CULTURA
200 anos de solidão
Explorando a memória do interior paraibano, diretor e roteirista Ramon Batista lança seu segundo documentário, 'Capela'.
Publicado em 05/11/2013 às 6:00
Uma visão lírica sobre a memória do interior paraibano através das reminiscências de uma senhora de 90 anos e um sítio de 200 anos.
Esse é o mote de Capela, o segundo documentário de Ramon Batista. “Fala um pouco da viuvez, velhice e solidão”, explica o realizador. “Costuro o curta-metragem com dois personagens: dona Marilita Maciel e a casa”.
De acordo com o diretor e roteirista, o sítio Águas Belas fica a 22 km de onde ele vive, o sítio Caiçara, em Nazarezinho, Alto Sertão paraibano. “Conheci o lugar através de um amigo. Quando visitei o sítio, senti que a casa me fez um convite para filmá-la”, afirma.
Segundo Ramon Batista, freiras que viviam em um convento em Cajazeiras se mudaram para o sítio a convite de um irmão, por volta dos anos 1930. Como o local é distante de uma igreja, elas resolveram criar uma capela, onde até os dias de hoje são realizadas atividades religiosas, principalmente em maio, o chamado ‘Mês de Maria’.
“O local tem muitas outras histórias também”, aponta o realizador. “Já chegou até a ser invadida por cangaceiros”.
Muitas desses casos ganham voz nas memórias de dona Marilita, que residiu por 65 anos na fazenda e atualmente mora em João Pessoa. “Ela nunca foi ao cinema. Jamais imaginou ainda que fosse se transformar em uma personagem de cinema”.
Na fase de pós-produção, Capela será montado este mês e tem previsão de lançamento para janeiro. “Haverá um lançamento no sitio e outro em João Pessoa”, confirma.
LUTA
“Eu me preocupo muito com a memória da minha região”, atesta Ramon Batista.
Seu primeiro documentário, Fogo-Pagou (2012), mostra um cemitério abandonado e suas histórias contadas pelos moradores da redondeza. A produção ganhou 14 prêmios pelo país, dentre eles a 23ª edição do Festival Internacional de Curtas de São Paulo.
Recentemente, o documentário foi selecionado para o 8º Fest Aruanda, em João Pessoa. “Fogo-Pagou abriu janelas para mim. Fui para os festivais, conheci pessoas e ampliei meu conhecimento sobre o cinema”.
Ramon também é colecionador de objetos antigos. Confessa que seu sonho é montar um museu para conservar a memória sertaneja, assim como os seus curtas. “Temos que incentivar as pessoas a lutar pela preservação”.
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