POLÍTICA
Amigo de Lula assume pagamentos a Delcídio, mas nega obstrução à Lava Jato
À época dos repasses, ex-senador chegou a ser preso em pleno exercício do cargo.
Publicado em 10/03/2017 às 16:36
O pecuarista José Carlos Bumlai confirmou nesta sexta-feira (10) que seu filho, Maurício Bumlai, fez dois repasses de R$ 50 mil ao ex-senador Delcídio do Amaral, mas negou que o dinheiro tenha qualquer relação com a compra do silêncio do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró.
Na ação em que prestou depoimento nesta sexta-feira, Bumlai é réu junto com Delcídio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o banqueiro André Esteves e mais duas pessoas, todos acusados de buscar obstruir as investigações da Operação Lava Jato, ao tentar impedir que Cerveró assinasse um acordo de delação premiada com a Justiça.
Amigo de Lula, o pecuarista, que já foi condenado a nove anos de prisão na primeira instância em outro caso da Lava Jato, cumpre prisão domiciliar em São Paulo. Ele foi interrogado, por videoconferência, nesta sexta-feira (10) pelo juiz Ricardo Soares Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília.
Bumlai confirmou que Delcídio de fato falou sobre uma possível delação de Cerveró em uma conversa que teve em 2015 com seu filho, Maurício Bumlai, mas este teria recusado qualquer envolvimento com o assunto.
“Ele [Maurício] falou [que] não, que não ia fazer isso, porque não tínhamos nada a ver com Nestor Cerveró. Depois, ele [Delcídio] voltou e pediu ajuda em caráter pessoal. Para manter o padrão de vida que ele tem, não era com salário de senador”, disse pecuarista.
“Inicialmente o pedido foi R$ 50 mil, e ele [Maurício] deu. Aí teve um segundo pedido de mais R$ 50 mil, e ele deu também, e é só”, afirmou Bumlai, reiterando que as quantias foram entregues por seu filho somente para manter uma boa relação com o então senador, cujo poder poderia prejudicar os negócios da família.
O pecuarista negou qualquer envolvimento com Cerveró, com quem não tinha nenhuma relação antes do ex-diretor da Petrobras ser preso, em 2015. Os dois dividiram uma cela por quase um ano na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. “Se eu tivesse que pedir alguma coisa, teria pedido ali”, disse Bumlai, que classificou a acusação de "absolutamente mentirosa".
À época dos repasses, em 2015, Delcídio chegou a ser preso em pleno exercício do cargo de senador, acusado de tentar montar um esquema para impedir o acordo de colaboração de Cerveró com a Justiça. Ao Conselho de Ética do Senado, no processo que resultaria na cassação de seu mandato, Delcídio disse que encaminhou R$ 250 mil dados por Bumlai ao ex-diretor da Petrobras a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em depoimento anterior no mesmo caso, Bernardo Cerveró, filho de Nestor, admitiu ter recebido dois repasses de R$ 50 mil de Delcídio, a título de “ajuda à família”. Segundo Bernardo Cerveró, o então senador chegou a pedir que seu pai não celebrasse acordo de delação premiada.
Na próxima terça-feira (14), às 10h está marcado o depoimento de Lula no caso. O advogado do ex-presidente confirmou que ele comparecerá à audiência.
A Agência Brasil entrou em contato com a defesa de Delcídio do Amaral, que não quis se manifestar.
Comentários