VIDA URBANA
Tratamento precoce ajuda no desenvolvimento de bebês com microcefalia
O amor das mães tem sido um fator fundamental para o desenvolvimento dos bebês.
Publicado em 23/10/2016 às 6:30
Após um ano do início do surto de microcefalia nos estados do Nordeste, os bebês diagnosticados com a doença já começam a apresentar os primeiros avanços no desenvolvimento físico e mental. Os resultados positivos estão relacionados com a preocupação em estimular precocemente os bebês, através do tratamento com fisioterapeutas, fonoaudiólogos e neuropediatras. Contudo, as conquistas alcançadas não partem apenas dos serviços públicos de saúde, mas do amor de cada mãe que se dedica, acordando cedo, enfrentado quilômetros de distância e abandonando os próprios sonhos buscando melhorias para seus filhos.
Aos 19 anos, a ex-estudante Camila Oliveira engravidou do segundo filho, Caleb Oliveira, que está com seis meses de vida. Ainda durante a gravidez, Camila teve zika e aos nove meses de gestação, os médicos constataram que o bebê dela não havia se desenvolvido como deveria. Caleb nasceu com a chamada Síndrome Congênita do Vírus da Zika, quando apresenta sequelas do vírus, mas não chega a ter microcefalia.
Mesmo em uma condição não tão grave como a de outros bebês, Caleb precisa fazer acompanhamento médico uma vez por semana. Morando em Cubati, no Seridó do Estado, mãe e filho viajam quase duas horas até Campina Grande toda semana para receber atendimento no ambulatório especializado em microcefalia, instalado no Hospital Municipal Pedro I.
Camila conta que os cuidados médicos, unidos aos cuidados amorosos que ela tem, são fundamentais para o tratamento. "Caleb não tinha controle de tronco nem cervical. Eu acredito que o amor e a dedicação que os profissionais têm com meu filho mudou bastante a vida dele. Eu espero que continue tendo essa assistência. Eu espero que continue nessa evolução. Só em ver um sorriso do meu filho, eu já me sinto muito gratificada", disse.
A mãe do pequeno Caleb, que também tem uma filha de 2 anos, abriu mão dos estudos para se dedicar aos cuidados com o filho, mas pretender voltar a estudar para realizar o sonho de ser médica e poder cuidar ainda mais do bebê. "Eu tenho uma filha de 2 anos, mas Caleb veio pra me completar e me dar aquela força para que eu soubesse que conseguiria suportar tudo isso. Para tudo tem um propósito, a gente só carrega aquilo que a gente consegue. Eu quero terminar meus estudos e estudar medicina para cuidar do meu filho", revelou.
Microcefalia ainda é mistério para mãe que não teve zika
A dona de casa, Germana Ferreira, 23 anos, é mãe de Antonny Gabriel, que tem 10 meses e também foi diagnosticado com microcefalia no primeiro mês de vida. Germana conta que não apresentou sintomas da zika durante a gravidez, e que por isso ainda procura respostas para o motivo de seu filho ter nascido com microcefalia. A única hipótese até agora é a de que o marido dela, Poliano Firmino, tenha passado o vírus para o bebê durante a gestação.
O casal mora na cidade de Areia, no Brejo Paraibano e enfrenta um percurso que chega a durar mais de 1 hora para o tratamento de Antony, em Campina Grande. Embora os esforços não sejam fáceis, os resultados do acompanhamento médico são a motivação para que a luta pela vida do filho continue. “Ele [Antonny] agora fica mais em pé e já quer se arrastar pela cama. Graças a Deus tem bastante avanço com relação a isso”, disse Germana, afirmando ainda que ela e o filho são duas vidas em uma só.
Evolução dos bebês com microcefalia impressiona especialista
A constante evolução dos bebês com microcefalia ou diagnosticados com Síndrome Congênita do Vírus da Zika tem impressionado a médica especialista em medicina fetal, Adriana Melo, que também foi responsável pela descoberta da relação da doença com o vírus da zika. Ela explica que dois fatores influenciam no desenvolvimento do bebê, a lesão e o tratamento precoce da doença.
"A gente tem dois fatores que influenciam no desenvolvimento. Um é o grau de lesão, porque umas têm um grau maior e outras menor. Independente do tipo de lesão, quando elas fazem estímulo precoce, se comparadas com as que vão chegando mais tarde a gente vê que a evolução é maior”, explicou a médica.
Adriana Melo também alertou para a importância de que os bebês recebam acompanhamento médico desde a gravidez até os primeiros meses de vida, citando casos em que não houve desenvolvimento do bebê por falta de tratamento. “Chegam crianças pra gente, como chegou do interior da paraíba, que não deglute, ao contrários das que nós já atendemos. Às vezes parece poucas conquistas, mas para a doença, são conquistas enormes. Essas crianças têm nos surpreendido”, pontuou doutora Adriana.
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