QUAL A BOA?
Os Rolling Stones são como um luar sobre a noite de Havana
Publicado em 26/12/2016 às 6:27 | Atualizado em 22/06/2023 às 13:55
Andam dizendo que 2016 foi um ano surpreendente. Eleição de Donald Trump, saída do Reino Unido da União Europeia, Nobel de Literatura para Bob Dylan.
Acrescento: o presidente americano em Cuba e um show dos Rolling Stones em Havana. Com o comandante Fidel Castro ainda vivo e o irmão Raul no poder.
Nove meses se passaram desde a noite de 25 de março, e o registro está disponível para vermos nos nossos cinemas caseiros.
É o documentário Havana Moon, que a Som Livre acaba de lançar no mercado brasileiro. O título vem de uma música de Chuck Berry.
Não sem alguma ironia, a voz em off de Keith Richards diz no início do filme que a ida de Barack Obama a Cuba foi como uma abertura para o show dos Rolling Stones.
A estreia da banda em Havana tem significado simbólico forte. Marca o reatamento das relações entre Estados Unidos e Cuba e ilustra os extertores do ciclo de poder dos irmãos Castro.
Se quisermos, o filme é sobre esse tema. Mas com abordagem sutil e olhar simpático e respeitoso.
Houve a Revolução e suas conquistas. E houve o declínio com o fim do subsídio soviético. Os ganhos na saúde e na educação sempre se contrapuseram às restrições das liberdades individuais.
Havana Moon toca nessas questões sem precisar entrar nelas. Indiretamente, aparecem nas falas de Mick Jagger e Keith Richards que abrem o documentário. E no que eles dizem no palco, durante o concerto.
Jagger se estende mais, ao mencionar a censura ao rock.
Richards resume: Havana, Cuba e os Rolling Stones. Isto é incrível!
As imagens falam mais alto. Da memória da Revolução estampada no muro à pobreza do povo.
Jagger conta para a multidão em êxtase que viu a rumba de perto na Casa da Música. O diálogo se dá através da arte. É mais fluente do que nas relações políticas.
Buena Vista Social Club tem um anticomunismo que soa mal. Havana Moon não tem.
É como se os Stones repetissem o que Obama disse ao discursar diante de Raul Castro: que o destino de Cuba está nas mãos dos cubanos.
Aquela alegria toda, no palco e na plateia, é, então, para dizer isso: celebremos com música, mas o destino de vocês está nas suas mãos.
A música que os cubanos ouvem ao vivo pela primeira vez tem seu ponto alto numa "blues suite". É Midnight Rambler, que se estende por muitos minutos e resume o que os Stones são.
Naquela noite de 25 de março de 2016, eles se projetaram como a luz do luar sobre a noite de Havana. Velhos, mas ainda muito intensos.
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