CULTURA
José Lins do Rego: 120 anos do imortal menino de engenho apaixonado pelo Flamengo
Escritos de Zé Lins compõem o modernismo regionalista que projetou o Nordeste para o Brasil na década de 30.
Publicado em 03/06/2021 às 13:15 | Atualizado em 03/06/2021 às 17:14
Diferentes de outros escritores nordestinos regionalistas, José Lins do Rego tinha uma paixão especial por futebol. Escreveu cerca de 1571 crônicas inéditas no Jornal dos Esportes entre 1945 e 1957. Torcedor fanático do Flamengo, sua paixão começou já tarde na vida, apenas em 1938. Nesta quinta, 3 de junho, são celebrados os 120 anos do nascimento do escritor paraibano, e a trajetória dele marca não só a literatura, mas a história da Paraíba e do futebol no Brasil.
Então, ele passa a ter um envolvimento cotidiano com o futebol. Ser torna sócio do Flamengo e começa a participar da política do time. Se torna dirigente e a chega a ser chefe de delegação durante a primeira excursão do Flamengo para a Europa. Teva a coluna Esporte e Vida do Jornal dos Esportes e assumiu funções no Conselho Nacional de Desportos.
Durante suas pesquisas para o livro 'O descobrimento do futebol: modernismo, regionalismo e paixão esportiva em José Lins do Rego', Bernardo procurou mostrar como a crônica esportiva de Zé Lins tem uma narrativa que se relaciona também com seus romances, retirando o caráter apenas anedótico, pitoresco e folclórico do futebol.
"A crônica esportiva que tem em si tem essa capacidade. Ao contrário do romance em que você lê aquele romance, sozinho em voz baixa, fechado consigo mesmo. A crônica tem essa circulação pelos jornais. Tem essa mobilização. O resultado tem a discussão do dia seguinte. Então eu queria mostrar como havia um ideário modernista que passou pela sua escrita, (...) categorizando e mostrando aspectos estilísticos e de conteúdo que mostram como ele vivia o futebol como um fenômeno popular e como o escritor também devia ter uma relação com as coisas da cultura popular", explica.
Naquele momento do país, nomes vultos da cultura brasileira, Portinari, Villa Lobos, Mário de Andrade, estavam participando na criação do aparelho do Estado Moderno no Brasil. Curiosamente, a inserção de José Lins do Rego vai ser no aparelho governamental estatal dos esportes. Nesta época, sua produção de romances já era anual e o seu renomado Ciclo da Cana de Açúcar estava perto de ser concluído. O período, que abrange suas obras mais faladas como 'Menino de Engenho' (1932), 'Doidinho' (1933), 'Banguê'(1934) e 'Fogo Morto' (1943), não foi apenas uma denúncia da decadência do engenho enquanto instituição brasileira - foi um relato pessoal e sincero sobre o sangue e a terra de um Nordeste em transição.
O cineasta Vladmir Carvalho, grande admirador e diretor do filme ‘O Engenho de Zé Lins’ (2004) descrever seu conterrâneo como
“Aquele que retratou o fim de um ciclo econômico e social, a decadência do patriarcado da cana de açúcar, que foi tão poderoso na região nordestina.”O Ciclo do Cangaço, formado pelos romances 'Pedra Bonita' (1938) e 'Cangaceiros' (1953), narram o misticismo do Sertão com uma linguagem que conhecemos. É familiar o jeito que Zé Lins fala da seca e da sua violência. “Ele participa desse movimento regionalista que defende as tradições regionais, as tradições locais, a culinária, o folclore e a cultura popular; cultura material. E ao mesmo tempo defende a renovação da linguagem e nem tão diferente de outros regionalistas então eles se aproximam de uma coloquialidade, da oralidade e da espontaneidade na procura da caracterização dos tipos populares”, explica o professor o professor e escritor Bernardo Buarque de Hollanda. Junto com seu grande amigo Gilberto Freyre, José Lins do Rego fundiu o regionalismo com o modernismo na década de 30. Durante muito tempo, ideias modernistas e regionalistas estiveram em campos distintos, até por uma certa busca por hegemonia, conforme explica Bernardo. A partir dos anos 30, elas passam a se convergir e narrar o Nordeste como forma de entender seus processos de mudança - saindo de um mundo rural; a formação das elites urbanas e a perpetuação das desigualdades sociais e raciais. A última parte das suas obras são suas publicações independentes, crônicas, críticas literárias e ensaios. Mas, antes de ser José Lins do Rego, escritor consagrado e patrono da 25 cadeira na Academia Brasileira de Letras, ele foi Zé Lins - um homem solitário, moleque melancólico, apaixonado por futebol, pelo riso e pela vida.
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