Crise de identidade atinge Câmara e AL devido à mistura de gestões

Jhonathan Oliveira

A proximidade entre as gestões de Ricardo Coutinho (PSB) e de Luciano Agra (PSB) parece ter deixado a Assembleia Legislativa e a Câmara de João Pessoa em uma verdadeira crise de identidade. Nestes primeiros meses de 2011, houve uma grande confusão nas duas casas, deputados e vereadores misturaram as administrações e assuntos referentes ao Estado foram acabar na Câmara e problemas da Prefeitura foram debatidos na Assembleia. A reportagem do Paraíba1 ouviu políticos ligados aos dois governos, opositores e também um especialista para entender os motivos deste desvio de foco nas casas legislativas.

A Assembleia Legislativa tem o papel de fiscalizar o Governo do Estado e a Câmara deve fazer o mesmo junto ao poder municipal. No entanto, aqui na Paraíba desde o início da gestão de Ricardo no Executivo estadual essa regra vem sofrendo uma pequena alteração. Questões como a crise no Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa e a greve dos professores, que são de âmbito estadual, acabaram entrando na pauta do legislativo municipal. Por outro lado, as irregularidades na merenda das escolas de João Pessoa e a denúncia que um gari seria laranja em um contrato da Empresa Municipal de Limpeza Urbana (Emlur) foram motivos de calorosos debates na Casa de Epitácio Pessoa.

Deputado estadual e atual líder base governista, Hervázio Bezerra (PSDB), acha que isso faz parte do processo político. Na visão dele, a Capital concentra a maior atenção de toda a classe política e também é cidade de atuação política do governador Ricardo Coutinho, e por isso é natural que exista o debate unificado nas duas casas legislativas. “Essas razões fazem com que questões da Prefeitura sejam refletidas na Assembleia, da mesma forma que questões do Governo estão sendo discutidas na Câmara Municipal. É praticamente impossível fazer uma dissociação”, completou.

“As gestões dos dois são muito parecidas. Os atos falhos são semelhantes. Temos como exemplo a destruição do Aeroclube, feita pela Prefeitura, a demissão dos servidores do Estado, dentre várias outras ações ditatoriais”, é dessa forma que o deputado Gervásio Maia (PMDB) justifica a crise de identidade dos legislativos. De acordo com o parlamentar oposicionista, Ricardo e Luciano Agra são os responsáveis por esse debate desfocado.

Já para o vereador Bira Pereira, líder do PSB na Câmara, esse trânsito de debates entre os dois legislativos é uma estratégia das oposições para tentar desequilibrar as duas administrações. “Óbvio que as duas gestões têm problemas, que são diferenciados. Agora existem estas tentativas das oposições de tumultuar e desequilibrar as administrações”, disse.

De acordo com o cientista político Ítalo Fittipaldi a mudança de foco dos legislativos pode ser influenciada pelo fato de Ricardo e Agra representarem um mesmo grupo político. “O fato de isso não acontecer com frequência, gera sim uma influência”, disse. No entanto, ele acrescenta que esse não é o fator decisivo e o que ocorre na verdade é uma crise de representatividade.

“Isso é um exemplo claro de uma crise de representatividade. Por que vereador vai se preocupar com Estado e por que deputado estadual vai se preocupar com Prefeitura municipal? Eles representam quem afinal de contas? Estamos diante de deputados e vereadores que não representam ninguém a não ser eles mesmos”, afirmou.