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CULTURA

Kleiton e Kledir lançam novo álbum com letras de renomados escritores

 Dupla gaúcha Kleiton & Kledir conversa sobre o processo criativo de 'Com Todas as Letras'

Publicado em 26/07/2015 às 8:00

Sem dúvidas, o Rio Grande do Sul é um verdadeiro celeiro de escritores. Com essa perspectiva, a dupla gaúcha Kleiton & Kledir foi buscar as provisões para seu novo álbum, Com Todas as Letras (Pandorga/Biscoito Fino, R$ 36,90), que, além do disco, vem com um DVD com depoimentos de todos os envolvidos.

“Acredito que esse é um trabalho feito pela primeira vez nesses moldes”, aponta Kleiton em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA. “Existem muitos amigos que são compositores que pegam poemas ou textos de um escritor e transforma em letra. O que acho que existe de original nesse projeto é que nós trabalhamos com cada um dos escritores pessoalmente. Um trabalho, digamos, a seis mãos”.

Cada um com seu gosto musical e perspectiva temática, a dupla escalou várias gerações da literatura brasileira: Caio Fernando Abreu (1948-1996), Luis Fernando Verissimo, Martha Medeiros, Fabrício Carpinejar, Leticia Wierzchowski, Daniel Galera, Paulo Scott, Claudia Tajes, Alcy Cheuiche e Lourenço Cazarré.

O projeto é dedicado ao escritor Caio Fernando Abreu, cuja composição de abertura, ‘Lixo e purpurina’, demorou mais de duas décadas para ser concretizada. “A história toda começa com Caio, porque nós éramos amigos em Porto Alegre nos anos 70”, relembra Kledir. “Foi bem no começo da nossa trajetória (na banda Almôndegas) e da dele”.

A proposta veio naquela época, mas cada um foi pro seu lado: Caio para Londres e os irmãos para o Rio de Janeiro, onde vivem atualmente. “Volta e meia, sempre quando a gente se reencontrava, relembrávamos esse nosso sonho de fazer uma música”.

Essa vontade foi, finalmente, realizada nos anos 1990, perto da morte prematura do escritor. “Caio nunca tinha escrito uma letra”, atesta Kledir. “Viveu pela primeira e única vez a experiência de escrever uma canção”.

Guardada com carinho, a composição germinou para o disco Com Todas as Letras. “O projeto vai criando asas. Uma bola de neve que começa com uma ideia que vai indo e vai indo...”, observa Kleiton. “Cada um deles são muito ricos em termo de imaginação, um terreno muito fértil de criação. Pra nós, é muito interessante porque saímos um pouco do nosso lugar-comum. Sob um outro prisma, a questão da música popular”.

Produzido por Christiaan Oyens, o trabalho conta com a voz de Adriana Calcanhotto na música de abertura. “Ela sempre foi uma admiradora do Caio Fernando Abreu e se ofereceu pra cantar”, justifica Kleiton.

Além da cantora gaúcha, o CD tem as participações especiais de alguns dos letristas de primeira viagem, que também são músicos, como Daniel Galera que acompanha, na guitarra, a faixa ‘Vinte e oito escovas de dentes’.

“Com o Galera, a história foi um pouquinho diferente. Por ele ter sido músico uma época, ele tinha umas composições que eram disponibilizadas no MySpace”, explica Kleiton. “Eu escutei uma daquelas músicas e uma delas me encantou muito. A partir dessa música dele, desenvolvi um novo tema”.

Já Luis Fernando Verissimo já havia tocado com a dupla no festival Planeta Atlântida (RS), “uma espécie de Rock in Rio lá do Sul”. O escritor divide a autoria e o som do sax da música ‘Olho mágico’.

Kleiton observa que o projeto ficou multifacetado por não ter uma imposição musical da dupla. “Ele não tem uma unidade composicional porque a proposta inicial é exatamente contrária”, afirma. “Fazer com que cada um deles expressassem seu gosto musical. Verissimo, por exemplo, gosta de jazz, de Jobim... Falava muito no Duke Ellington”.

Sem instrumentos, outra participação é a declamação de Paulo Scott na faixa ‘Rochas’, que tem uma levada do rap.

Dentro dos estilos tão variados, os irmãos falam que conseguiram dar uma unidade ao trabalho na parte instrumental e de arranjos.

Outro exemplo é o lado mais roqueira da Martha Medeiros na música ‘Pingos nos is’. A escritora falava muito em certos quatro rapazes de Liverpool. “Foi muito fácil fazer um tema de Beatles porque eu sou daquela geração”, conta Kleiton.

Sobre o momento solitário de criar – seja uma letra de música ou obra literária –, Kledir acha que a atividade musical puxa mais pelo lado de parceria. “Eu brinco dizendo que temos uma promiscuidade criativa”, analisa. “Estamos acostumados a um mexer nas coisas dos outros, tanto na hora de compor, como na hora de fazer um arranjo pra gravar. A música é algo mais coletivo”.

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Jornal da Paraíba

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