CULTURA
Sessão animada com os Beatles
Com sua arrojada produção, concepção de arte e, claro, sua trilha sonora irresistível, Yellow Submarine está de volta às lojas, e em alta-definição.
Publicado em 16/08/2012 às 6:00
Quando o empresário Brian Epstein avisou aos Beatles que havia fechado um acordo para um filme de animação e sua respectiva trilha sonora, os Fab Four não pareceram muito interessados.
Como o contrato estipulava que os Beatles deveriam fornecer pelo menos três faixas inéditas, John, Paul, George e Ringo acabaram por entregar quatro “sobras”, se é que se pode chamar de sobra as canções ‘Only a northern song’, ‘All together now’, ‘Hey bulldog’ e ‘It’s all too much’.
Aquela época, já com três filmes no currículo – A Hard Day’s Night (1964), Help! (1965) e Magical Mystery Tour (1966) – os Beatles não pareciam muito entusiasmados com a notícia de que seriam estrelas de um longa-metragem em animação. Afinal, em 1968, o mundo do cinema tinha a Disney, com seus fofinhos contos de fada, mas ainda não tinha a Pixar, com sua pegada mais rock ‘n’ roll.
Mesmo assim, Yellow Submarine, o tal longa-metragem criado a partir da canção de Lennon & McCartney sobre “a odisseia moderna de um homem que foi viver no fundo do mar”, se tornaria um marco da animação, com sua arrojada produção, sua concepção de arte e, claro, sua trilha sonora irresistível.
Depois de anos fora de catálogo, o desenho animado dos Beatles está de volta às lojas, com uma nova restauração que embarca no mundo da alta-definição. Remasterizado em 4K (cuja resolução é quatro vezes maior que as 1080 linhas das atuais TVs full HD), o lançamento da EMI sai em DVD e blu-ray, em luxuosas embalagens digipack que incluem transparências com os quatro personagens principais, um livreto com texto assinado por John Lasseter (justamente da Pixar) e notas de produção.
Integra o pacote a trilha sonora homônima, mas não a de 1969, lançada no ano seguinte à animação, com apenas seis faixas e os temas orquestrados por George Martin, mas aquela de 1999, lançada na esteira da chegada do filme ao DVD, com 15 canções que estão no longa. O CD, vendido separadamente, ganhou a remasterização que a EMI vem aplicando ao catálogo dos Beatles desde 2009.
Apesar de meticulosamente restaurada - em função da natureza delicada da arte gráfica original, desenhada à mão, nenhum software foi utilizado no processo; foi tudo feito manualmente, frame a frame – o novo DVD de Yellow Submarine não traz extras inéditos.
Por aqui, encontram-se o mesmo making of de pouco mais de 7 minutos, o ‘Mod Odyssey, bastante informativo, entrevistas com dubladores e equipe técnica, trailer original, sequências do storyboard, 29 desenhos a lápis e 30 fotos dos bastidores, além dos comentários do produtor John Coates e do citado Edelmann (os únicos extras não legendados do disco).
E, para infelicidade dos papais e mamães que pensavam em compartilhar a experiência de ver o filme com os filhos pequenos, não há dublagem em português – apenas em alemão e italiano, além do original, em inglês.
ARTE POP
Dirigido pelo diretor canadense George Dunning (cujo filme dos Beatles seria sua maior obra), Yellow Submarine chegou aos cinemas em 1968. Para se ter uma ideia, o já “homens” de Liverpool já tinham dado ao mundo Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967) e o “Album Branco” (The Beatles, 1968). O filme, além das quatro músicas inéditas, contou com ‘Eleonor Rigby’, ‘With a little help from my friends’ e ‘A day in the life’, entre outras.
Escrito a oito mãos - Lee Minoff, Jack Mendelsohn, Erich Segal e Al Brodax, que fez a proposta a Brian Epstein, citado no começo desta matéria -, Yellow Submarine narra a história de um paraíso colorido chamado Pepperland, que um dia é invadido pelos malvados ‘Blue Menies’. É quando entram em cena John, Paul, George e Ringo, que surgem para salvar o dia com música, humor e, claro, um submarino amarelo.
Yellow Submarine e sua narrativa repleta de pequenos interlúdios é um conto fantástico que respinga psicodelia, pop art, Andy Wahrol, Martin Sharpe e Peter Blake. Já na época chamou a atenção pela acuidade técnica - que inclui sequências em 3D e rotoscopia caleidoscópica. “Como fã de animação e cineasta, eu tiro o chapéu para os artistas de Yellow Submarine, cujo trabalho revolucionário ajudou a construir o caminho para o variado mundo da animação que nós apreciamos hoje em dia”, escreveu Lasseter.
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