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VIDA URBANA

Idosas de instituto comemoram dia das mães longe dos filhos

 Algumas delas chegam a depositar o amor de mãe em bonecas, por não terem mais contato com os filhos.

Publicado em 14/05/2017 às 10:00

Nalse Andrade, de 73 anos, teve três filhos - dois homens e uma mulher. Casou antes dos 20 anos e o relacionamento com o marido foi bastante conturbado. Natural de Coremas, no Sertão do Estado, foi morar em São Paulo com a família e depois o marido voltou para a Paraíba, desta vez para morar em Campina Grande com outra mulher. Após a separação, dona Selminha, como prefere ser chamada, teve seus sonhos de construir uma família chegarem ao fim. Ao contrário do que sonhava, hoje as únicas companhias que tem são colegas com histórias parecidas, no Instituto São Vicente de Paulo, que abriga idosos.

Ao falar dos filhos, nenhum receio. Um deles mora em Campina, outro em São Paulo e a filha morreu há alguns anos, mas dona Selminha recebe poucas visitas do filho que mora perto. Chegou a morar um tempo com o filho mais velho, mas por causa de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ficou com os movimentos das pernas comprometidos e teve que ir para o abrigo. Com tantos obstáculos enfrentados, dona Selminha afirma que a data mais difícil de sua vida é o dia das mães, quando espera ao menos um abraço carinhoso do filho que mora em São Paulo, que não vê há 5 anos.

Considerando-se uma mulher bastante religiosa, consegue suprir a falta de carinho e aconchego de uma família nas orações diárias que faz. “Os meus filhos sempre foram muito bons para mim. Eu sempre tive toda a afetividade do mundo com eles, mas aqui na Paraíba eu só não estou caída no abandono total por causa do São Vicente, que me acolheu. Eu sinto falta daquele dia que eu passava com minha família. Minha mãe morava perto. A gente fazia uma almoço, levava presente e também ganhava. Sonhar com o impossível é demais, mas se meu filho chegasse seria um prêmio grande”, afirma dona Nalse sobre a comemoração do dia das mães.

Na falta de um filho o amor é depositado em uma boneca

Terezinha Rodrigues, de 83 anos, é mãe de cinco filhos, mas não tem nenhum deles por perto. Por causa do alcoolismo, teve que colocar todos para a adoção. O vício também resultou em problemas de saúde, inclusive na dificuldade de lembrar do que já viveu. Quando chegou ao instituto, há quatro anos, ganhou uma boneca de presente. A partir dai a batizou de Maria Aparecida, ou simplesmente 'Cidinha', e começou a nutrir um carinho por ela, chegando a chamá-la de filha.

A maior felicidade que teve nos últimos anos, foi o contato com um dos filhos que informou estar morando em Brasília. A partir de uma fotografia divulgada na internet, dona Terezinha foi reconhecida, mas o único contato que teve com ele foi por telefone. A espera agora é de uma visita que o filho já prometeu fazer. “Se ele chegasse aqui eu dava um abraço nele e dizia que tava com muita saudade”, disse a idosa.

Enquanto não sabe sequer como seria o abraço de um filho, dona Terezinha se dedica cuidando da boneca Cidinha. "Maria Aparecida (a boneca), não me dá muito trabalho não. O único trabalho é pra dar banho nela porque ela não gosta muito. Ela também dorme muito e isso é sinal que tem muita saúde", brincou dona Terezinha.

O sentimento de uma mulher que não pôde ser mãe

Ao contrário das colegas do instituto, Maria do Carmo, de 89 anos, teve que suportar o duro destino de não ter conseguido ser mãe. Casou e criou os filhos que o esposo já tinha de outro relacionamento, mas hoje não tem ninguém com laços familiares mais próximos. Acredita que se tivesse sido mãe, não estaria morando em um abrigo e a vida teria sido diferente.

Antes de ser acolhida no instituto, Maria do Carmo morava com uma sobrinha em Campina Grande, mas conta que a convivência não era boa. A decisão de sair da casa da parente e ir para o abrigo foi dela mesma. “Tive uns problemas e pedi para vir pra cá”, conta, acrescentando que gosta de como é tratada no instituto.


Sobre os filhos que criou, a idosa afirma que ainda mantem contato com um deles, morador da cidade de Queimadas, na região de Campina Grande. O outro, segundo dona Maria, mora atualmente no Recife e não tem muita proximidade com ela. “O que mora aqui perto eu sempre tenho notícias dele. Ele me visita. Mas sinto falta do carinho de um filho. Se eu tivesse sido mãe, talvez estivesse morando com uma família cheia de netos e bisnetos", disse emocionada.

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Jornal da Paraíba

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