgir no Brasil desde que o cinema nacional começou a se recuperar da destruição imposta pelo governo Collor.
Kleber Mendonça Filho soube, com maestria, transformar teoria em prática. O que ele escrevia como crítico virou filmes. O domínio da arte de fazer cinema está em cada momento de Aquarius.
A construção da trama, as suas tensões, o texto, as sutilezas da narrativa, as marcas de originalidade, a dimensão humana dos personagens, as referências, a direção de atores, o uso da trilha pré existente, os ruídos de fora - tudo é enormemente bem resolvido. Como já era em O Som ao Redor.
Posso dizer que ver Aquarius é uma experiência fascinante e perturbadora. Mas a verdade é que não há palavras que traduzam o prazer estético de assistir a um filme de Kleber Mendonça Filho!
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