VIDA URBANA
Projeto de um futuro melhor
Atuando em 78 escolas de Campina Grande desde 2010, o 'Mais Educação' atende quase 800 crianças de famílias carentes.
Publicado em 16/03/2014 às 8:00 | Atualizado em 18/07/2023 às 14:32
Colegas de sala de aula, Israel Emanuel Ventura, 8 anos, e Gabriel Lira da Silva, 10, também têm histórias de vida muito parecidas. Os dois são filhos de catadores e foram ensinados a ajudar na renda de casa desde muito cedo.
Para eles, que sonham em ser policiais no futuro, a participação em um projeto social faz toda a diferença. Ambos participam do 'Mais Educação', que está em pleno funcionamento, desde 2010, em 78 escolas municipais de Campina Grande. Como eles, mais de 780 crianças também praticam diversas atividades no contraturno das aulas regulares.
Com os livros abertos, os alunos, aos poucos, estão aprendendo que as palavras são um início de um mundo de oportunidades.
De manhã, eles estão na sala de aula e, no turno da tarde, praticam outras atividades que alimentam o corpo e o espírito infantil.
Israel contou que a família fez questão de que ele participasse do projeto, como garantia de que, no futuro, ele não precisará catar materiais recicláveis para sobreviver e sustentar uma família.
Conforme o avô do menino, Irenaldo Paes, a família, formada por cinco pessoas, sobrevive com um salário mínimo por mês.
“É difícil e a nossa intenção é de que ele possa melhorar nos estudos e não precise ficar de casa em casa, catando material. Só esperamos que ele faça sua parte”, disse.
O menino contou que cata material, agora, somente para acompanhar a avó. “Quando não tem aula, eu vou com ela para ajudar, mas ela não quer. Eu gosto de ajudar, mas prefiro ficar na escola, brincando”, disse Israel que, com 8 anos, ainda está aprendendo a ler. “Esse é a minha maior vontade”, frisou.
Juntos na mesma sala de aula e no terceiro ano do Ensino Fundamental, Israel e Gabriel são meninos esforçados e que estão aprendendo que, para ter um futuro diferente, basta apenas que sejam crianças e que tenham uma boa educação, lazer, cultura e esporte, além de um convívio social digno.
Gabriel ainda não conseguiu deixar completamente o trabalho de lado. Ele contou que recolhe material reciclável durante a semana e que acorda às 5h, todos os dias. No domingo, ele está a postos desde cedo na Feira da Prata, carregando a feira dos clientes.
“Eu consigo tirar até R$ 30. Parte eu dou para minha mãe e a outra parte eu fico pra comprar alguma coisa que quero ou ir à lan house. Eu gosto de trabalhar, mas tenho que estudar mais porque quero ser policial”, contou ele, em meio a um sorriso discreto.
Os dois colegas estudam na Escola Municipal Professora Francisca Zena Brasileiro, no bairro do Centenário, onde estão matriculados 217 alunos, sendo que 100 deles participam do Projeto Mais Educação.
Segundo a diretora da escola, Joselma Cunha, são mais três horas e meia no contraturno de atividades na horta do colégio, no laboratório de informática, na prática de capoeira, de judô e em outras atividades pedagógicas.
De acordo com ela, 89% dos alunos são crianças, filhas de famílias carentes, muitas catadoras de materiais recicláveis.
“O projeto possibilitou o aprendizado, além da sala de aula. As crianças têm a oportunidade de praticar outras atividades e escapar de situações críticas”, informou.
Para a secretária adjunta de Educação do município, Iolanda Barbosa, o projeto possibilita uma multiplicidade de saberes para o processo de aprendizagem da criança.
“O projeto é extremamente importante, porque ele traz a oportunidade de uma garantia de direitos fundamentais. A educação em tempo integral é um enfrentamento do próprio Estado no combate ao trabalho infantil, no combate à exploração de crianças e adolescentes, porque ele prepara a escola para cuidar da criança, não apenas no direito a aprendizagem, mas de uma proteção integrada dentro de um desenvolvimento humano”, afirmou.
PROJETO NO JEREMIAS PERDE A FORÇA
A importância de um projeto social se reflete na mudança de vida de quem participa, principalmente quando os beneficiados são crianças que convivem com riscos diários, como as drogas e a criminalidade.
Um importante projeto, o Frutos da Arte, que chegou a atender cerca de 200 crianças do bairro do Jeremias, em Campina Grande, não resistiu à falta de apoio e acabou reduzindo o número de oficinas oferecidas, passando de dez para apenas uma.
O bairro do Jeremias é um dos mais populosos da cidade e o projeto estava mudando a realidade de crianças entre 8 e 12 anos de idade através da arte, retirando os meninos e meninas da rua para afastá-los dos riscos sociais.
Conforme um dos idealizadores, o artista plástico Kleber Oliveira, eram oferecidas dez oficinas de artes, como música, técnica vocal, mosaico, desenho, grafite urbano, dança, capoeira, judô, artes plásticas e artesanato.
Atualmente, apenas a oficina de música, com instrumentos musicais, resistiu à falta de apoio e, das 200 crianças, apenas 20 continuam no projeto, aprendendo a tocar violão, baixo, teclado e bateria.
“A gente começou o projeto com a cara e a coragem. Todo o material foi comprado com nosso dinheiro, mas não temos mais condições de manter tudo sozinhos. Não tem como tirar do bolso da gente, porque o material é muito caro. Muitas pessoas prometeram nos ajudar com doações, mas até agora nada aconteceu”, lamentou.
FUTEBOL AMERICANO QUER ATRAIR CRIANÇAS
Um projeto diferenciado e que pretende mexer com o corpo e mente de muitas crianças está sendo idealizado pela equipe de Futebol Americano 'Tropa Campina', composta por 60 atletas.
A expectativa, segundo o "linebacker", ou jogador da defesa do time, Thiago Lacerda, é de iniciar o projeto intitulado 'Flagboll' com dez crianças, em parceria com a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande. A intenção é distanciar as crianças de situações de risco social através da prática do esporte, que ainda é novidade na cidade.
“Qualquer tipo de esporte faz com que o ser humano evolua. E o Futebol Americano também forma homens e mulheres de bem, através da disciplina, da concentração, do lazer e ainda contribui com a saúde física e mental”, informou.
Ele explicou, ainda, que o projeto, por ser esta uma modalidade do esporte onde não há combate físico, deverá ser realizado na sede da UEPB, no departamento de Educação Física, localizado no bairro de Bodocongó.
“Ainda não temos um dia específico para o início, mas queremos colocar em prática este ano e os nossos próprios atletas serão os instrutores das crianças, que poderão participar a partir dos 6 anos de idade”, informou.
O atleta também disse que a parceria acontece com a UEPB, já que o espaço da instituição também está sendo disponibilizado para os treinamentos da equipe. “As crianças não precisarão se preocupar com o material, que será disponibilizado por nós e pela UEPB”, frisou.
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