COTIDIANO
Ônibus de João Pessoa passam a circular sem 'cobrador' e população reclama
Posto é acumulado pelo motorista do veículo, o que tem causado transtorno e demora na hora de cobrar pela passagem.
Publicado em 20/01/2015 às 8:10 | Atualizado em 28/02/2024 às 17:20
Cada vez mais ônibus que circulam por João Pessoa estão deixando de lado a figura dos cobradores. O posto está sendo acumulado pelo condutor dos veículos. Segundo os passageiros, isso está acontecendo há alguns meses, o que tem prejudicado motoristas e usuários dos transportes coletivos.
Conforme o Ministério Público do Trabalho, não há irregularidades na supressão da figura dos cobradores, contudo é necessário que todos sejam fiscalizadores para evitar condições de trabalho e prestação de serviço inadequadas.
A dona de casa Lucelândia da Silva depende do ônibus 512, da empresa Marcos da Silva que faz a linha que vai até o bairro São José, para se deslocar diariamente. Segundo ela, essa retirada dos trabalhadores é prejudicial a quem depende de ônibus, pois geralmente ela já espera até 30 minutos por um ônibus e com essa mudança a espera chega a ser maior. “O motorista demora muito porque além de dirigir agora ele também tem que passar troco. E fora o perigo, né? Porque às vezes ele dá a partida e fica dando o troco para algum passageiro, daí a gente acaba correndo perigo também. Está péssimo assim”, comentou.
A assistente administrativo Rafaele da Silva, que ontem pegou o ônibus 509, que faz a linha que vai até o bairro João Agripino, uma vez questionou o porquê da mudança e um motorista chegou a dizer que isso ia acontecer em toda a cidade. “Ele disse que era para economizar, porque cada vez menos gente vem pagando com dinheiro, o que faz com que precise cada vez menos de troco. De qualquer forma, eu já vi motorista tendo que levantar para dar troco a uma mulher grávida que entrou por trás. Isso tudo tem prejudicado e muito a gente”, lamentou.
Um motorista de ônibus, que preferiu não se identificar para evitar retaliações, confidenciou que um acordo foi feito com a classe e nas folhas dos profissionais foi acrescido o valor de R$ 200 para que as duas funções fossem acumuladas. “Isso está sendo muito ruim. Diversos amigos meus ficaram desempregados e agora a gente tem que fazer tudo. Isso está acontecendo há aproximadamente três meses e a previsão é que em alguns anos todos os ônibus estejam dessa forma, só com os motoristas”, afirmou.
Conforme o presidente do Sindicato dos Rodoviários da Paraíba, Antônio de Pádua, essa foi uma medida autorizada pela Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de João Pessoa (Semob) e acordada com a classe. Ele garantiu que não houve nenhuma demissão devido a essa mudança e ela não afeta nem 20% do efetivo total. “Apenas as empresas que fazem a linha da Torre, João Agripino, São José, Castelo Branco, Ceasa e Cristo foram autorizadas e nenhuma outra irá aderir a essa mudança. Isso só aconteceu em linhas que não tinham muita circulação de dinheiro e mais pessoas que pagavam com cartão e os funcionários foram reaproveitados”, garantiu.
O superintendente da Semob, Roberto Pinto, ratificou que a medida só foi tomada por conta da baixa necessidade da presença dos funcionários em algumas linhas e estes são casos específicos em que, para viabilizar tecnicamente o atendimento de uma linha a determinada comunidade se torna viável a retirada do cobrador. “Para ter uma ideia, existem linhas que em uma viagem inteira só pega quatro ou cinco pessoas que pagam em dinheiro, o que acaba onerando o sistema, porque isso tudo é avaliado na hora de formularmos o preço da tarifa. Como o nosso foco é atender a população, uma forma de avaliar é deixar o custo operacional menor, por isso essa medida”, explicou.
Segundo o procurador do Trabalho Paulo Germano, não existe ilegalidade na retirada dos cobradores, no entanto existe um procedimento investigatório por meio do qual o Ministério Público do Trabalho (MPT) acompanha a questão. “É preciso informar que todos os casos de abuso devem ser levados ao conhecimento do MPT, pois é preciso que haja uma preservação de uma condição de trabalho adequada. Os motoristas que se sintam prejudicados podem entrar em contato por meio do 3612-3100, já os consumidores devem procurar a Procuradoria do Consumidor”, orientou.
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