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COTIDIANO

Ataques de Israel atingem hospital, imprensa e agência da ONU em Gaza

Dois jornalistas palestinos e três funcionários da ONU se feriram. Diplomacia tenta encerrar conflito que matou mais de mil pessoas.

Publicado em 15/01/2009 às 8:06

Do G1

As tropas israelenses entraram no "coração" da Cidade de Gaza nesta quinta-feira (15), e os ataques intensos feriram ao menos dois jornalistas palestinos e três funcionários da ONU, segundo testemunhas e as próprias Nações Unidas.

Uma explosão atingiu um bloco de edifícios que abriga as sucursais de várias organizações de mídia árabes e ocidentais, inclusive da agência Reuters. Dois cinegrafistas palestinos ficaram feridos, segundo testemunhas.

Jornalistas da Reuters disseram que a explosão, provocada por um projétil israelense, ocorreu n13º andar da torre Al-Shurouq Tower, no bairro de mesmo nome. Os jornalistas deixaram o prédio. O andar atingido abriga uma TV local. O escritório da Reuters fica um andar abaixo.

Em outro bombardeio, o escritório da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) foi atingido por três projéteis e pelo menos três funcionários ficaram feridos, segundo o porta-voz Richard Gunnes. A agência informou que, em virtudo do ataque, interrompeu suas atividades de ajuda humanitária no território. É a segunda vez que isso ocorre desde o início da ofensiva, em 27 de dezembro de 2008.

Após os ataques, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que está em Jerusalém para contatos com o governo de Israel, disse que o número de mortos no conflito chegou a um ponto "insuportável". O Exército de Israel disse que está checando as informações sobre os ataques.

Um hospital da cidade, do Crescente Vermelho (versão islâmica da Cruz Vermelha), também pegou fogo após um ataque israelense, segundo testemunhas e responsáveis pelo centro médico. Não há informações sobre vítimas.

Dezenas de tanques israelenses apoiados pela aviação entraram na manhã desta quinta, pela primeira vez, em profundidade em um bairro da Cidade de Gaza onde os soldados judeus travaram violentos combates com ativistas palestinos desta área controlada pelo movimento radical Hamas.

Os tanques avançaram até o centro do bairro residencial de Tal al-Yawa, no subúrbio da Cidade de Gaza.

As forças israelenses enfrentaram milicianos palestinos que atiravam morteiros e foguetes em sua direção. Uma coluna de tanques se posicionou em um parque público no centro do bairro. Centenas de famílias palestinas fugiram da área.

Veículos blindados também entraram em outros dois bairros de Gaza, em Al-Shujaiya e Zeitun, onde também foram registrados combates.

A aviação de Israel também realizou ataques no norte da Faixa de Gaza. Uma mulher e os três filhos morreram em uma destas operações em Beit Lahya, segundo fontes médicas.

Os grupos armados palestinos também prosseguiram com os lançamentos de foguetes contra o sul de Israel. De acordo com o Exército, 14 foguetes disparados a partir da Faixa de Gaza caíram na manhã desta quinta-feira no país, sem provocar vítimas. Uma casa foi atingida em Sderot, a apenas cinco quilômetros da Faixa de Gaza.

Desde o início da ofensiva israelense na Faixa de Gaza, em 27 de dezembro, em resposta aos disparos de foguetes contra o Estado de Israel, 1.054 palestinos morreram, incluindo 355 crianças e 100 mulheres, e mais de 4.870 foram feridos, de acordo com o último balanço divulgado pelo diretor dos serviços de emergência em Gaza, Muawiya Hassanein.

Os disparos de foguetes contra o sul Israel mataram quatro civis desde 27 de dezembro. No total, 10 militares também morreram desde o começo da ofensiva.

Pressão

O líder do governo do Hamas na Faixa de Gaza, Ismail Haniyeh, pediu nesta quinta à opinião pública ocidental que pressione Israel para acabar com a ofensiva militar contra o território palestino, lembrando as condições do grupo radical para um cessar-fogo.

"Escrevo este artigo aos leitores ocidentais em todo o espectro social e político enquanto a máquina de guerra israelense continua massacrando meu povo em Gaza", afirma Haniyeh em uma carta aberta com o título "Minha mensagem ao Ocidente: Israel deve cessar a matança", publicada na edição desta quinta-feira do jornal britânico "The Independent".

"Os palestinos estão consternados ao ver que os membros da União Européia não consideram este obsceno cerco uma forma de agressão", afirma Haniyeh, antes de acrescentar que o movimento islamita aceitaria um cessar-fogo com condições "claras e simples" que incluem o fim do bloqueio israelense.

"Israel deve acabar com sua guerra criminal e a matança de nosso povo, cessando totalmente e sem condições o cerco ilegal da Faixa de Gaza, voltando a abrir os pontos de passagem da fronteira e se retirando completamente."

Depois disso, prossegue, "poderíamos considerar outras opções".

Haniyeh responde ainda as acusações de que rejeitou o prologamento do cessar-fogo de seis meses com Israel, que expirou em dezembro. Ele afirma que o mesmo havia criado "uma vida infernal" em Gaza, com um "estrangulamento econômico".

"Independente do custo, o prosseguimento das matanças por parte de Israel não quebrará jamais nossa aspiração de liberdade e independência", conclui.


Cessar-fogo próximo?

Ao mesmo tempo, a movimentação diplomática mundo afora dava a entender, na quarta-feira, que o esperado cessar-fogo pode estar próximo. Fontes que falaram à Associated Press sob anonimato disseram que a trégua negociada pelo Egito seria de dez dias.

Um porta-voz do premiê de Israel, Ehud Olmert, disse que Amos Gilad, veterano funcionário do ministério israelense de Defesa, estaria no Cairo na quinta-feira para negociar a trégua.

O Egito informou que vai transmitir a Israel a resposta do Hamas ao plano de cessar-fogo em Gaza, anunciou na quarta o ministro egípcio de Relações Exteriores, Ahmad Abul Gheit. Ele disse ter esperanças de que "as coisas se movam" em relação ao processo de paz.

Fontes diplomáticas citadas pela agência egípcia Mena disseram que o Hamas teria reagido "favoravelmente" à proposta.

O chanceler francês, Bernard Kouchner, também disse que "os contornos de um cessar-fogo se definem".

O chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, teria chegado a assegurar que o Hamas aceitou o cessar-fogo, mas o Ministério de Relações Exteriores da Espanha disse que houve um engano e negou o fato.

Também na quarta, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegou ao Egito para a primeira etapa de uma visita ao Oriente Médio, em que vai tentar avançar no acordo de cessar-fogo em Gaza.

Na chegada, ele voltou a pedir o fim dos ataques. Ele também disse esperar que a iniciativa egípcia pela paz renda frutos "o mais rápido possível".

Um porta-voz da ONU disse que a Assembleia Geral vai fazer uma reunião de emergência para pressionar Israel e Hamas acatem a resolução de cessar-fogo aprovada pelo Conselho de Segurança na semana passada.

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Jornal da Paraíba

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