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CULTURA

"São 50 anos de acúmulo", diz Toquinho sobre carreira

Embora tenha trajetória marcante na música, artista busca se manter em plena atividade.

Publicado em 25/01/2017 às 19:00

“A gente pode conversar, mas pode ser rápido? É que eu ainda nem almocei”. Eram 18h45. Apesar de estar cansado e com fome, Toquinho foi solícito e simpático. Vestia uma camiseta preta e jeans, visual simples que contrastava com o cenário escolhido para a entrevista – o terraço de um hotel elegante com vista para o mar no bairro de Manaíra, em João Pessoa. Cumprimentou todos, sorriu e sentou-se com seu violão, velho companheiro e instrumento de trabalho.

>>> Jovens se divertem analisando a letra de 'Aquarela' nas redes socias

Antes de falar com o JORNAL DA PARAÍBA, esperou. Cinco, dez, quinze, vinte minutos. Era por causa de uma entrada ao vivo na televisão, acertada previamente para divulgar o show ao lado de João Bosco, realizado na capital paraibana no último sábado (21). Enquanto isso, fazia o que mais gosta: dedilhava acordes de standards e outras canções famosas. As cordas do violão traziam à tona sucessos que iam de Beatles até composições clássicas, como as de Bach. Isso diante dos olhos de poucos hóspedes, alguns funcionários do hotel e equipes dos veículos de comunicação.

Seu pequeno público naquele instante estava deslumbrado. Com celulares nas mãos, corriam para registrar o momento único. Já Toquinho continuava tranquilo. O cansaço e a fome nem transpareciam em seu rosto, cuja expressão era amigável. “Vamos entrar no ar”, avisou um dos técnicos da emissora. Sem rodeios, ele respondeu calmamente as perguntas sobre o show durante a transmissão e cantou um de seus maiores hits, 'Aquarela'.

Ainda faltavam mais alguns segundos para terminar o telejornal. “Você pode cantar mais uma música enquanto a gente encerra?”, perguntou a repórter. Toquinho balançou positivamente a cabeça e tocou outra canção. Na tela, os créditos subiam embalados pela voz do artista, que mantinha o sorriso, mesmo quando sua imagem já não era mais exibida. Quase uma hora depois, ele estava livre – ou quase. Sem se levantar, olhou para nossa equipe, como se quisesse mostrar que lembrava do compromisso.

Câmera a postos, iluminação ligada. Toquinho ouvia atento a pergunta sobre como era ter 50 anos de carreira, completados em 2016 – ano em que o artista também comemorou o 70º aniversário. “Quando eu olho para trás, chega a dar um pouco de medo de tudo o que foi feito, dos mais de cinco mil shows, todas as canções, parcerias”, conta. “Mas foi feita uma coisa por vez, um degrau por vez. Não são 50 anos de exepriências, são 50 anos de acúmulo, que estão resultando em cada acorde que eu toco”, acrescenta.

A todo vapor

Para alguns, cinco décadas de atividade artística poderia representar a oportunidade de finalmente desacelerar e ter sossego. Toquinho, em compensação, faz questão de ficar distante desse pensamento. A despeito da trajetória bem sucedida na MPB, ele gosta de se manter ativo, tanto compondo ou lançando álbuns, quanto viajando em turnês ou produzindo jovens artistas. Um exemplo é a dupla paraibana Papa Mute, que teve o primeiro disco sob a direção musical dele – uma estreia e tanto.

“Eu e meu irmão estávamos em um restaurante de São Paulo e ele, que conhecia meu tio, estava na mesma mesa que a gente”, lembra Rodolfo Salgueiro, que integra o duo ao lado do irmão Pedro Chico. “No lugar, tinha um piano e assim que ele soube que éramos músicos, pediu que tocássemos alguma coisa. Foi quando ele disse que iria produzir o nosso disco. Só que ali, no calor do momento, a gente levou na brincadeira”, continua.

Poucos dias depois, a dupla recebeu uma ligação que confirmava a intenção de Toquinho. Pelo telefone, ele já indicava um estúdio para que as gravações começassem e dava recomendações iniciais. “A gente não tinha pretensão de gravar nem tão cedo, não tínhamos um projeto em vista. Mas com a vontade dele de produzir, a gente se empolgou”, menciona Rodolfo, frisando que, durante o processo, Toquinho foi “um professor”. “Ele me deu novas perspectivas de como cantar”.

Nova geração de fãs

“Numa folha qualquer, eu desenho um sol amarelo”. Os versos de 'Aquarela', lançada por Toquinho em 1983, já se tornaram praticamente um hino infantil. Usada, inclusive, em salas de aula, a música vem, segundo ele, ampliando a cada ano sua legião de fãs, que permanece rejuvenescida pelo fascínio que a composição traz. E a obra de Toquinho para as crianças, como ele mesmo observa, não se restringe somente a essa canção: ao todo, foram quatro discos e quatro especiais de televisão produzidos exclusivamente para esse público.

“Eu tenho uma coisa que talvez seja única na música brasileira, que é o lado infantil”, ressalta. “Hoje, uma mulher ou um homem de 50 anos cresceu com as canções infantis. [Agora] são duas gerações ou três que estão passando e as canções estão ficando. E eu fico sendo lembrado por esse pessoal que vai crescendo e pelos filhos deles”, analisa ele, que se diverte ao saber que volta e meia surgem nas redes sociais publicações questionando suas letras, como a de 'Aquarela', que diz que “com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo”.

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Jornal da Paraíba

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