VIDA URBANA
Gado Bravo pena com pior índice de desenvolvimento
Moradores de Gado Bravo sofrem com pouca oferta de emprego e difícil acesso à saúde e à educação.
Publicado em 01/09/2013 às 8:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 16:55
“O sustento do meu filho vem dos R$ 142 que recebo do Bolsa Família. Além disso, na minha casa, onde vivem cinco pessoas, só temos a renda do meu pai, que recebe R$ 712 de uma pensão da minha mãe. Se não fosse isso, não teríamos renda fixa, pois meus dois irmãos fazem pequenos bicos”, declarou Lidiane Gregório da Silva, 22 anos, mãe de um menino de 3 anos. Assim como ela, outras 1.620 famílias do município de Gado Bravo, no Agreste paraibano, tem como única fonte de renda declarada o valor que recebem do programa Bolsa Família.
Cidade que, conforme dados divulgados este ano pelo Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento no Brasil (PNUD), obteve em 2010 o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,513, considerado o mais baixo da Paraíba.
Gado Bravo é um município onde, segundo a população, tudo funciona de forma precária. Segundo dados de 2010, Gado Bravo ocupa a 5490ª posição em relação aos 5.565 municípios do Brasil. Conforme os dados, 98,63% municípios do país estão em situação melhor e apenas 76 (1,37%) estão em situação igual ou pior.
Os números divulgados pelo PNUD, calculados com base nos números obtidos pelo Censo Demográfico de 2010, revelam que dos três indicadores que compõem o cálculo do IDHM – Educação, Longevidade e Renda -, este último foi justamente o que obteve menor percentual de evolução quando comparados os números de 2010 com os dos censos anteriores, realizados em 1991 e 2000.
Por falta de atividade econômica sólida, que não seja o comércio ou o trabalho no serviço público, muitos moradores, assim como ocorre na família de Lidiane, vivem com o dinheiro que recebem do Bolsa Família ou com aposentadorias dos idosos com quem moram, complementando a renda com trabalhos temporários e pequenos serviços. Conforme os dados do IDHM, o percentual de formalização das pessoas que tem alguma ocupação caiu de 12,40% em 2000 para 11,83% em 2010.
Quando viver com uma renda pequena passa a ser motivo de insatisfação, a opção encontrada por muita gente é tentar a vida em cidades maiores e mais distantes. Atraídos pelo desejo de ganhar melhor, dois dos seis filhos de Inácio Barreto, 62 anos, deixaram Gado Bravo e foram tentar a vida no Rio de Janeiro e em Pernambuco.
Segundo Inácio, eles decidiram viajar para procurar em outros lugares o emprego que não encontraram em Gado Bravo.
“Depois que foram embora, eles não mais quiseram voltar. Meu filho, que está no Rio há 10 anos, conseguiu emprego e disse que não volta para cá. Já minha filha, de 16 anos, arrumou um namorado e decidiu ir morar com ele há alguns meses em Pernambuco para tentar construir a vida por lá”, contou.
Morando com a mãe, os outros quatro filhos e a esposa, que trabalha como professora e ajuda no sustento da família, o idoso se prepara para se despedir em setembro de outro filho que também decidiu tentar a vida no Rio de Janeiro. Apesar da mudança dos filhos, o idoso conta que não pensa em deixar a casa em que mora, no Sítio Boa Vista, zona rural de Gado Bravo.
“Apesar de difícil, minha vida está toda aqui. Mesmo vendo meus filhos partirem, não quero sair daqui, é aqui que eu vou ficar até o fim da minha vida”, disse. A área rural, segundo dados do PNUD, abriga 89,16% da população, contra 10,84% que reside na zona urbana.
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