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ESPORTES

A força da 'Dama de Ferro: os 25 anos de reinado de Rosilene da FPF

 A história do futebol paraibano se confunde com a de Rosilene Gomes, que mesmo afastada da FPF conseguiu fazer o seu sucessor  

Publicado em 02/01/2015 às 7:00

Após 25 anos sem disputa para a presidência da Federação Paraibana de Futebol (FPF), as duas horas de intervalo entre o final da eleição e o início da apuração pareciam pouca coisa. Mas foi uma eternidade para os candidatos das três chapas e para quem esperava ansiosamente pelo resultado da urna.

Após caminhadas de um lado para o outro e muitos diálogos entre os candidatos e seus assessores jurídicos na sala que receberia a apuração, finalmente chegara o momento da contagem de votos.

E foi bem rápido. Amadeu Rodrigues já ensaiava sua comemoração quando começou a ver a quantidade de cédulas formando um “bolo” para a Chapa 1. Mas só quando o interventor da entidade e momentâneo contador de votos, Edir Valengo, pronunciou o resultado, ele comemorou a vitória com seu vice, Nosman Barreiro.

O abraço vitorioso, no entanto, foi logo interrompido por Hilton Souto Maior, um dos seus advogados, que corria apressadamente com um celular na mão: “É a doutora, Amadeu. Ela está chorando. É Rosilene”, disse o jurista. Ele entregou o aparelho para o presidente eleito da FPF, que, em poucos segundos, recebeu os parabéns e, simbolicamente, o trono maior do futebol paraibano, passado pela sua principal cabo eleitoral.

A vitória era também de Rosilene Gomes, que do outro lado da linha, seguia respirando no mundo do futebol, agora por outra via: Amadeu Rodrigues, que pelo menos de fato, assume hoje, às 16h, na FPF, os destinos do nosso futebol.

UM DIA HISTÓRICO
Desde o começo da manhã de 12 de dezembro de 2014, a ex-presidente, que comandou a FPF nos últimos 25 anos, estava acompanhando de perto as eleições. Bem de perto. Rosilene estava numa casa na mesma rua, recebendo visitas a toda hora.

Ela, entretanto, não aparecia em público. Mais tarde, a frente da residência seria o palco da comemoração dos militantes que torciam pela vitória de Amadeu Rodrigues e Nosman Barreiro. Uma vitória - por que não dizer? - também de Rosilene Gomes.

"Eu apoiei Amadeu depois de uma análise que fiz dos projetos dos candidatos. Só isso. A vitória foi do futebol paraibano, foi dos clubes paraibanos", comentou a ex-dirigente.

A eleição de Amadeu, no entanto, não foi fácil. Se a vitória não chegou a ser apertada, também não se pode dizer que foi folgada. Com 37 votos, ele venceu Coriolano Coutinho, irmão do governador Ricardo Coutinho, que somou 29 votos. Em terceiro, João Máximo teve apenas quatro votos. Apesar do pleito equilibrado, Amadeu obteve 52% da confiança do total de votantes. Eles que, após 25 anos, deixaram de eleger Rosilene Gomes, para votar em pessoas que jamais tinham sido candidatas. Eleitorado que sempre aclamou a ex-presidente e, há menos de um mês, colocou um candidato, com o apoio dela, na cadeira principal do primeiro andar do prédio da FPF.

'Era Rosilene' teve início em 89

Em 25 anos à frente da entidade que gera o futebol do Estado, Rosilene Gomes teve tempo para estruturar uma força política inegável, que se materializou na vitória de Amadeu Rodrigues.

Esposa de Juraci Pedro Gomes, presidente da FPF de 1979 a 1985, Rosilene já tinha certa inserção no meio futebolístico em virtude da atuação do marido na presidência da entidade. Em 1989, quando a instituição era comandada por uma Junta Administrativa, ela resolveu concorrer ao pleito que iria voltar a eleger um presidente para comandar os destinos do futebol paraibano.

Rosilene disputou a presidência com João Gonçalves, então deputado estadual, e os dois protagonizaram uma confusão generalizada no dia da votação.

A eleição foi adiada e realizada meses depois, sem a participação de João Gonçalves, que desistiu de concorrer. Rosilene, então, foi eleita para o cargo de presidente da FPF, onde permaneceu até 2014, sempre sendo aclamada pelas agremiações de futebol e reeleita em pleitos sem disputas. Até hoje ela foi a única mulher a presidir uma federação estadual de futebol.

Nesse tempo à frente da FPF, Rosilene foi cada vez mais construindo uma força política sólida no meio futebolístico. Dona de uma fábrica de material esportivo, a ex-presidente por muito tempo distribuiu materiais para as ligas e os clubes amadores do Estado, tornando as agremiações cada vez mais dependentes dos “presentes”. Com os profissionais, ela manteve, por alguns anos, contratos de fornecimento para os uniformes oficiais das equipes.

Afinidade com a CBF não trouxe benefícios

Enquanto o futebol da Paraíba seguia cada vez mais marginalizado no cenário nacional, Rosilene preferia investir na boa relação com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), traduzida na amizade com o ex-presidente da entidade, Ricardo Teixeira, e o atual, José Maria Marin.

Era um trunfo que a ex-presidente gostava sempre de deixar à mostra na mídia, bem como nas paredes do prédio da entidade, que até hoje são preenchidas por fotos dela com os amigos do Rio de Janeiro. No entanto, o clima de boa vizinhança nunca acarretou avanços concretos para o futebol paraibano. De importante, apenas as edições de 2000 e 2001 da Copa dos Campeões - que foram disputadas em João Pessoa, no Estádio Almeidão, e em Maceió, no Rei Pelé, além de três amistosos da Seleção Brasileira (dois da principal, em 1989 e 1992; e uma da pré-olímpica, em 2003).

Com o passar dos anos, a gestão de Rosilene Gomes começou a ser mais criticada por dirigentes e torcedores dos clubes profissionais. Mas ainda de forma tímida.

Os clubes da primeira divisão reclamavam das altas taxas para os jogos e das inscrições de atletas, enquanto outros times eram impedidos até de disputar a divisão de elite por conta de dívidas passadas.

Apesar das reclamações de muitos clubes ficarem mais recorrentes, as eleições realizadas às escuras e o estatuto antigo, que sempre deu um peso grande aos votos das ligas e dos clubes amadores, auxiliavam a dirigente a se perpetuar no poder com facilidade. Mas isso um dia chegaria ao fim.

Crise e ascensão dos times pequenos

Mas nem tudo ia bem no futebol paraibano. O final da década de 1980 e o início da década de 1990 marcaram uma grave crise financeira dos clubes profissionais. Com a exclusão da Paraíba das principais divisões do futebol nacional, por decisão da CBF, os times de mais títulos do futebol paraibano e que mais representavam o Estado nas competições nacionais - Auto Esporte, Botafogo, Campinense e Treze - tiveram que acompanhar clubes de menor expressão crescerem em nível estadual.

Pela primeira vez, Santa Cruz de Santa Rita, Confiança de Sapé e Sousa chegaram ao título paraibano. Enquanto os times menores começavam a ser protagonistas nos campeonatos paraibanos, os grandes sucumbiam à crise financeira. O Botafogo ficou de 1988 até 1998 sem vencer um Paraibano sequer, enquanto o Treze acabou caindo para a segunda divisão do estadual em 1994, voltando à elite apenas em 1996.

Os títulos de times de outras cidades que não João Pessoa e Campina Grande eram benquistos por Rosilene, que chegou a tratar o fato com orgulho, argumentando em entrevistas que isso traduzia uma democracia no futebol paraibano.

"Ninguém pode dizer que beneficio este ou aquele clube. Basta ver quantos já foram campeões em meu mandato. Quer prova maior de isenção?", argumentava a ex-presidente, sem disfarçar a satisfação pela "prova concreta" do que, para ela, significava imparcialidade.

Afastamento em abril

A crescente insatisfação de alguns clubes e dirigentes com a forma de Rosilene Gomes comandar a Federação e com o que parecia ser a sua perpetuação no cargo, não demoraria mais tanto tempo para causar estragos. Os 25 anos pareciam mais que suficientes.

No primeiro semestre deste ano, porém, a história começou a mudar. O Auto Esporte havia entrado com uma ação na Justiça, denunciando possíveis irregularidades nas eleições de 2010 da FPF, ano em que Rosilene foi aclamada como presidente pela última vez.

Segundo as denúncias, o processo eleitoral daquele ano aconteceu envolto a muitas irregularidades, entre elas votos proferidos por entidades que não tinham direito a participação no pleito. A então presidente ainda tentou reunir documentos que comprovassem a regularidade do processo, mas todas foram insuficientes e não teve jeito.

A juíza Renata da Câmara Pires Belmont, da 8ª Vara Cível de João Pessoa, decidiu pelo afastamento da dirigente e determinou que uma Junta Administrativa fosse nomeada imediatamente para assumir o comando da federação.

O último ato

Assim, Ariano Wanderley (ex-dirigente do Botafogo-PB), João Máximo (ex-presidente do Auto Esporte) e Eduardo Faustino (representante do Tribunal de Justiça) foram nomeados interventores da FPF e tinham como missão levantar dados sobre as entidades filiadas e a legitimidade dos dirigentes no último pleito. Mas, principalmente, gerir a entidade em substituição a Rosilene Gomes, que ficaria afastada do cargo até que o mérito da questão fosse julgado ou até que novas eleições fossem realizadas. A princípio, a Junta comandaria a Federação por 90 dias. Mas esse prazo foi sendo estendido com o passar dos meses. E muita investida judicial aconteceu desde então, por parte de Rosilene. Todas em vão.

Desde que foi afastada do cargo de presidente da FPF, ela e seus advogados iniciaram uma saga em busca da retomada do poder. Enquanto a Junta Administrativa tentava assumir as rédeas do futebol paraibano, a "doutora" - como é tratada por muitos no meio futebolístico - investia em recursos que derrubassem a decisão da juíza Renata Câmara. Nessa empreitada, recebeu o apoio de Campinense, CSP, Treze e alguns clubes amadores, que também foram à Justiça na tentativa de recolocar Rosilene novamente no comando. Um a um, todos os recursos foram rejeitados, e a decisão sobre o afastamento da dirigente consequentemente mantida.

Durante os oito meses entre o seu afastamento e as novas eleições para a presidência da FPF, Rosilene Gomes praticamente cessou seu contato com a imprensa. Preferiu se preservar. Quase nenhuma entrevista. Quase nenhuma aparição em público. E o futebol paraibano se arrastava em meio a uma temporada conturbada, com atraso na realização dos jogos do estadual, com o velho problema dos estádios sem condições suficientes para partidas oficiais. A cada fim de prazo para o trabalho da Junta Administrativa, um novo período de "mandato" era concedido. Primeiro a Justiça determinou que os interventores ficariam no comando por 90 dias. Depois mais 30 dias foram acrescentados. E, por último, ficou definido que os novos comandantes da entidade ficariam no cargo por tempo indeterminado até que novas eleições fossem convocadas. E foram.

Como Ariano Wanderley (vice de Coriolano) e João Máximo (que tinha Olavo Rodrigues como vice) entraram na disputa para presidir a FPF, a Junta teve que ser reformulada. Em seus lugares, assumiram Eugênio Nóbrega e Nadir Valengo, que, juntos com Eduardo Faustino, ficaram responsáveis por organizar o pleito. Mas Rosilene Gomes ainda estava em foco. Em meio aos trâmites eleitorais, gerou-se a expectativa: será que ela lançaria candidatura? O silêncio adotado pela ex-dirigente dava contornos ainda mais dramáticos à formação das chapas. Até que ela resolveu quebrar o silêncio: não iria concorrer no pleito. Não diretamente. Mas cravou:

- Entendo que Amadeu é o melhor para a FPF neste momento. Ele tem a bandeira branca, aquilo que sempre preguei. A Federação não é lugar para torcedores. Estou convicta de que é o melhor para os clubes - sentenciou.

Estava lançado o apoio. Rosilene traçava ali - quem sabe? - a sua continuidade no poder. O dia 12 dezembro foi o mais esperado nos últimos 25 anos. Três chapas estavam inscritas com o intuito de substituir Rosilene Gomes. A Chapa 1 era formada por Amadeu Rodrigues e Nosman Barreiro, ex-presidente do Cruzeiro de Itaporanga. De trunfo, o apoio importante da ex-mandatária da FPF. A Chapa 2, no entanto, tinha um sobrenome forte. Era formada por Coriolano Coutinho, irmão do governador Ricardo Coutinho, e Ariano Wanderley como vice. Despontava como a maior esperança de vitória dos opositores de Rosilene. A terceira via ficou por conta de João Máximo, ex-presidente do Auto Esporte, que tinha como companheiro, na Chapa 3, Olavo Rodrigues, ex-presidente do Treze e único nas eleições que representava o futebol de Campina Grande. No fim, a força de Rosilene Gomes no eleitorado falou mais alto e foi determinante para a vitória de Amadeu.

Ela não senta mais naquela cadeira tão importante no prédio da FPF desde abril. E vai seguir sem sentar pelo menos entre 2015 e 2018. Mas tudo indica que vai estar lá de alguma forma. O próprio presidente eleito admite que quer contar com o apoio da ex-dirigente no seu mandato, mas garante que todas as decisões finais serão suas. O quanto o passado vai interferir na futura gerência da entidade maior do futebol paraibano apenas o tempo vai dizer. A partir deste 1º de janeiro de 2015.

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Jornal da Paraíba

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