CONVERSA POLÍTICA
Marcelo Queiroga, agora ministro da Saúde, terá autonomia ou só fará o que Bolsonaro quer?
Publicado em 16/03/2021 às 8:58 | Atualizado em 30/08/2021 às 19:02
Por LAERTE CERQUEIRA
Especialistas em Saúde Pública têm uma certeza: mudar o ministro não adianta muito, se não mudar a política do governo federal de enfrentamento à pandemia.
Outra certeza: o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga tem tudo pra ser melhor do que o antecessor, Eduardo Pazuello, que ainda está de saída. Deixa um legado de trapalhadas e de subserviência nociva ao presidente.
Subserviência que aumentou o número de contaminados, que provocou atraso na chegada das vacinas; que deixou de salvar centenas, talvez milhares, de pessoas.
Mas a certeza do novo nome nos coloca diante de muitas dúvidas. Dúvidas que valem vidas.
As interrogações rondam a cabeça de quem está apreensivo com a nossa tragédia diária, que já soma quase 280 mil mortos.
Como irá se comportar o ministro da Saúde? Marcelo Queiroga fará o que ele acredita como médico respeitado, forjado nas decisões e descobertas científicas, ou fará o que Bolsonaro quer? No caso, o Bolsonaro negacionista e candidato, permanente, à reeleição em 2022.
Perguntas
A lista de perguntas é grande. Queiroga vai defender o uso de hidroxicloroquina e o tratamento precoce, agora ministro? Antes, disse que não defenderia porque não há consenso da comunidade científica.
Queiroga vai defender e usar máscaras em público? O presidente não faz, questiona, e quando usa é de maneira forçada.
Queiroga vai defender, como já fez, o isolamento social como medida de prevenção ao avanço do coronavírus?
Queiroga vai ouvir os conselhos de "viés ideológico" dos filhos de Bolsonaro ou vai ouvir a ciência?
Vamos aguardar. Se repetir a fórmula já existente, sem ou com pouca autonomia, assinará parte do fracasso que conhecemos.
Vacinas
Certeza nessa linha: a de que Queiroga vai ter que apostar nas vacinas para não ser engolido ou rifado pelas pressões sociais; pela pressão do Centrão, que, em parte, se frustou-se com a "indicação familiar"; com com a pressão do colegas médicos.
Como o bolsonarismo já mudou o comportamento diante da necessidade de vacinação em massa, pode ter um ponto temporariamente convergente.
Queiroga vai ter o tempo curto de quem começa no meio da guerra. Precisa dar resultado com o planejamento alheio. Há quem diga que tem habilidade suficiente. Basta saber se terá estômago, ou melhor, coração suficiente. Mandetta e Teich, ex-ministros, médicos, não tiveram.
Com bom trânsito no Congresso, onde participou de dezenas de audiências públicas como presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologistas, espera conseguir apoio político para divergir silenciosamente do presidente. Afinal, divergir publicamente é um risco.
Mas quando suas ideias se chocarem? Não precisamos antecipar.
Agora, o que temos é um médico respeitado, com mais apoio do que desabono; amigo do presidente e da família, eleitor declarado, um pouco até de fã, se considerarmos as dezenas de fotos nas redes sociais.
Mas, nas costas do novo ministro, tem uma política de saúde que pode aumentar ou diminuir, em milhares, o número de mortes de brasileiros, de paraibanos.
Conhecimento para fazer o certo ele tem. Basta saber se fará o que certo como médico renomado e experiente ou se vai apenas obedecer, ser subserviente ao presidente.
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