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CULTURA

Chico César comenta a polêmica em torno das biografias

"Onde há fama, o terreno é fértil para a difamação", declara o músico e secretário de Cultura da Paraíba.

Publicado em 23/10/2013 às 6:00

"Onde há fama, o terreno é fértil para a difamação", declara o músico e secretário de Cultura da Paraíba, Chico César. Em entrevista exclusiva concedida por email à reportagem, Chico expressou pela primeira vez a sua opinião sobre o tema que está na pauta de colegas como Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque: a publicação de biografias não autorizadas.

Na entrevista a seguir, publicada na íntegra, Chico César defende os artistas em seu discurso pelo direito à privacidade, mas reflete sobre a importância de mudar o eixo da discussão do ambiente artístico para o da "grande história coletiva": "Não podemos resumir isso a um papo de Candinha, a uma revista de fofocas", sublinha.

Chico fala de suas expectativas em relação à audiência pública marcada para os dias 21 e 22 de novembro, no Supremo Tribunal Federal (STF), onde a questão será discutida.

ENTREVISTA


JORNAL DA PARAÍBA - Daqui a um mês, haverá uma audiência pública em torno do tema da autorização das biografias por parte dos biografados e familiares, no STF. Quais são suas expectativas em relação ao que será discutido nesta reunião, como artista e figura pública?

- CHICO CÉSAR - Minha expectativa é de que o bom senso prevaleça para além dos interesses econômicos de editoras ávidas em escarafunchar a vida alheia para ganhar dinheiro e de pessoas bem-intencionadas na defesa de suas privacidades e na busca de garantia de alguns caraminguás na forma de royalties para os familiares. Antes de tudo, e para além de tudo, está a defesa de regras claras que valham para todos no que diz respeito ao direito à informação e expressão. A vida é de cada um, mas a história é um ponto de vista e todos têm direito a pontos de vista. O biografado pode não colaborar com o biógrafo, se assim desejar, e caso venha a se sentir ofendido deve recorrer à justiça.

- O senhor certamente deve estar a par da polaridade levantada pelo tema, entre alguns artistas da MPB e escritores e biógrafos. Sua opinião se identifica com algum desses polos? É contra ou a favor a modificação dos artigos do Código Civil que dão brecha ao que um lado chama de censura e o outro de proteção ao direito da privacidade?

- Eu me identifico com os artistas na defesa do direito à privacidade. Mas, como cidadão, defendo o direito da existência de versões sobre qualquer história - de políticos, de generais, de editores, de jornalistas, de biógrafos, de artistas. O problema aqui é que a vida dos artistas parece interessante demais, pois estes já têm um público e as editoras querem se aproveitar disso. Duvido que as editoras queiram lançar a biografia de um anônimo. E são poucas as que se aventurariam a tirar do limbo personagens merecedoras de biografias e tal. Há também poucos biógrafos dispostos a isso. Muito mais fácil é vampirizar simbolicamente e financeiramente uma vida bem-vivida, intensa e que já galvanize uma massa de compradores. E onde há fama, o terreno é fértil para a difamação.

- Há uma tendência a se colocar em foco, nessa discussão, a biografia de artistas, mas os artigos em questão abrem precedentes também para a intervenção em biografias de políticos e outras personalidades de interesse histórico. Como o senhor avalia que esse debate pode repercutir futuramente, levando-se em consideração a memória de gerações vindouras?

- Esse tempo das 'celebridades', o nosso, é mediocrizante demais. As pessoas levam uma vida pobre de significados na frente da televisão e do computador (onde tentam fazer parecer que a vida delas é bacana, no Facebook e nas redes sociais), e vivem por tabela uma vida já vazia de algumas pessoas que não fazem nada ou quase nada de tão importante assim: jogadores de futebol, modelos, dançarinas, cantores, apresentadores de TV, atrizes e atores. Tenta-se inclusive esvaziar de significado e nivelar por baixo as vidas de todos, se estiverem no ambiente do entretenimento, então, fica tudo mais fácil. Entendo que a história demanda vários olhares: seja a história de Cabo Anselmo ou das pessoas que ele traiu e entregou durante o regime militar. É importante tirar do ambiente artístico o foco dessa discussão, senão não perceberemos que é sobre a vida de todos, que é sobre a História com "H" maiúsculo: a grande história coletiva. Não podemos resumir isso a um papo de Candinha, a uma revista de fofocas.

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Jornal da Paraíba

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