SILVIO OSIAS
Realidade: Depois de sair da prisão, Lula se reelege presidente e indica seu advogado para o STF
Publicado em 02/06/2023 às 7:17
No início da semana, postei um texto cujo título era "Ficção: Depois de sair da prisão, Bolsonaro se reelegepresidente e indica seu advogado para o STF". O post incomodou leitores e leitoras mais pelo temor de que a ficção se torne realidade do que pela mensagem que havia nas entrelinhas - a possibilidade de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viesse a indicar seu advogado, Cristiano Zanin, para a vaga aberta no Supremo com a recente aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski.
Aconteceu. Não é ficção. Nesta sexta-feira (02), o título da coluna é "Realidade: Depois de sair da prisão, Lula sereelege presidente e indica seu advogado para o STF" (Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação). Não era necessário mencionar a saída da prisão nem a reeleição. É apenas um recurso de escrita que permite a comparação com o título sobre Bolsonaro.
Ter votado em Lula não deve impedir a crítica ao presidente. O eleitor defenestrou Bolsonaro, é importante que Lula tenha sido o vitorioso na eleição de 2022, mas isso não há de blindar o presidente pelos quatro anos do seu terceiro mandato. Numa democracia, a crítica aos erros será sempre necessária e muito normal.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva errou ao indicar o seu advogado, Cristiano Zanin, para uma vaga de ministro no Supremo Tribunal Federal? Errou, sim. Zanin tem saber jurídico? Tem reputação ilibada? Será um grande ministro? Não importa. O caráter excessivamente pessoal fere o republicanismo e macula a escolha.
Bolsonaro foi dura e justamente criticado quando mandou para a Suprema Corte André Mendonça, seu ministro "terrivelmente evangélico". Se foi ruim indicar Mendonça pelo uso do critério "terrivelmente evangélico", imaginem se Bolsonaro tivesse indicado Frederick Wassef, seu advogado.
Fora a oposição, todos aplaudem a escolha de Zanin por Lula. Afinal de contas, o que falta ser normalizado no Brasil? Mas está errado. Do ponto de vista moral e ético, a escolha de Lula é condenável, sim. Botar seu advogado no Supremo aproxima o presidente dos piores métodos, das piores práticas políticas.
A extrema-direita não tem moral para falar mal de Lula. Sergio Moro não tem moral para falar mal de Lula. O que o ex-juiz e agora senador tem é inveja porque a ida dele para o STF foi inviabilizada. Mas o eleitor de Lula tem moral para a crítica ao presidente e seus erros. O eleitor de Lula tem moral para se decepcionar com o presidente.
O Supremo Tribunal Federal tem 11 ministros. São nove homens e duas mulheres. Não faz tanto tempo assim, houve um negro na corte, o ministro Joaquim Barbosa. O Supremo precisa de uma representação melhor do Brasil. Precisa de negros, precisa de mulheres, a menos que não se entenda que essas são exigências dos avanços civilizatórios.
Lula perdeu a chance de indicar um ministro negro. Ou uma mulher. Por que não uma mulher negra? O presidente devia ter ouvido a ministra Anielle Franco. Ou o ministro Sílvio Almeida. Não. O presidente se deixou guiar pelo critério da gratidão. Misturou o que é pessoal com o que não é, e a mistura se chama Cristiano Zanin.
Em outubro de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito para ser diferente. Não para ser igual aos que o tempo todo maculam o jogo político. Cristiano Zanin não é escolha de um presidente positivamente diferente. Zanin no Supremo confirma velhas práticas que o Brasil precisa superar.
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