Condições precárias de trabalho afastam médicos do SUS

João Paulo Medeiros
Do Jornal da Paraíba

Superlotação, falta de equipamentos e insumos para realização do trabalho. Baixa remuneração. Os problemas são comuns a muitas categorias profissionais brasileiras, mas têm atingido também a classe médica e aprofundado um ‘caos’ no Sistema Único de Saúde (SUS). Em Campina Grande, conforme as estimativas da Sociedade Médica do município, metade dos 1,1 mil profissionais que atuam na cidade já desistiram de prestar serviços através do SUS. Médicos neurocirugiões e ortopedistas ‘ameaçam’ pedir o descredenciamento do sistema e parar o atendimento nos hospitais conveniados no município.

A principal reivindicação é a reformulação da tabela proposta pelo SUS, que é federal e estaria defasada. Outras categorias como os cirurgiões toráxicos já não atendem pelo SUS na cidade há cinco anos. De acordo com os profissionais, a tabela do SUS prevê o pagamento de pouco mais de R$ 4 por uma consulta médica, cerca de R$ 110 pela realização de uma cirurgia toráxica e aproximadamente R$ 300 por um procedimento cirúrgico de ortopedia.

“O maior desafio da categoria médica é garantir aos usuários uma medicina de qualidade e uma remuneração justa. E isso não está ocorrendo devido a deficiência de financiamento e a ausência de políticas públicas efetivas para área da saúde”, defende o presidente da Sociedade Médica Campinense, Norberto José da Silva Neto.

“Os médicos estão reivindicando a introdução da tabela baseada no Coeficiente Brasileiro de Honorários Profissionais Médicos (CBHPM). E isso é preocupante porque caso eles deixem de atender nos hospitais conveniados toda a demanda vai ser encaminhada para o Regional. E pode haver um colapso, sendo necessário transferir pacientes para João Pessoa e é arriscado começar a morrer gente”, alertou Geraldo Medeiros, explicando que os profissionais que trabalham no Hospital Regional recebem por plantão, cerca de R$ 1,2 a R$ 2 mil por 24 horas de trabalho.

Há duas semanas, a denúncia feita por familiares de pacientes e funcionários de hospitais de que profissionais estariam cobrando pela realização de cirurgias do SUS, em Campina Grande, levantou novamente as discussões sobre a valorização da classe na atualidade. Enquanto isso, muitos pacientes estariam em ‘filas de espera’, aguardando pela realização dos procedimentos. No Hospital Regional Dom Luiz Gonzaga Fernandes são realizados quase 15 mil atendimentos por mês e uma média superior a 400 cirurgias gratuitamente, segundo o diretor da unidade, médico Geraldo Medeiros.

Com a mãe de 91 anos doente, a agricultora Valdeci Bezerra Costa, de 61 anos e moradora da cidade de Pocinhos, no Brejo do Estado, demonstra bem a problemática. “Minha mãe está doente, muito possivelmente por conta da idade. Mas aí trouxe ela para cá pra ela passar no médico”, contou a agricultora, sem saber que no caso de sua mãe a consulta não deveria ter sido realizada no Hospital Regional campinense.

Para evitar o descredenciamento dos médicos, a secretária de Saúde campinense, Tatiana Medeiros, informou que já está se reunindo com os profissionais para buscar soluções. “A tabela é federal, não tendo dessa maneira nenhuma relação com a gestão municipal. Mas mesmo assim estamos tendo uma postura proativa e discutindo com todas as categorias, dentro de nossos limites financeiros”, frisou.