SILVIO OSIAS
"O trabalho de fortalecimento da democracia continuará exigindo rigor, relevância e bom senso"
Publicado em 28/10/2022 às 8:06
Nesta sexta-feira (28), a dois dias do segundo turno da eleição presidencial, a coluna abre espaço para artigo da professora e pesquisadora Ana Elvira Steinbach. Paraibana de João Pessoa, Ana Elvira vive na Califórnia há mais de 10 anos.
A ELEIÇÃO EM FOGO MORTO
Ana Elvira Steinbach
A eleição, numa democracia, é uma paixão. E apaixonados se movem por experiências gratificantes, cegas, uma delas o desejo e a glória de vencer. Quando as pesquisas eleitorais indicam vencedores, naturalmente há os que, indecisos, vacilantes, balançam o coração para sentir aquela explosão de sentimentos que experimenta uma pessoa vencedora, pelo coletivo. Naturalmente é assim. Mas eleger também é despaixão, porque as desilusões se avolumam. Esse é o momento em que, refletindo, comparando, sentindo, vivenciando, as cordas do desejo arrefecem sua própria tensão e nos tornamos céticos da própria paixão. Esse voto, desapaixonado, é o voto da diferença. Da busca pelo ‘ponto G’ da representação.
O segundo turno traz esse cálculo para a razão política.
Vivo pessimamente triste com o meu país. O Brasil que ‘deixei’ em 2012 já não o encontro mais. A esquerda apanha. Lula e Bolsonaro, agora, são meros títeres. A direita se fortaleceu no erro da esquerda. E nós ainda não conseguimos nos fortalecer no erro da direita, não ‘dessa’ direita. Mas acho que Lula vai ganhar. Toma posse? É outro enigma. Governa? Outro. Como terminará o governo? Outro. Hora mesmo das forças democráticas mostrarem o seu pulsar. O trabalho de fortalecimento da democracia continuará nos exigindo rigor e relevância, mais ainda, bom senso.
Essas interrogações surgem por causa da grande frustração gerada pelas mais profundas esperanças e do trabalho por um país melhor para todos, pela educação.
Voltando ao Brasil por esses dias que antecedem a votação do segundo turno, com o olhar de quem estranha o familiar, escutamos e vemos manifestações cada vez mais ilógicas, levadas ao extremo, a ponto de pessoas altamente graduadas imaginarem que um certo doutrinamento se dá nas escolas – jogando o bebê fora, junto com a água do banho – , quando se dá, na verdade, pelas forças midiáticas, pela propaganda, pois somente se implanta uma doutrinação ideológica pelo convencimento das massas. O bolsonarismo de hoje é o petismo de ontem: negam o óbvio da corrupção que tanto “bradaram” combater. Permitam-me uma última pergunta: como será o amanhã? Sem resposta. Mas depende de nossa decisão nas urnas e, depois, da nossa resistência no caminhar para fora do abismo.
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