Violino popular brasileiro

Quem foi à Igreja São Francisco, na estreia da Mostra Internacional de Música de Olinda (Mimo) em João Pessoa, na noite de 2 de setembro de 2009, pôde conferir o talento do jovem violinista paulista Ricardo Herz. Herz fez sua estreia na Paraíba ao lado do renomado Didier Lockwood, seu professor na França.

Depois de dez anos entre Estados Unidos e França, Herz está de volta ao Brasil e acaba de lançar um novo CD – o quarto da carreira. Aqui é o Meu Lá (Scubidu Records, R$ 19,90) é um disco autoral de 12 faixas em que Herz explora a faceta popular do violino, passeando por sonoridades que vão do jazz europeu ao forró brasileiro.

“O título saiu de uma canção minha com (o compositor) Ricardo Teté, mas que acabou não entrando no CD quando a gente resolveu fazer um disco só instrumental”, comenta Herz, por telefone. “O ‘lá’ (do título) tem três sentidos: tanto o ‘lá’ que lembra ‘lar’, como ‘lá’ advérbio de lugar, como ‘la’, a nota musical”, explica.

A carreira de Ricardo Herz parte do aprendizado do violino em meio a música clássica, jazz e até choro para desaguar em um grupo de forró na França do qual ele fez parte por oito anos, a Orquestra do Fubá.

“Quando eu comecei a tocar nessa banda de forró na França, eu me inspirei muito no Siba (rabequeiro, ex-Mestre Ambrósio)”, revela, para arrematar: “No grupo, o resfôlego da sanfona a gente imitava com o violino e o cavaco”.

Ricardo Herz morou na França durante pouco mais de 8 anos, depois de um ano estudando na conceituada Berklee College of Music, em Boston (EUA). Entre idas e vindas ao exterior, acabou sendo agraciado com o Prêmio Visa de Música Brasileira – Edição Instrumental.

“Aqui é o Meu Lá é um disco de composição. Daí vem tudo na cabeça, toda bagagem vem à tona”, comenta. E que bagagem! O disco revela que as influências de Herz passam, além do jazz, do choro e do forró, por sonoridades árabes, africanas (como o maghreb) e ate o gaúcho chamamé. “A França tem muita influência da Tunísia, do norte da África, de maneira geral. Eu tive bastante contato com esse tipo de música lá”.

Aqui é o Meu Lá é creditado ao Ricardo Herz Trio, que além do violinista conta com o baterista e percussionista Pedro Ito e o violonista Michi Ruzitschka e conta com várias participações, como o violonista Danilo Moraes, a clarinetista Joana Queiroz, o percussionista Lucas dos Prazeres e a rabequeira Renata Rosa.

Das 12 faixas, há apenas uma versão: ‘Odeon’, clássico de Ernesto Nazareth que Herz emplacou com o desafio de torná-la um choro dançante.

“Um dia eu falei com Dominguinhos que procurava algo novo para a música”, prossegue o violinista. “Ele me respondeu que eu não tinha que ficar inovando. O importante, disse ele, era fazer uma música bonita. Então, mesmo quando eu faço um compasso mais experimental, eu acho que tem que ter uma comunicação direta com o público”.

Egberto Gismonti, Hermeto Paschoal, Yamandú Costa, Hamilton de Holanda e o próprio Dominguinhos são influências declaradas do disco. “Eu percebi que as músicas que eu mais gostava deles eram as músicas que tinha uma melodia, que eu saia cantando”, comenta Herz. “Cada composição veio de uma inspiração diferente. O disco tem dois forrós, um choro, um chamamé... As melodias são alegres e têm uma simplicidade vinda da canção popular. A ideia é que o publico possa sair cantando”, arremata.