COTIDIANO
Violência contra TV Cabo Branco vem do Brasil da barbárie!
Publicado em 08/04/2018 às 7:12 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:43
No final da tarde de sexta-feira (06), eu estava na sede da Rede Paraíba de Comunicação, em João Pessoa, quando chegaram os manifestantes que foram às ruas protestar contra a prisão do ex-presidente Lula.
O prédio me é muito familiar. Comandei a redação da TV Cabo Branco por 20 anos e, hoje, volto uma vez por semana para fazer ao vivo a Sexta de Música, minha coluna na CBN.
Tenho amigos e amigas lá dentro. Remanescentes do tempo em que integrei a equipe da TV e também gente que conheci nos três anos, a partir de 2014, em que estive vinculado ao Jornal da Paraíba.
São homens e mulheres que ali trabalham dignamente. Jornalistas como eu e profissionais de diversas outras áreas.
No momento da manifestação, eu estava no DP. Conversava com três funcionárias do setor sobre a morte da nossa colega Nelma Figueiredo quando as pedras atingiram e quebraram a janela de vidro da sala em que estávamos. Minutos depois, mais pedras, dessa vez no departamento de operações comerciais. Outra janela quebrada. Em seguida, os manifestantes destruíram o portão dos fundos da empresa.
No lado do prédio que dá para a avenida Princesa Isabel (a área atingida pelos ataques), os funcionários deixavam suas salas assustados e corriam para um lugar seguro. Jovens, pessoas de meia idade, algumas (como eu) quase no limiar da velhice, duas grávidas.
Do lado de fora, palavras de (des) ordem e violência. Manifestantes ensandecidos e irresponsáveis a atentar não somente contra as instalações físicas da rede de comunicação, mas contra a integridade das pessoas que ali trabalham.
O que testemunhei na sexta-feira teve grande força para mim. Objetiva e subjetivamente. É o inverso do Brasil que desejamos. Atenta frontalmente contra a nossa jovem democracia - aquela que, com todos os seus defeitos (e são tantos!), vimos renascer há 30 anos, se tomarmos como referencial a promulgação da Constituição de 1988.
De lá para cá, vimos um sociólogo (outrora) de esquerda, um líder operário e uma ex-guerrilheira chegarem ao poder. Episódios que me fizeram crer que Celso Furtado estava equivocado ao dizer, em 1989, que nossas elites eram tão atrasadas que não admitiam nem Dr. Ulysses na presidência.
O que vi na sexta-feira reforça algumas crenças que ainda tenho. Todas elas, certamente opostas às forças que estão nos dois extremos da luta política que se trava no Brasil de hoje. Não será através delas que encontraremos saídas para os nossos impasses.
As cenas da sexta-feira atentam contra a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a atuação dos jornalistas, mas também a existência dos grupos de comunicação. Tudo isso, com erros e acertos, é essencial ao nosso processo civilizatório.
O Lula que chegou ao poder em 2002 não é o Lula de falas extremadas. Pelo contrário, é o Lula da carta aos brasileiros. O Lula da conciliação nacional. Aquele que, no governo, foi capaz de olhar para os que precisavam ser retirados da linha de pobreza, mas, também, de ter como aliados os políticos mais conservadores, banqueiros e grandes empresários. Em nome da governabilidade.
Esses que jogam pedras nas empresas de comunicação e agridem jornalistas nas ruas não me remetem ao Lula a quem dei meu voto na eleição de 2002.
Esses, tal como os fanáticos que, no outro extremo, se unem em torno da candidatura de Bolsonaro ou, ainda, os que defendem a volta dos militares, representam o pior Brasil. O Brasil da ausência de diálogo. O Brasil do ódio e da intolerância. O Brasil da barbárie.
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