SAÚDE
Câncer de mama: perguntas e respostas sobre a doença
Veja o que mais desperta dúvidas sobre o câncer de mama e entenda como identificar sinais e se prevenir.
Publicado em 09/10/2025 às 5:56

Mais de 73 mil brasileiras podem ser acometidas pelo câncer de mama em 2025, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA).
Em alusão ao Outubro Rosa, campanha dedicada à conscientização que estimula ações de prevenção e detecção precoce da doença, a médica ginecologista Wanicleide Leite, colunista do Bom Dia Paraíba, responde perguntas frequentes sobre a doença e esclarece o que toda mulher deve saber.
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A seguir, confira respostas diretas e acessíveis sobre mamografia, rastreamento, sinais de alerta, tratamento e apoio familiar.
Perguntas e respostas sobre câncer de mama
1 - A mamografia é suficiente para detectar o câncer de mama ou tenho que fazer outros exames?
A mamografia é suficiente, sim. Outros exames complementares só fazem em outras condições, depois que já tem rastreado com a mamografia. A mamografia, ela é o padrão ouro para a proteção do câncer de mama precoce, que é o que a gente espera.
2 - A partir de que idade a mulher deve começar a fazer mamografia?
Com essa nova determinação do Ministério da Saúde, é a partir dos 40 anos. No sistema privado, também indicamos a partir dos 40 anos, porque é onde percebemos a necessidade desse rastreio, por conta das alterações hormonais que iniciam-se aos 40 anos.
3 - Com que frequência a mamografia deve ser repetida?
A partir dos 40 anos, ela deve fazer a primeira mamografia e repetir a cada dois anos. Porém, se a mulher apresenta alto risco, se tem fatores de risco, então essa mamografia é feita anualmente.
4 - O autoexame das mamas ainda é recomendado?
Sim, até por uma questão de educação para adolescentes. Apesar de o autoexame da mama não rastrear o câncer, pois o rastreador é a mamografia, o autoexame funciona como autocuidado. Se a mulher for educada a tocar suas mamas sempre no período pós-menstrual, ela pode perceber alguma alteração. Se for menor de 40 anos e apresentar algo no autoexame, pode-se indicar ultrassom; se estiver acima de 40, até mamografia.
5 - Quais são os sinais e sintomas que devem acender um alerta?
O câncer de mama é assintomático. Não há dor ou algo que avise para a mulher que ela esteja com câncer de mama, exceto em casos avançados, quando se palpa o nódulo fixo, que muitas vezes pode ser percebido por exame clínico ou pela própria mulher. Mas, de modo geral, não há sintoma claro. O sinal de alerta é quando a mamografia informa algo suspeito, aí se avalia a necessidade de punção (biópsia).
6 - Mulheres com casos de câncer de mama na família precisam começar o rastreamento mais cedo?
Sim, porque casos de câncer de mama na família (mãe, irmã, tia) podem indicar fator genético (BRCA1 e BRCA2). Nesses casos, a mulher é classificada como de alto risco e precisa fazer rastreamento anual a partir dos 40 anos, especialmente se o parentesco for de primeiro grau.
7 - Quais hábitos aumentam o risco de câncer de mama (alimentação, álcool, hormônios, sedentarismo)?
O estilo de vida é um dos grandes fatores de risco. Inclui álcool, sedentarismo, pílula anticoncepcional (especialmente de alta dose, que hoje é pouco usada), alimentação que leva à obesidade e própria obesidade. O álcool é um fator de risco forte, pois pode reduzir a imunidade, alterar o sono, entre outros efeitos. Quando falamos em alcoolismo, nos referimos ao uso crônico — hábito de beber grandes quantidades com frequência alta. Se for uso ocasional, mesmo que elevado em alguns momentos, pode aumentar o risco.
8 - O uso de anticoncepcional ou reposição hormonal pode aumentar esse risco?
Na literatura, não se aponta que reposição hormonal seja fator de risco. Depende da forma, da via e se são hormônios sintéticos. Hormônios bioidênticos, especialmente na via transdérmica, não são fator de risco. As pílulas anticoncepcionais de baixa dose, especialmente à base de progestágeno, não têm risco comentado, exceto para mulheres com mutação comprovada BRCA 1 ou 2, estas não devem usar nenhum hormônio (nem progestágeno nem estradiol) nem fazer reposição hormonal.
9 - Gravidez e amamentação influenciam na prevenção?
Sim. Tem muitos trabalhos na literatura dizendo que as mulheres que amamentam, elas de fato diminuem a incidência do câncer de mama. Diferente das mulheres que nunca engravidaram, que nunca amamentaram. De fato, isso é real.
10 - Quando um nódulo é motivo de preocupação?
Sempre que tem o achado de um nódulo, a gente precisa observar observar como ele é visto na mamografia e no ultrassom. Na mamografia, o nódulo é preocupante quando há microcalcificações, isso indica punção biópsia ou até recomendação de retirada. No ultrassom, o nódulo pode não ter calcificação, mas apresentar bordas irregulares; o ultrassonografista avalia e pode indicar a punção.
11 - Se o resultado da mamografia é BI-RADS 3, o que significa na prática?
Significa que existe um nódulo ou imagem, mas que não tem características de malignidade. Quando a mamografia mostra nódulo sugestivo de malignidade, o BI-RADS é 4, não 3. O BI-RADS 3 indica lesão provavelmente benigna. O que se faz? Acompanhamento com ultrassom em seis meses e mamografia anual.
12 - Quais os tratamentos mais comuns hoje para câncer de mama?
Depende da localização, da idade, do estadiamento da doença. Após a biópsia e exames imunohistoquímicos, define-se o tratamento. Pode ser removida apenas a área da lesão (cirurgia conservadora). Em outros casos, é necessário retirar a mama e os linfonodos axilares. Também se decide sobre quimioterapia e radioterapia, antes ou depois da cirurgia, conforme características do tumor.
13 - Toda mulher com câncer de mama precisa retirar a mama?
Não. Há tratamento em que se retira apenas o quadrante lesionado. Em outros casos, pode-se fazer quimioterapia ou radioterapia primeiro e depois pensar em retirada menor. A mastectomia total é menos usada hoje, pois o diagnóstico precoce permite intervenções menos amplas.
14 - O que a mulher pode fazer para reduzir o risco de o câncer voltar?
Mudar o estilo de vida radicalmente: na forma de pensar, nas emoções, nos relacionamentos. Muitas mulheres decidem “virar a chave” e resolver que vão viver de forma diferente. Elas reduzem o estresse, emagrecem, começam atividade física, buscam bem-estar. Tudo vai depender da decisão dela, mas é possível.
15 - Quais cuidados com alimentação e atividade física ajudam durante e depois do tratamento?
A atividade física deve ser leve a moderada, supervisionada, compatível com a condição da paciente. Indica-se fisioterapia e exercícios de baixo impacto. Quanto à alimentação, deve ser mais rica em proteína e menos calórica — isso melhora imunidade e ajuda na perda de peso, se necessário. Essa dieta deve ser acompanhada por nutricionista, considerando fases de quimioterapia, radioterapia e pós-operatório.
16 - Qual é o papel do parceiro(a) ou amigos próximos para ajudar na adesão ao tratamento e na recuperação?
Um papel extremamente importante de colaboração, sem invadir. Às vezes a mulher quer viver esse momento sozinha, e isso precisa ser respeitado. É preciso dizer: ‘estamos aqui’. Mas a ajuda não pode ser invasiva. Algumas pessoas acham que apoiar é apenas estar por perto; a linha entre apoio e constrangimento é tênue. Eu tive uma amiga que, no primeiro ano após o diagnóstico, não queria ninguém perto. É preciso reconhecer que a doença é individual.
17 - Grupos de apoio e associações de pacientes realmente fazem diferença? Como a paciente pode encontrá-los?
Faz toda diferença. A paciente pode buscar por conta própria. Na Paraíba, temos a Rede Feminina de Combate ao Câncer, o Instituto Nemed (Mãos que Apoiam) e a Jampa no Peito (roda de conversa). Essas organizações reúnem voluntários, médicos, mastologistas, enfermeiros e pessoas que oferecem escuta, apoio emocional e orientação.
18 - O acompanhamento psicológico é importante só para a paciente ou também para a família?
Importante para ambos, mas talvez mais para a família. A paciente está focada no tratamento; a família vive apreensão e incertezas. O apoio psicológico ajuda a lidar com emoções, expectativas e a dinâmica familiar.
19 - Quais atitudes dos familiares mais ajudam — e quais podem atrapalhar — no enfrentamento da doença?
Ajudam: saber ouvir, respeitar o espaço, empatia, apoiar decisões, demonstrar afeto sem cobrança. Não ajudam: superproteção, cobranças (“você tem que…”). Pressionar gera angústia e estresse. Apoiá-la, estimular e colaborar é útil; pressioná-la, não. A família também precisa entrar nesse processo de mudança, pois não é só a paciente que enfrenta a doença.
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