COTIDIANO
Nelma Figueiredo me disse tchau, mas eu ouvi adeus
Publicado em 01/04/2018 às 17:27 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:43
Na tarde da segunda-feira, fomos ao oncologista com ela.
Nelma chegou com a irmã Meg e a amiga Liliane.
Eu já esperava na frente da clínica.
Quando fui ajudá-la a sair do carro, vi que seus pés estavam muito frios.
Na sala de espera, ficamos um de frente para o outro.
Ela ainda me perguntou sobre o concerto de Geraldo Vandré, mas o resto era silêncio.
Um silêncio que "falava" de forma eloquente sobre a consciência da morte próxima.
Na consulta, Dr. Emílio estranhou o meu silêncio. Três dias depois, numa conversa sem Nelma, eu disse a ele que era a tradução da nossa absoluta impotência diante da doença que consumira minha amiga.
O médico, de admirável postura, ainda tentou conversar a sós com a paciente. Dar respostas às perguntas que certamente ela tinha bem guardadas. Mas não conseguiu. Nelma estava recolhida ao seu sofrimento.
Na saída, já acomodada no banco do passageiro, ela me disse: "tchau, Sílvio. Um beijo".
E eu respondi: "tchau, Nelma. Um beijo".
Na tarde da sexta-feira santa, eu estava entre os amigos e familiares que presenciaram a sua morte.
Mas fiquei com a sensação de que já me despedira dela desde a segunda-feira, na saída da clínica.
Ali, com a respiração cansada e a voz sem força, Nelma Figueiredo me disse tchau, mas eu ouvi adeus!
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