SILVIO OSIAS
Hermeto Pascoal, um bruxo de todos os sons, completa 85 anos
Publicado em 22/06/2021 às 6:55 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:51
Começo dizendo que a caricatura que ilustra a coluna é de William Medeiros, grande artista com quem tive a alegria de trabalhar na TV Cabo Branco e no Jornal da Paraíba e de vê-lo em pleno processo de criação.
Nesta terça-feira (22), Hermeto Pascoal faz 85 anos.
É um dos maiores músicos do mundo, no mesmo nível dos grandes músicos do jazz.
Nasceu em Alagoas em 1936. Foi para o Recife. Morou em João Pessoa, onde atuou como pianista na Rádio Tabajara.
Na era dos festivais (segunda metade dos anos 1960), é dele a flauta que ouvimos em Ponteio, que venceu o festival de 1967.
Com o Quarteto Novo, fez um único e grande disco e se mandou para os Estados Unidos.
Lá, trabalhou e impressionou profundamente o último dos gênios do jazz: Miles Davis.
Talvez indevidamente, Davis se apropriou de um tema de Hermeto chamado Igrejinha.
O Hermeto do Quarteto Novo era um.
O Hermeto depois dos Estados Unidos era outro.
Miles Davis havia feito uma das suas revoluções no jazz - a fusão com o rock -, e Hermeto, admita ou não, foi marcado por esse acontecimento.
A despeito de toda a influência do jazz, sua música nunca tirou os pés do Nordeste.
O seu senso de improvisação é extraordinário.
A sua ousadia como experimentador de sons é de uma singularidade estupefaciente.
Vê-lo ao vivo é como se você estivesse diante de algo inacreditável.
O clássico do jazz Round Midnight tocado numa chaleira cheia d'água parece impossível, mas não com Hermeto.
Compositor, multi-instrumentista, tudo em Hermeto Pascoal é música.
Você pede um autógrafo (já vi, estarrecido, essa cena), e ele faz uma música na hora, um tema para improvisação jazzística.
Depois tira a carteira do bolso e mostra a identidade:
"Sou eu mesmo, Hermeto Pascoal" - foi assim que descobri sua idade e o dia do seu nascimento, para nunca mais esquecer.
Hermeto Pascoal é um bruxo de todos os sons que você possa imaginar. E dos que ninguém imagina.
Comemoremos seus 85 anos ouvindo sua música nesse Brasil mergulhado na ignorância e na barbárie.
Esse texto foi escrito ao som do seu álbum gravado ao vivo no Festival de Jazz de Montreux, em 1979.
É um dos grandes e mais lindos discos ao vivo da música popular do Brasil.
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