VIDA URBANA
'Garrafadas' ainda são usadas como remédio
Costume de tomar xaropes e chás à base de ervas permanece forte na cultura paraibana.
Publicado em 18/11/2012 às 15:00
Problemas de coluna, no pulmão, rins, reumatismo, inflamação urinária e na próstata, cisto no ovário, corrimento vaginal, gastrite e até impotência sexual. Eis algumas promessas de cura de doenças a partir das bebidas seculares produzidas à base de raízes e ervas, as chamadas garrafadas, que são vendidas nas feiras livres de Campina Grande e que pretendem dar um fim a esses males. Um costume que confronta fé e cientificidade, que além da desconfiança em sua eficácia ainda precisa lutar contra a indiferença imposta ao senso comum perante a cultura moderna.
Variedade na bebida não é problema: cascas de cajueiro-roxo e aroeira, unha de gato, alecrim, angico, arruda, eucalipto, jurema, mastruz, romã, nó-de-cachorro, cumarú, babosa e barriguda são apenas alguns dos muitos ingredientes que combinados e adicionados à água e outros solventes, como vinho, cachaça e uísque, podem ajudar no combate a enfermidades que começaram a ser tratadas antes mesmo do aparecimento dos remédios sintéticos. É o que aponta o professor, farmacêutico e especialista em Botânica Ivan Coelho Dantas, que pesquisa a ação das garrafadas e aponta a eficiência dos compostos.
“Todas as garrafadas têm atividades farmacêuticas, elas devem ser encaradas como medicamentos. Tomadas na hora certa, na quantidade certa, elas vão ajudar a curar vários tipos de doenças.
Por falta de assistência médica, a população recorre à alternativa das preparações caseiras e isso dá certo há séculos. É uma cultura que passa de geração para geração e tem que ser valorizada. Às vezes ela pode até nem fazer efeito, mas quantos medicamentos de farmácia também não funcionam ou apresentam efeitos colaterais indesejados?”, questionou o docente da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
E foi nesse universo de fé e experiências com a natureza que Inácia Firmino, 70 anos, sendo 58 deles dedicados ao convívio entre plantas e raízes, passou sua vida para se transformar em uma espécie de doutora-raiz. Em sua banca na Feira Central de Campina Grande desde a década de 1960, ela comercializa as garrafadas e tem dezenas de ingredientes que, segundo ela, quando combinados, têm o poder de, além de curar doenças, ajudar até a gerar uma vida. “Se a mulher tem dificuldade de engravidar, aqui a gente tem um remédio que limpa todo o sistema reprodutor e ela vai conseguir ter um filho”, prometeu dona Inácia.
Ao longo das décadas, a aposentada testemunhou diversas histórias de cura de problemas de saúde, como a da comerciária Júlia Oliveira de Sousa, 44 anos, que há dois foi diagnosticada com um cisto no ovário e que aproveitou para tomar a garrafada que deu para a filha tratar o corrimento vaginal e se surpreendeu com o resultado. “Minha mãe foi quem indicou que eu comprasse a garrafada para minha filha. Quando o problema dela acabou, eu descobri que tinha um cisto no ovário. Aí a primeira medida foi tomar a bebida das raízes e um mês depois eu fiquei boa”, garantiu Júlia.
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