SILVIO OSIAS
Por falar em Chico Buarque, Roberto Carlos é que é o rei da autocensura e do autocancelamento
Chico Buarque e Roberto Carlos retiram músicas do repertório ou alteram as letras por autocensura.
Publicado em 31/01/2022 às 11:31 | Atualizado em 03/03/2022 às 17:54
Cancelamento, autocancelamento. Censura, autocensura. Chico Buarque, feministas. Com Açúcar, Com Afeto. Pense em temas que estão na ordem do dia desde que Chico falou, no documentário sobre Nara Leão, desse samba composto há 55 anos.
Continuo a achar o samba lindo e não acho o debate inteligente. Lamento que tenhamos ido tão longe em lutas que são tão importantes. Mas o fato é que fomos. Já tínhamos ido com Monteiro Lobato. Lembram? Os Rolling Stones já cancelaram Sticky Fingers. Teremos um futuro sem graça.
Mas o tema da coluna hoje é uma provocação: Roberto Carlos é o rei da autocensura e o autocancelamento. Primeiro, ele tirou do seu repertório Quero Que Vá Tudo Pro Inferno, uma das suas canções mais icônicas e levou décadas para colocar de volta. Depois, tirou a palavra mal da letra de É Preciso Saber Viver. "Se o bem e o bem existe,", convenhamos, ficou ridículo. Também levou anos para devolver o "mal".
E há o caso de Além do Horizonte, lançada originalmente em seu álbum de 1975. É um soft samba, tudo muito cool. Nas suas compulsões, o Rei botou no positivo o que na letra era negativo. Por exemplo: "Se você vem comigo, tudo isso tem valor" foi para o lugar de "Se você não vem comigo...".
No caso do Rei, essas mudanças misturam perigosamente religião com TOC.
Seguem duas versões de Além do Horizonte para as devidas comparações.
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