COTIDIANO
Denúncia de regalias
Após morte de colega, monitores do CEJ denunciam falta de segurança e benefícios para jovens infratores.
Publicado em 03/03/2012 às 6:30
A morte do monitor do Centro Educacional do Jovem (CEJ), em João Pessoa, Edson Fernandes Mota, de 53 anos, durante o resgate de dois internos da instituição na última quinta-feira, desencadeou uma série de denúncias feitas por funcionários da instituição. Conforme os monitores a morte já era esperada tendo em vista que os monitores não têm segurança. Eles afirmam ainda que os jovens que cumprem medida socioeducativa recebem benefícios como celulares e drogas, mesmo estando reclusos.
O assassinato do colega de trabalho causou revolta em todos os funcionários, que afirmam ser heróis. “Estamos desprotegidos.
Nós trabalhamos com adultos infratores, de alto grau de periculosidade e nós não portamos sequer uma arma letal. Eles se agrupam em alas e armados com espetos nos ameaçam de morte. Nós enfrentamos eles apenas com o corpo, correndo risco de vida”, disse um monitor que preferiu não se identificar.
O monitor Edson Mota foi assassinado com um tiro na cabeça e outro no tórax quando retornava ao CEJ, após levar dois internos para uma consulta médica sem o apoio de uma guarnição da Polícia Militar . De acordo com a polícia, a poucos metros do CEJ, o veículo em que estavam o monitor e os dois internos, foi interceptado por um Chevrolet Celta, de cor preta no qual estavam quatro homens armados que resgataram os internos e efetuaram vários disparos contra o monitor.
A vítima era casada e pai de dois filhos. Os monitores lamentaram a morte e afirmaram que o transporte dos internos é feito diariamente, sem apoio policial. “Nós sempre levamos os internos no carro da Fundac sem escolta policial para consultas médicas e audiências. Já tentamos realizar uma reunião com a direção do centro e com a presidente da Fundação de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente (Fundac) para que houvesse um esquema de segurança nessas transferências, mas eles não deram atenção,” afirmou o monitor.
Os funcionários do CEJ denunciaram ainda que são frequentemente agredidos pelos internos e coagidos pela direção da instituição a não registrar o caso da delegacia. “No último sábado houve um princípio de rebelião no CEJ e os funcionários que estavam de plantão tiveram que controlar a situação porque a direção não permite que a polícia entre na instituição, provavelmente para não ver as regalias que os internos dispõem, como DVD, celulares e até drogas,” completou o monitor.
O monitor Edson Mota foi sepultado na tarde de ontem, no cemitério Senhor da Boa Sentença. Ao ser atingido pelos disparos ele foi socorrido para o Hospital de Emergência e Trauma, mas faleceu por volta das 21h da última quinta-feira. Os familiares preferiram não conceder entrevista.
PLANEJADO
A tenente Viviane, do 5º Batalhão de Polícia Militar informou que provavelmente o resgate dos internos foi planejado no interior do CEJ, já que os internos têm acesso a celulares. “Como pode um veículo funcional que vai fazer a transferência de presos algemados, maiores de idade não contar com uma escolta policial solicitada pela direção? Era uma tragédia iminente,” afirmou a militar.
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