COTIDIANO
Areia da praia esconde perigos que podem causar danos à pele
No verão, os organismos marinhos se deslocam para a parte rasa do mar e podem provocar acidentes em banhistas desatentos.
Publicado em 11/01/2015 às 9:30 | Atualizado em 29/02/2024 às 10:35
Um banho de mar nem sempre pode ser algo refrescante e relaxante. Isso porque a praia esconde perigos que muitos não notam ou sequer sabem. Trata-se da presença de animais – marinhos e terrestres – e demais organismos vivos que, em contato com a pele, causam feridas e outros danos à saúde, representando transtornos para banhistas logo em um período propício para o descanso.
A especialista em biologia marinha, Rita Mascarenhas, faz questão de alertar que o verão é a época em que as águas vivas (ou caravelas do mar), por exemplo, se deslocam para a parte rasa do mar, onde a maioria se encontra, buscando alimentos. “A única coisa a ser feita é prestar bastante atenção na presença desse bicho e, se encontrá-los em grande quantidade, o aconselhado é não entrar na água para evitar riscos de acidentes”, observou.
De acordo com ela, ao contrário do que alguns pensam, o animal não causa queimaduras, mas, sim, um tipo de envenenamento. “Eles possuem mini ampolas com agulhas nos tentáculos. Quando a pessoa encosta nelas, as agulhas liberam uma espécie de veneno, uma substância que funciona como um anestésico para paralisar peixes e animais que eles comem”, explicou.
Para o tratamento destas lesões, Rita recomenda que a vítima não esfregue a região afetada, principalmente as bolhas, nem lave com água doce. Segundo a bióloga, o mais indicado é que seja utilizada a própria água do mar e que sejam feitas compressas no local. “Líquidos como soro fisiológico e vinagre também são muito bons. Além destes produtos, estudos mostram a eficácia da urina em casos assim”, afirmou.
Fora isso, a dermatologista Patrícia Marques destaca o uso de cremes anti-inflamatórios. “Nossa abordagem é semelhante àquela feita nas queimaduras. Sendo assim, prescrevemos cremes que têm corticoide em suas composições. Eles são comprados em farmácia, não precisam de receita e ajudam bastante. Devem ser, de preferência, moderados: nem fracos, nem de alta potência”, ressaltou.
Bicho de pé - É o nome popular dado à infecção parasitária acarretadas por pulgas fêmeas de suínos, que penetram nas solas dos pés ou debaixo das unhas e geram sensação de desconforto. Conforme a dermatologista Patrícia Marques, a extração delas, que não causam complicações, é feita de forma simples e rápida. “Pode ser feita em casa mesmo, com uma agulha esterilizada. É só tirar e depois passar um antisséptico”, esclareceu.
Fezes de cachorros deixadas na praia contaminam a areia com vermes
Larvas migrans cutânea. Pelo nome científico, quase ninguém conhece, mas o parasita (ou ancilostoma), chamado popularmente como bicho geográfico, é bastante falado por causar dores de cabeça aos frequentadores das praias. E o desleixo não vem somente dos banhistas, mas de donos de cachorros que levam os bichos para passear na areia e esquecem de recolher as fezes deixadas por eles. Quem reclama é a bióloga Rita Mascarenhas.
“Precisamos nos preocupar com essa poluição, porque ela deixa proliferar na água e na areia organismos que não são naturais dali. As fezes dos cachorros produzem protozoários, vermes, entre outros agentes infecciosos que podem contaminar as pessoas que andam ou sentam na praia”, sublinhou.
Segundo a dermatologista Patrícia Marques, o bicho geográfico, procedente dos dejetos dos cães, vai fazendo, ao entrar na pele, um trajeto subcutâneo e produzindo marcas. “Ele pode entrar em várias áreas. Caso a pessoa esteja com um, a dica é passar gelo no local afetado. Depois é necessário um tratamento oral e tópico com comprimidos e pomadas antiparasitárias”, orientou, acrescentando que areias contaminadas ainda podem acarretar micoses.
“Para prevenir, o ideal é estar sempre calçado e, quando chegar em casa, procurar lavar bem os pés e enxugá-los, porque os fungos, que causam a micose, gostam de umidade. Agora, se a pessoa já tiver com a doença de pele, precisa tratar com antimicóticos, que são cremes encontrados na farmácia”, completou.
A enfermeira Luana Kelly Medeiros, de 28 anos, passeia quase que diariamente nas praias da orla da capital com seu cão e não abre mão de recolher as fezes dele, pois sabe dos problemas que podem trazer. “Sempre ando com saquinhos para quando ele faz as necessidades fisiológicas. Acho importante cuidar disso para não prejudicar os outros”, opinou.
Rita Mascarenhas chama a atenção para uma prática habitual entre os visitantes das praias: o ato de deixar restos de comida na areia. “É amendoim, ovo cozido, vários restos orgânicos que são atrativos para ratos e permite que eles se reproduzam com facilidade. E vale lembrar que estes bichos podem transmitir mais de 42 doenças para os humanos. Leptospirose, peste bubônica são alguns exemplos”, apontou.
Emlur mantém seis equipes atuando em toda orla de João Pessoa
Segundo o superintendente Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (Emlur), Lucius Fabiani, para cuidar da areia das praias de João Pessoa, o órgão vem desenvolvendo ações voltadas para limpeza e tratamento.
“A gente procura minimizar esse impacto por meio dos serviços de catação e das coletas. Temos seis equipes trabalhando só na praia, de Barra de Gramame até o Bessa. E além destas equipes, contamos com duas máquinas – dois tratores – que tiram a sujeira escondida nas areias para que a gente possa fazer o peneiramento”, citou, complementando que outras equipes atuam varrendo as calçadas.
Fabiani ainda comentou sobre as dificuldades de manter os espaços da orla livre de contaminações e detritos, uma vez que os banhistas não costumam colaborar com a manutenção do trabalho da Enlur.
“Cuidar da areia da praia é muito complicado. Obviamente, todos sabem que quem suja a praia são pessoas, que não levam sacola para jogar o lixo, que consomem alimentos e deixam por lá estes materiais, sem falar que eventualmente se vê cachorro com os donos. Tudo isso é causado pela ação humana”, finalizou.
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