ECONOMIA
Salário médio da indústria criativa tem segunda maior alta na Paraíba
Músicos têm a pior remuneação dessa categoria; esse profissionais são os que possuem os salários mais baixos, com uma renda média de R$ 951,00.
Publicado em 09/02/2015 às 9:00 | Atualizado em 22/02/2024 às 19:38
A Paraíba foi o Estado que registrou o segundo maior crescimento na remuneração real dos profissionais da indústria criativa do país na década de 2004 a 2013. A média salarial dos criativos no Estado passou de R$ 1.839,00, em 2004, para R$ 3.046,00, em 2013, o que representa uma alta de 65,6%. A elevação foi maior do que a média nacional, que ficou em 25,4%. Apesar disso, a remuneração média do Estado ainda é a terceira mais baixa do país, ficando à frente apenas do Piauí (R$ 2.934,00) e do Ceará (R$ 2.853,00).
Os dados constam no Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). A Indústria Criativa abrange quatro grandes áreas e suas subdivisões: Consumo (Publicidade, Arquitetura, Design e Moda), Cultura (Expressões Culturais, Patrimônio & Artes, Música e Artes Cênicas), Mídias (Editorial e Audiovisual), e Tecnologia (Pesquisa & Desenvolvimento, Biotecnologia e Tecnologia da Informação e Computação).
A Paraíba participa apenas com 1% do PIB gerado pela indústria criativa no país, que em 2013 era de R$ 126 bilhões ao ano, tendo crescido 69,8% em relação a 2004. O Estado tinha, até 2013, 6.818 profissionais criativos, o que equivale a 1% dos empregos do Estado. Em todo o país, a indústria criativa possui 892,5 mil profissionais, cresceu 90% em 10 anos, e atualmente representa 1,8% do total de trabalhadores brasileiros.
A área do Consumo é a mais numerosa dentre as quatro grandes áreas criativas analisadas, respondendo por quase a metade dos profissionais criativos no Brasil (47,4% do total). Na Paraíba 3.200 dos criativos são dessa área (47,2%).
A área de Cultura é a menor da Indústria Criativa em termos de trabalhadores formais, mas possui forte representação na Paraíba em termos relativos, com 13,9% de participação na Indústria Criativa do Estado. O índice coloca a Paraíba em segundo lugar em termos de representação do segmento cultural na indústria criativa do Estado, que só é maior no Piauí, com 14,8%.
Os profissionais criativos com maior renda no Estado são os de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), subárea da Tecnologia que abrange desenvolvimento experimental e pesquisa em geral, exceto biologia. Em 2013, o salário médio desses profissionais era de R$ 6.615,00. Em seguida aparecem os profissionais de arquitetura, com salário médio de R$ 6.513,00.
A grande área de Tecnologia foi a que apresentou maior crescimento nos últimos anos em termos de número de empregos. O estudo aponta 1.317 empregos na área em 2013, contra 625 em 2004, um crescimento de 110,7%. Apesar do crescimento elevado, a área de Tecnologia na Paraíba tem a menor participação do país, representando 19,3% da Indústria Criativa do Estado.
Outra área que teve destaque na geração de empregos foi a de Mídias, que cresceu 95,2%, com 1.351 vagas em 2013 contra 692 em 2004. Já a grande área de Consumo foi a que apresentou maior crescimento salarial. A remuneração média dos criativos dessa área foi de R$ 3.788,00 em 2013, contra R$ 2.041,00 em 2004, um crescimento de 85,5%.
Músicos têm a pior remuneração
Profissionais de música e artes cênicas, ambos subdivisões da área de cultura, possuem as menores remunerações. Os músicos possuem o menor salário do Estado, com R$ 951,00, que é também o segundo menor do país, sendo melhor apenas do que o do Ceará, onde os músicos recebem em média R$ 763,00. Em seguida aparecem os profissionais de artes cênicas, com um salário médio de R$ 984,00, terceira pior remuneração do país na área.
A atriz Fabíola Morais acredita que o mercado de trabalho no Estado é ainda mais restrito para os profissionais das artes cênicas do que é para os músicos. “Um músico pode tocar em bares, shows, casamentos. Tem trabalho todo fim de semana. Enquanto nós dependemos exclusivamente de bilheterias de teatro e editais de fomento”, disse.
Ela explicou que, para conseguir ganhar dinheiro extra, alguns atores também fazem animação de festas, principalmente se vestindo de palhaços para festas infantis, e telegramas animados. “Mas não é todo mundo que quer fazer isso”, contou Fabíola.
Os atores paraibanos que trabalham no cinema ainda enfrentam outro problema, que é a sazonalidade das produções. “O trabalho é sazonal, geralmente no verão, porque não se filma para cinema na chuva”, explicou.
Fabíola Morais disse ainda, que a média salarial apurada na pesquisa condiz com a realidade. “Quando estamos em cartaz no teatro é mais ou menos isso que conseguimos com a bilheteria, mas depende muito da capacidade do teatro também”, avaliou.
Devido à baixa remuneração, maior parte dos profissionais da área precisa buscar outros empregos para sobreviver, conforme explicou a atriz. “Eu mesma sou concursada como professora de teatro. Geralmente o pessoal recorre mais a esses empregos de professor, ou atua também como produtor. Isso varia muito, tem gente que vive só como ator mesmo, mas é muito difícil. Se nas outras profissões é preciso matar um leão por dia, nessa a gente tem que matar uma manada inteira”, contou.
Arquitetos aparecem como a segunda melhor renda
A arquiteta, urbanista e professora universitária Flávia Giangiulio não concordou com a média salarial dos profissionais de arquitetura apresentada na pesquisa. A média de R$ 6.513,00 seria a segunda maior da Paraíba, ficando atrás apenas da área de Pesquisa e Desenvolvimento.
Para Flávia, a média apresentada no estudo não condiz com a realidade local. “Temos o piso salarial que é estabelecido pelo CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo), mas não é seguido. Eu diria que a maioria dos profissionais recebe abaixo do piso”, afirmou. Atualmente o piso salarial para arquitetos é de seis salários mínimos para seis horas de trabalho e oito salários e meio para jornadas de trabalho acima de seis horas.
Flávia Giangiulio disse ainda que o plano de carreira estabelecido pelo CAU prevê que os arquitetos que trabalham em escritórios tenham uma progressão de arquiteto júnior para arquiteto sênior, mas isso não é cumprido. “O CAU, que é um órgão novo, está começando a fiscalizar e chegou para tentar moralizar tudo isso”, contou.
Como professora universitária, Flávia afirmou que ela e alguns outros colegas têm a preocupação de tentar melhorar a situação partindo da raiz, ou seja, discutindo com os alunos sobre os problemas éticos da profissão. Entre os percalços apontados por Flávia estão os profissionais que aceitam trabalhar ganhando menos do que deveriam. “São raros os profissionais que cobram o que é pra ser mesmo”, disse. A arquiteta e urbanista também detalhou que é possível obter uma remuneração melhor ao fazer grandes projetos. “O projeto de um prédio de dez andares por exemplo, ficaria entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, mas demora de dois a quatro meses para ser feito”, frisou.
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