VIDA URBANA
Números da violência: uma pessoa é vítima de estupro por dia na Paraíba
Entre 2011 e 2014, houve um crescimento de 38,4% no número de estupros no Estado, segundo levantamento da Senasp.
Publicado em 16/10/2015 às 9:00
Cinco anos de idade e marcas que a acompanharão para toda a vida. Marília (fictício) foi estuprada por seu tio em outubro do ano passado três vezes. Sabendo que era algo errado, a menina avisou aos pais, que acionaram a polícia. O caso de Marília, que ocorreu no município de Queimadas, Agreste da Paraíba, é um dos 367 de pessoas (entre mulheres e crianças) que foram vítimas de estupro no ano passado. Elas contabilizaram a média de um estupro por dia no Estado. Os dados foram divulgados ontem pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) e fazem parte do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisional e sobre Drogas (Sinesp).
No ranking do Nordeste a Paraíba está em 8º lugar no número de estupros ano passado. Os três Estados com maior número são Bahia (2.683), Pernambuco (1.582) e Ceará (1.561). O Estado com menor número de casos é o Rio Grande do Norte, com 297.
No país, São Paulo foi a unidade da federação com mais registros, totalizando 10.026 em 2014.
Segundo a pesquisa, entre 2011 e 2014 houve um crescimento de 38,4% no número de estupros registrados no Estado. Enquanto em 2011 ocorreram 265 estupros, o que dava uma média de 6,99 casos a cada 100 mil habitantes. No ano seguinte, houve um aumento de casos, saltando para 336 ocorrências, uma média de 8,81 por 100 mil. Em 2013 esse número teve um leve decréscimo, foram 310 ocorrências, cerca de 7,92 por 100 mil. No ano seguinte, contudo, os números voltaram a crescer, levando o Estado a registrar uma média de um estupro por dia, com 367 estupros, uma média de 9,31 por 100 mil.
O relatório especificou que as informações são relativas à soma de todos os casos de estupro (relativo a crianças ou adultos), caracterizado pelo constrangimento de alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que, com ele, se pratique outro ato libidinoso. Esses números, para a coordenadora do Centro 8 de Março, Irene Marinheiro, são assustadores e representam que, apesar de todo esforço empenhado, os números continuam crescentes, chegando a ser bem maiores que os divulgados, por conta da subnotificação.
“Apesar de todas as nossas lutas, no âmbito da proteção às mulheres e também às crianças, ainda nos surpreendemos com um dado alarmante desses, e o pior é saber que eles representam apenas aqueles casos em que as pessoas escolheram denunciar. Acontece muito abuso sexual que é silenciado, principalmente em classes mais altas e no interior do Estado”, disse.
A subnotificação, para Irene, é resultado do medo, da rejeição, do preconceito e até das retaliações por parte dos agressores e, apesar de ser recorrente em mulheres, ocorrem em sua maioria nas crianças. “A gente sabe que esse silêncio em torno da violência sexual acontece nas famílias, que acobertam. Isso principalmente com crianças, que são ainda mais indefesas. Por um lado os números são crescentes, mas por outro isso não indica só o aumento de estupros, porque eles sempre ocorreram, mas estão deixando de ser tão camuflados”, disse, ressaltando que uma solução para a diminuição dos índices seria a implementação de políticas públicas, mais segurança e ampliação das políticas para o interior.
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