VIDA URBANA
Gravidez precoce atinge cada vez mais paraibanas e gera preocupação
No ano passado, 19,3% dos partos realizados na PB foram de gestantes entre 10 e 19 anos de idade, revela SES.
Publicado em 14/02/2016 às 8:00
Uma gravidez inesperada interrompeu os estudos e a adolescência de Rayanne Kelly Santos. Com o filho no colo, e hoje com 18 anos, ela revela estar há três sem estudar e ainda sem perspectivas, pois ao seu lado tem um filho pequeno para criar e educar. Assim como ela, mais de 10 mil meninas entre 10 e 19 anos tiveram filhos na Paraíba em 2015, o equivalente a 19,3% do total de partos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) naquele ano, isso dá uma média de 30 partos de adolescentes por dia.
Segundo especialistas, a gravidez na adolescência é um problema que precisa ser enfrentado com mais afinco, tendo em vista as implicações disso não somente para as adolescentes, mas também para as crianças.
Ao todo, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba (SES), nasceram 56.394 bebês no Estado no ano passado. Desses, 10.921 foram de mães que tinham entre 10 e 19 anos de idade. Outros 28.220 foram de mães que tinham entre 20 e 29 anos. Ainda foram registrados 15.905 partos de mães entre 30 e 39 anos, 1.343 de mães com idades entre 40 e 49 anos e outros 5 partos de mães com 50 anos ou mais.
De acordo com o Ministério da Saúde, não há dados nacionais ainda computados com relação ao ano passado de todos os Estados, o que impossibilita realizar uma comparação entre a realidade da Paraíba e do país naquele ano. Contudo, conforme dados compilados pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) relativos ao ano de 2014, a Paraíba superava a média nacional com relação à gravidez na adolescência.
Naquele ano, 23 de cada 100 partos realizados no Estado foram de meninas entre 10 e 19 anos. No país, a média era de 20. Os dados foram retirados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS).
Gravidez impacta vida de adolescentes
Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a gravidez na adolescência impacta diretamente na vida de meninas, geralmente residentes em periferias e já com poucas perspectivas futuras. Segundo estudos, cerca de 30% das adolescentes engravidam novamente no primeiro ano pós-parto e entre 25% e 50% no segundo ano pós-parto, o que torna ainda mais difícil a reintegração da mãe à escola e ao mercado de trabalho. Entre as adolescentes que têm filho, 75,7% não estudam e 57,8% não estudam, nem trabalham.
Outro fator importante é com relação à incidência de mortalidade infantil. Segundo a Febrasgo, ela é, em média, quatro vezes maior nas mães adolescentes quando comparada à média de mães com idade acima de 20 anos. Isso se explica principalmente devido ao aumento da prematuridade e do baixo peso ao nascer, que podem predispor o recém-nascido a infecções, hipoglicemia, hipóxia e atraso no desenvolvimento psicomotor.
As mães adolescentes também têm um maior risco de complicações durante a gestação e mortalidade, sendo o parto a principal causa de morte de mulheres jovens entre 15 e 19 anos em países em desenvolvimento. Outros problemas comuns enfrentados pelas gestantes adolescentes são a depressão e a ansiedade, que tendem a ser mais frequentes quando comparados com grávidas adultas. Além do impacto na vida das mães, conforme informações da Febrasgo, filhos de mães adolescentes também correm maior risco de abandono, menor adaptação escolar e distúrbios de comportamento.
Taxas da Paraíba são altas
Segundo o presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia da Paraíba (Sogopa), Roberto Magliano de Morais, o percentual apresentado pela Paraíba é alto e preocupante. Ele comentou que, em países desenvolvidos, o percentual é de 2,9% do total de nascimentos fruto de gestações de adolescentes, enquanto a da Paraíba e do Brasil se equipara à de países subdesenvolvidos, como a África. O problema da gravidez na adolescência, conforme o médico, envolve questões que vão além das físicas. “Envolve problemas emocionais, sociais, econômicos, trazendo consequências devastadoras para toda a família da adolescente”, destacou.
Prematuridade, risco de abandono, déficit de aprendizado e problemas comportamentais são algumas das consequências que as crianças podem sofrer em caso de ser filho de uma mãe adolescente, que não estava pronta para enfrentar uma gestação. “Outro fator importante é que, por não estarem preparadas, as mães correm mais risco de morrer, pois costumam esconder da família e acabam realizando abortos inseguros”, comentou. E não são só pessoas mal informadas ou de classes sociais mais baixas que estão vulneráveis a uma gravidez precoce.
“A gravidez na adolescência é um fato, a diferença é o impacto que ela tem na vida de uma mãe mais pobre. A solução seria fazer uma política de planejamento familiar. Era preciso que houvesse profissionais preparados para atender e ensinar às meninas tudo sobre seu organismo, prevenindo. E em caso de gravidez, já fazer com que elas saiam da rede de saúde com um método seguro de contracepção, pois é grande o número de adolescentes que voltam a engravidar até mesmo um ano depois da primeira gravidez”, destacou.
Além dos métodos de prevenção de longa duração, como o DIU, que são mais eficazes, o médico alertou que as mulheres também têm que usar a camisinha. “Pois não é só a gravidez que tem que ser evitada, mas também diversas Doenças Sexualmente Transmissíveis”, completou.
Número de partos na PB em 2015 e idade das mães
56.394. Bebês nasceram no Estado no ano passado.
10.921. Foram de mães que tinham entre 10 e 19 anos de idade.
28.220. Foram de mães que tinham entre 20 e 29 anos.
15.905. Partos foram de mães entre 30 e 39 anos.
1.343. Partos foram de mães com idades entre 40 e 49 anos.
5. Partos de mães com 50 anos ou mais.
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