SAÚDE
Dia Internacional da Visibilidade Trans: onde fazer tratamento hormonal na PB
Dia 31 de março é comemorado o Dia Internacional da Visibilidade Trans; conheça os serviços ofertados à comunidade no estado.
Publicado em 31/03/2022 às 9:01
Nesta quinta-feira (31), é comemorado o Dia Internacional da Visibilidade Trans. A Paraíba possui dois ambulatórios, localizados em João Pessoa e Campina Grande, destinados ao atendimento especializado para travestis e transexuais. Os ambulatórios são voltados para a saúde da comunidade.
Já os Centros estaduais “Espaço LGBT”, além de ofertar atendimento psicológico, oferecem suporto jurídico para quem deseja a mudança de nome e sexo no registro oficial.
Entenda como funciona o tratamento hormonal e também os serviços ofertados para a comunidade no estado:
Ambulatório TT João Pessoa - Fernanda Benvenutty
O Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais de João Pessoa Fernanda Benvenutty fica localizado no Hospital Clementino Fraga, no bairro de Jaguaribe. Foi inaugurado em 2013, sendo o primeiro ambulatório destinado a essa comunidade no Nordeste do país.
O ambulatório conta com uma equipe multiprofissional composta por psiquiatra, endocrinologista, urologista, ginecologista, enfermeiro, psicólogo, assistente social, responsável técnico e gerente.
Para ter acesso aos serviços do Ambulatório TT/PB, o usuário necessita passar primeiro pelo Espaço LGBT (unidade da Secretaria da Mulher e Diversidade Humana) e solicitar o encaminhamento para o atendimento. Após essa etapa, o usuário comparece a uma roda de conversa com a equipe multiprofissional do ambulatório (munido das cópias do RG, CPF e Cartão SUS).
Antes da pandemia, a roda de conversa acontecia toda primeira terça-feira de cada mês, sempre às 14h30. No entanto, o gerente do ambulatório Sérgio Araújo disse que as rodas de conversa devem retornar em maio e os dias serão divulgados em breve.
Esse diálogo é fundamental para tirar dúvidas sobre o que é a hormonioterapia e o processo transexualizador. Todos os profissionais estarão presentes”, Sérgio Araújo.
Após a roda de conversa, os prontuários serão abertos. Em seguida, as consultas para psicólogos, psiquiatras serão marcadas, visto que a pessoa vai começar a hormonioterapia. A partir disso são realizados exames, marcações e demais consultas.
Para as pessoas que moram no interior, as consultas podem ser agendadas através do número (83) 3612-5099.
Segundo o gerente Sérgio Araújo, atualmente são 890 usuários atendidos pelo ambulatório, sendo 26 travestis, 583 mulheres trans e 280 homens trans. No geral, já foram atendidas 9.631 pessoas.
Ambulatório TT Campina Grande - Marcela Prado
O Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais de Campina Grande Marcela Prado foi inaugurado recentemente, no dia 11 deste mês, e está em processo de treinamento. O serviço vai começar a atender a comunidade a partir do dia 11 de abril. A equipe multiprofissional é composta por psiquiatra, endocrinologista, urologista, ginecologista, enfermeiro, psicólogo e assistente social.
A porta de entrada para o atendimento é o Centro de Referência Luciano Bezerra, que funciona na Rua Dom Pedro I, 558, no bairro do São José, em Campina Grande. O acolhimento será feito por profissional da equipe interdisciplinar que desenvolve um plano terapêutico individual, conforme as necessidades de atenção de cada indivíduo.
As pessoas que desejam ter atendimento, precisam pegar encaminhamento através do Espaço LGBT - Luciano Bezerra Vieira. Lá, os usuários fazem um cadastro que serve para manter um controle de informações sobre a comunidade no município. O Espaço também possui assistência jurídica, de forma geral, especialmente para modificação do nome e do sexo em registro. Também possui assistência social e psicológica.
Em ambos os ambulatórios, para garantir o acesso ao processo transexualizador, o usuário deve ter idade mínima de 18 anos.
“As reações foram só no início”
A cabeleireira Yohanna Gomes, de Campina Grande, realiza tratamento hormonal há quase três anos. Ela conta que sua experiência foi um pouco complicada. “Tive um pouco de dificuldade de me adaptar com os efeitos da medicação, porque ela muda todo o seu corpo e seus homônimos de masculino para feminino. Tive reações que nunca pensei ter, mas graças a Deus está tudo tranquilo, foi só no início mesmo”, relata.
Segundo Yohanna, as reações foram mudanças de humor, tristeza e depressão: “mas consegui vencer esse obstáculo”, diz. Ela faz o tratamento hormonal tanto com comprimidos, como através de injeção e do adesivo que é usado no braço.
Yohanna começou seu tratamento no ambulatório TT do hospital Clementino Fraga, em João Pessoa, e atualmente continua seu tratamento em Campina Grande: “agora facilitou minha vida com esse ambulatório aqui em nossa cidade”.
Minha avaliação sobre o procedimento é que foi incrível, inclusive até hoje faço tratamento hormonais", diz
Dúvidas sobre o tratamento hormonal
A endodrinologista Flávia Martins de Freitas trabalha no ambulatório Marcela Prado, em Campina Grande. Ela responde dúvidas recorrentes sobre o tratamento hormonal.
Quais são os hormônios? Em homens trans, o tratamento é com testosterona (cipionato, undecanoato de testosterona, por exemplo) para indução da masculinização. Em mulheres trans e travestis, o regime hormonal é mais complexo, sendo necessário tanto estrogênio como terapia adjuvante, com antiandrogênicos (como ciproterona, espironolactona) para atingir níveis de testosterona na faixa feminina.
Quais os efeitos físicos do tratamento hormonal em homens trans e mulheres trans? Os principais efeitos físicos do tratamento hormonal com testosterona em homens trans que devem ocorrer nos primeiros 6 meses, são: aumento dos pelos faciais e corporais; aumento da oleosidade da pele; aumento da musculatura e redistribuição da massa gorda. No primeiro ano incluem engrossamento da voz, clitoromegalia e queda de cabelo de padrão masculino (geralmente nos predispostos geneticamente).
Na mulher trans pode ocorrer diminuição dos pêlos faciais e corporais, diminuição da oleosidade da pele, aumento do tecido mamário, redistribuição da massa gorda.
Adolescentes podem tomar? De acordo com a portaria número 2.803 do Ministério da Saúde de 2013, a hormonioterapia é a partir dos 18 anos de idade.
Durante quanto tempo os hormônios podem ser aplicados? O tratamento de reposição hormonal em transgêneros é por toda vida ou enquanto durar o desejo do(a) paciente.
Quais são os riscos do tratamento hormonal? Um dos riscos da hormonioterapia é o aumento do risco cardiovascular, devendo esses pacientes terem seu perfil lipídico e a glicemia monitorizados. Além do risco de câncer de mama e útero e trombose venosa profunda.
Por que as pessoas precisam ser monitoradas? Devido aos possíveis riscos da hormonioterapia, a monitorização é necessária para um diagnóstico e intervenção precoces no tratamento dessas complicações, caso necessário.
Quais são os riscos de tomar hormônios sem prescrição médica? Não se deve fazer uso de hormônios sem a prescrição e acompanhamento médicos, pois podem usar dose inadequada (tanto alta na ânsia pelo efeito rápido, quanto doses baixas) e hormônios não apropriados ou seguros para o tratamento, além de não terem acompanhamento para seus possíveis riscos.
É recomendada para pessoas que pensam em cirurgia? A hormonioterapia é recomendada para aqueles que querem fazer a cirurgia, pois ela faz parte do tratamento e contribui para a preparação desses pacientes.
Outras informações A hormonioterapia só deve ser iniciada após avaliação por profissional capacitado em saúde mental e após a certeza do desejo de fazê-la por parte da pessoa avaliada. Esta tem que ser esclarecida sobre o procedimento, seus possíveis efeitos colaterais e importância do acompanhamento, sendo orientada a ter hábitos saudáveis como atividade física, combate ao tabagismo e prevenção de IST. Além disso, deve-se discutir sobre fertilidade, pois o tratamento pode causar infertilidade irreversível.
Endereços para atendimento
- Centro Estadual de Referência dos Direitos de LGBT e Enfrentamento à LGBTfobia da Paraíba - Espaço LGBT - Pedro Alves de Souza (Pedrinho) em João Pessoa/PB: R. Rodrigues de Aquino, 390 - Centro.
- O Centro Estadual de Referência dos Direitos de LGBT e Enfrentamento à LGBTfobia da Paraíba - Espaço LGBT - Luciano Bezerra Vieira em Campina Grande/PB: R. Dom Pedro I, 558 - São José.
- Ambulatório TT de João Pessoa - Hospital Clementino Fraga: R. Estér Borges Bastos, s/n - Jaguaribe.
- Ambulatório TT de Campina Grande - Hospital de Trauma: Av. Mal. Floriano Peixoto, 1045 - Malvinas, Campina Grande.
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